Capítulo 91 - 1654

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Últimos capítulos...

"Reputação é uma imposição tremendamente falsa e inútil, muitas vezes angariada sem mérito e perdida sem um real motivo".

Otelo, O Mouro de Veneza, William Shakespeare

O tempo é a linha cuja história escrita. Quando essas faltam é porque o que se queria dizer cessou no que as palavras alcançariam explicar. A morte, é portanto, a escassez do que pode ser torto, sempre que a pessoa decidir viver tranquilamente, ou tortuoso, se houver a insistência por um caminho menos fácil.

O fato é que cada qual decide como conduzirá suas linhas, isso é arbítrio. E Marina, naquela manhã do mesmo ano já tinha como certo em como faria. Tomando para si seu próprio destino, sua história, estava decidida a receber Giovanna em sua casa.

Numa carta enviada há um mês a mulher dissera que estava por chegar na capital e a loira não aceitava contrariedades da parte de sua irmã mais nova quanto a presença da morena em sua casa.

O ataque que se prenunciava há cerca de quatorze anos eclodira na capital Pernambucana. Os holandeses, que um dia tentaram tomar aquela terra a força, tinha sido expulsos como animais e os que resistiram à saída terminaram mortos. Seus pais, que eventualmente viajavam para o lugar por negócios que nunca conseguiram abandonar, foram um dos atingidos. Disso tinha cerca de um mês, mesma data que recebera a carta de Giovanna, sua sorte.

Ainda abalada com aquilo procurava refúgio na possibilidade de rever a mulher da sua vida e tê-la ao seu lado não importava o que dissessem os demais, porque sabia que diriam.

Uma relação entre duas mulheres, pois mais que uma delas não dependesse de ninguém e naquela época? Soava por si só como um pedido para que fossem o assunto das rodas de fofoca da sociedade paulistana que sua irmã Mariana conhecia bem, afinal, era parte integrante.

— Você não pode fazer isso conosco, Marina. É o nosso nome! — Gritou a mais jovem munida de seu veneno e raiva. Sua maior desgraça era ter nascido a mais jovem das irmãs.

— E é a minha felicidade! Eu me afastei da mulher que sempre amei por temer ficar sem meus pais e no fim o único que me restou foi essa maldita reputação! Eu perdi Mariana, perdi tudo o que era mais sagrado para mim. Não posso mais! — Falou sem poder engolir as próprias lágrimas que travavam sua garganta. Havia esperado todo esse tempo, tinha ficado vulnerável, machucada e sozinha, a única coisa que faria seu coração alegre outra vez seria enxergar os olhos castanhos de Giovanna olhando o quadro estampado na sala de casa.

— E nem deve! Você pode ter amor na sua vida, Marina, você sabe que Éric a... — A loira interrompeu suas palavras com um único dedo em riste.

— Eu não amo Éric e deixei isso sempre muito claro para ele. Se um dia aceitei seu cortejo foi com o fim de que nossos pais parassem de querer me arrumar um marido. E Éric nunca foi enganado quanto aos meus sentimentos. Ele sabia que eu amava Giovanna e nunca me cobrou qualquer reciprocidade — Depois de quatorze anos e na idade de trinta e quatro simplesmente não conseguiu continuar se recusando a ter ao menos um pretendente. Dessa maneira, motivada por seus pais e sua irmã aceitou que um homem passasse a frequentar sua casa para conhecê-la e, quem sabe, um dia desposa-la. Foi isso que combinou com Mariana, afinal, não queria que ela terminasse sem pretendentes por culpa de uma irmã estranha aos olhos da sociedade. Não queria que pensassem que havia algo de errado com as mulheres McGowan.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora