Capítulo 04 - A águia

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Marcela mexia nas plantas enquanto aguardava que a governanta aparecesse.

Sempre se interessou pelo efeito das coisas da natureza sobre as pessoas que precisavam de cura. E não só de feridas evidentes.

Quando divagava sobre isso também estava desde como um chá aliviava um desconforto até como uma flor simplesmente poderia perfumar e alegrar um ambiente.

Teria se aprofundado nesse interesse se a vida não tivesse sido tão maldosa com ela como foi com Bianca.

Pensar nessa parte das coisas que gostava era, precisamente, a parte que não gostava e era por isso que terminava negando com a cabeça e juntava os braços sobre si protetoramente.

— Nervosa? — Questionou Bianca. Seria perfeitamente normal, ela mesmo estava desde que Rafa as deixou na cozinha à espera de Gizelly.

— Um pouco. É uma coisa grande — Consideraram aquilo durante todo caminho, mas estar ali a minutos de viver aquilo causava tantos temores que a Andrade maior pensou realmente precisar de um dos chá que passaram em seu pensamento.

— A gente consegue — Bianca garantiu segurando os dedos de Marcela com força, passando sua confiança para irmã que a recebeu com ternura.

Assim era Bianca.

Aquela menina que não sabendo que era impossível realizava.

Marcela não sabia se por determinação ou por ser uma cabeça dura.

— Rafaella disse que gostariam de falar comigo sobre emprego — Uma voz preencheu o ambiente e fez com que as Andrade se virassem para ver de quem se tratava.

O olhar de Bianca foi perfeitamente comum.

O de Marcela foi mais minucioso.

Era uma mulher de menos de 1,70 de altura. Cabelos cacheados de mechas douradas caiam como cascatas pelos ombros e davam a mulher um aspecto de liberdade. Seu semblante indicava que fora uma mulher muito feliz em algum dia.

Marcela percebeu isso por ter sido sempre uma mulher que sabia enxergar outra. Nunca superficialmente.

No olhar castanho, ao invés, parecia ter uma tristeza que destoava com a voz que parecia poder evocar sorrisos só de ser escutada.

A loira quis abraçar seu desolamento silencioso. Imediatamente.

— Sim, somos Bianca e Marcela, vindas de Ribeirinho — Falou Bia estendendo a mão para Gizelly que a agarrou sem qualquer vestígio de repulsa.

Aparentemente a única pessoa que parecia desagradável num primeiro olhar fora a mulher que a atendeu.

— Estão longe de casa, não? — A furacão disse passando o aperto para a mão de Marcela assim que largou a da irmã mais nova.

Uma estranha familiaridade foi sentida pela loira e captada no ato. Procurou retirar a mão o mais rápido que pode, situação que deixou Gizelly com um vinco na testa.

A loira pareceu esquisita diante do seu olhar. E não estava falando de aparência.

Certo que estava desajeitada, precisava de roupas limpas e algum carinho, mas não era feia.

Na verdade, parecia para Gi, uma beleza até destoante em relação as mulheres da região.

Tinha um ar quase europeu. E, talvez por isso, tivesse olhado por mais tempo do que faria com outras. Os longos cabelos loiros, o corpo esguio, os olhos claros quase mel resguardando a razão de ter largado seus dedos súbito, tudo isso prendia a atenção que a capixaba não tinha porque dar.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora