Capítulo 98 - Indecisões

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Pela primeira vez em anos o furacão era pura calmaria. Não falava, mal se movia e em sua cabeça rodava um turbilhão de pensamentos enquanto tentava colocar algo de comida para dentro. A sensação de encher-se de mais alguma coisa naquele instante era quase insalubre.

Queria parar de pensar e perguntar o que fazer a alguém, mas não conseguia, não com o pedido de Rafaella ecoando em sua cabeça. Era uma amiga fiel, das únicas que a leoa confiaria sua vida e por essa razão omitiria o que a mineira pedisse, um corpo até, se necessário.

— Você não é caladinha assim normalmente... — Apontou Marcela sua namorada que quase não havia tocado no jantar.

Depois da ligação de Rafa havia notado Gi de certa maneira um tanto estranha. Vinha falando pouco e parecia tão absorta que parecia quase impossível manter um diálogo com ela.

— Estou preocupada com os problemas da fazenda — Que atualmente envolviam uma Rafa encarcerada por matar um homem.

Não era como se Felipe não fosse o homem mais abjeto que conheciam. A própria Gizelly pensou inúmeras vezes como faria aquele homem sofrer até que finalmente desfalecesse, mas não conseguia não sentir a bili parar em sua garganta ao pensar sobre o fato.

Rafaella havia ido até o fim. Não só pensou, não só planejou, como ceifou a vida de Antoniazzi com as próprias mãos. Imaginar como poderia ter feito fazia a capixaba gelar, mas ainda que temesse um pouco aquilo reconhecia que fosse pelo que fosse Rafa fez porque precisava.

Não precisava ouvir detalhes. Rafaella era uma pessoa boa, sempre foi, mas depois que conheceu Bianca era ainda melhor. Pela circunstância que se apresentasse Rafa teria uma justificativa plausível para um assassinato.

Não poderia, apesar disso, ficar somente presa em suas dúvidas, do  contrário enlouqueceria, e seria ainda menos justo com Marcela que a olhava naquele momento num misto de tristeza e resignação.

— Não simples problemas, não é? — A irmã de Bianca questionou e não aguardou a contestação. Sentia que naquelas condições ou ouviria uma mentira ou teria uma resposta evasiva que não contemplaria a verdade. Era algo muito mais difícil do que Bianca informou e Gi sabia o que era. Desconfiava que sua irmã não estava ciente.

— Marcela eu... — A capixaba começou a falar, mas foi interrompida pela mão cálida da mulher em sua face. Foi acariciada e beijou aquela palma que viera tão meiga ao seu encontro.

— Eu estou bem. Me sinto segura. Se algo requer sua presença lá eu só te peço uma coisa: Volte para mim. O mais rápido que conseguir, de preferência amanhã mesmo — Marcela disse com tanto carinho que nenhuma delas foi capaz de concluir aquela conversa de outra forma se não fosse a de um beijo com gosto de uma saudade que desde já começava a surgir entre elas. Era como se já não estivessem se vendo e aquele sentimento ia tomando lugar no coração, obrigando que se traduzisse em carícias contínuas.

Se beijaram uma vez. Lábios fundindo-se, a procura quase desesperada, a ternura e a vontade disputando para ver quem se sobressaía enquanto desafiavam a vida com o tempo que aguentariam sem buscar ar. Queriam se beijar a noite toda.

— Ma... — Gi pediu quase em súplica. Sua namorada não deu-lhe ouvidos. Queria aquele toque desde que a vira novamente e não abriria mão agora que a tinha tão doce em seus braços.

Aproveitando aquela simples oscilação Marcela tomou a insegurança transformando-a em um afeto genuíno. O fez com seus lábios cálidos sobre o de Gizelly, com sua respiração falhando e principalmente com as mãos que começavam a se conhecer novamente naquela troca das almas.

O cheiro de mar ecoava pelo quarto. Paredes, teto e chão as envolvia pelo deleite que era se admirarem mutuamente nuas no escuro. Achavam-se um lindo casal, mas nunca tão lindo que o maior não fosse um corpo começando e o outro terminando o enleio.

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⏰ Última atualização: Nov 12, 2022 ⏰

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