Meses antes...
A chuva do lado de fora do casebre miserável ameaçava fazer cair o teto sobre as duas mulheres que estavam a centímetros uma da outra.
— Não cederei a você — Bianca adiantou encarando Mônica sem desviar os olhos dos orbes castanhos flamejantes.
— Você não tem escolha. É um chamado do sangue. É parte de quem nós somos — A mãe insistiu sem vacilar na voz diante da menina que teria que se obrigar a se tornar mulher, não poderia ser diferente.
— Não há nós, nunca houve. Sempre fui eu e Marcela, ela sim é o único sangue que eu reconheço — A mulher riu diabolicamente passando um dedo sobre a bochecha macia de sua filha, tão doce, ingênua e só por essa razão ponderou sobre se revelaria a verdade dolorosa. E terminou por decidir que sim. Era a maneira de que Bianca entendesse o porque o seu destino estava marcado com sangue e glória e não sua irmã.
— Não há como reconhecer o que inexiste. O sangue que corre em suas veias não é o que corre no de sua Marcela — A progenitora falou sem um pingo de remorso em suas palavras.
Do lado de fora daquele lugar a qual Bianca viveu por todos os seus anos de vida um trovão se manifestou impondo seu som grotesco a ponto de quase ferir os tímpanos. Fora perto, muito perto, mais ainda sim não era o maior terror de Bianca Andrade.
— Você está mentindo! Está dizendo isso para me atingir já que estou expressamente me negando a fazer o que você acha que eu tenho — A Andrade menor disse segurando o centro de seu abdômen, uma dor aguda começava a forçar contra suas entranhas, mas não fraquejaria. Soergueu os olhos e com a mão livre retirou a de Mônica de sua pele — Diga que está mentindo. Agora! — Demandou começando a duvidar no olhar que não deixava o seu.
Sabia que Mônica Andrade era dissimulada e dizia inverdades com a facilidade que respirava, mas por um maldito momento encontrou naqueles olhos uma amarga percepção: Pela primeira vez na vida parecia haver verdade, uma que a Andrade mais velha se deliciava em esfregar contra face de sua filha.
— Você pode não acreditar em mim e seria inteligente não fazê-lo, afinal, eu sempre fui a pessoa que mais mentiu para você a maior parte da sua vida. Te incentivei as piores coisas, te submeti ao mais obscuro, mas não desconsidere a verdade dos fatos. Use a lógica Bianca! Porque eu escolheria você e não ela para assumir nosso legado? Ela seria a mais velha das filhas, e portanto, a indicada independente de minha preferência! E você sabe o quão fiel eu sou a nossas raizes antes de qualquer coisa! Mas não pode ser Marcela, não pode porque ela não é uma de nós! Ela sequer parece em nada conosco nem em aparência ou jeito! — A dor se tornou ainda mais insuportável e a menor era quase impedida de respirar quando as engrenagens em sua cabeça começavam a funcionar.
Pensou no olhar doce quase claro de sua irmã que contrastava tanto com o seu que era negro e incisivo. Comparou os cabelos, os trejeitos, tudo...
Deu três passos atrás e encontrou a parede molhada atrás de si.
— Não é... — Gritou alto como um animal ferido contra a face da mulher que deu os mesmos três passos à frente ficando face a face com Bianca que estava encurralada em todos os níveis —...Verdade! — Essa parte saiu fina e quase inaudível.
— Eu roubei sua irmã. A levei dos pais quando ainda era só uma criancinha. Eu precisava levar alguma coisa embora comigo. Algo que matasse aqueles inúteis por dentro e escolhi o bem mais precioso! Marina McGowan sempre foi uma criança adorável, não foi difícil trazê-la para mim! Se quiser, e puder ouvir, eu te conto parte por parte da história. Com riqueza de detalhes... — A mulher sugeriu com um sorriso de canto assustador para a filha que batalhava para continuar respirando.
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O rugido da leoa
FanficPara viver em Santo Antônio Escondido não é necessário muita coisa. Basta que goste do clima campestre, de moda de viola e, sobretudo, entenda que nesse espaço distinto do mundo os conflitos se resolvem na ponta de uma bala, ou de uma faca se é o qu...