Capítulo 80 - Imensidão

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Beijos fortuitos foram trocados sobre as estrelas. Tocaram-se bocas e línguas numa lentidão tão imensa quanto era o céu e o próprio amor sentido.

Bianca fora a comandante da troca sincera. Com suas mãos correndo docemente pelo rosto dourado que era o último resquício do sol tomou toda a atenção de Rafaella assim que os corpos ficaram nus sobre as almofadas e lençóis que cobriam a relva. O vento rodopiava nas costas da morena com a mesma suavidade abrasadora que imprimiu no seu rebolar habilidoso sobre dois dedos ofertados unicamente para que encontrasse seu próprio prazer.

— Senti sua falta — Falou com o fôlego alterado pela maneira que o médio e o indicador alargavam sua entrada. Lentos, precisos e manifestando suas saudades.

Com o gemido que deixou escapar entre os lábios quando adentrou completamente o interior molhado Rafa não poderia ter encontrado outra palavra. Era falta, era a evidência palpável do medo da perda, era a distância sendo extinguida como os centímetros quentes até que colocasse ali sua presença irrevogável.

— A sua falta quase me matou — Bianca garantiu iniciando seus movimentos de cima e baixo assim que se sentiu deliciosamente invadida por aquele mulher que, ao ponto que bruta, era das criaturas mais doces.

— A mim também. Senti falta do teu cheiro — Rafa disse passando o nariz do pescoço arrepiado de Bia até que o nariz se encontrou com o seu no beijinho de esquimó que era o símbolo máximo de seu mútuo carinho — Do teu beijo — Continuou dando um selinho demorado sobre os lábios ainda mexendo os narizes — Da sua boceta — Afirmou e estocou em meio a provocação dos quadris da Andrade causando surpresa e deleite num só ato.

— Você estava indo tão bem... Estava até romântica — Caçoou a menor recostando as testas e entendendo que eventualmente ia precisar acelerar o ritmo do explorar de Rafaella, afinal com os dias que estivera sem seu toque e o acréscimo do desejo instigado pelos beijos que não deram já sentia que não demoraria a atingir o gozo mesmo que de maneira tão fácil.

— Romântica? Não conheço nenhuma romântica e espero que ela esteja bem — Brincou a loira e na eminência de um tapa o segurou antes que atingisse seu ombro e envolveu a palma na sua livre entrelaçando os dedos deixando cair sobre os corpos o prazer que adivinha em alguns graus do concreto e do espírito.

Impressionante constatar a evolução do que se poderia chamar vontade entre essas duas mulheres. De início era puramente do campo das ideias. Bianca queria Rafaella como nunca a ninguém, mas sua entrega era tão pura que se contentava em beijar-lhe a face e abraçar seu corpo. Após o beijo na água, no entanto, a imposta condição se alterou. O que era algo da mente passou algo materializado num beijo que tempos depois tornou-se a fonte máxima dos sentidos.

Amava com cheiro, com toque e ao somente sentir-se apertar em volta da bocetinha que deslizava seus dedos para dentro a cada vez que tratava uma nova velocidade nas penetrações. Bianca desfrutava da autonomia e confiança como alguém que aceita um presente que não esperou, mas que obteve com graças.

Rafa Kalimann era seu presente. Revestido de ouro e magia, escondido no fundo de uma arca que era seu próprio âmago agora completamente escancarado ao seu sentimento.

A leoa era a versão não conhecida do que foi a caixa de Pandora. Se em algum universo entre o simples e o complexo, o espaço e o tempo tudo de ruim foi aprisionado num obscuro recôndito por obediência de uma inversão proporcional tudo de bom se reuniu em alguém e Bia sabia que era no coração daquela mulher, da mulher da sua vida.

O orgasmo chega silencioso mas estoura num inevitável rugido. Fora Bianca quem o emitira, algo forte e com os quadris ondulando enquanto os cabelos se grudavam vagarosamente a tez morena.

— Goza para mim Rafa — Pediu com um suspiro que carregava a leveza do alívio e o peso do sentimento tão grandioso que as vezes desafiava seu equilíbrio.

Em dias Bia se sentia como quem carregava uma bolsa gigante em cima das costas. Como uma tartaruga de passo vacilante caminhava pela vida com o objeto fechado e bem reservado. Até a loira em seus dedos mostrar-lhe ficam finalmente o motivo. Em andar com tudo e não entender para nada deteve o lugar reservado para que colecionasse desde o momento um e os guardasse por sobre si. E então o peso não era só um peso, era a delícia de saber que em cada coisa que deu errado, em cada momento que a esvaziou, em cada pessoa que não conseguiu manter estava um pequeno fragmento que formou o caminho que a levou até sua namorada.

Embalada pela imposição composta de desejo e amor Rafaella foi se entregando com mais força. Com os seios subindo e baixando e as pernas bem mais separadas beijou o ombro de Bianca aguardando o momento que prenunciou desde que ficou em silêncio.

Escondeu o rosto no ombro de Bia, era quase demais ama-la tanto o quanto sentiu quando se desfez em estilhaços diante de um sorriso largo e preciso que veio acompanhado de um beijo na testa.

— Eu te amo — Bianca disse finalmente descendo o contato e unindo as bocas sem sequer sair de Rafaella. Não chegaram a ir para casa naquela noite, não era possível.

Quando ficou muito tarde Rafaella fechou a cabana e abraçou Bianca que desenhava corações sobre seu peito divagando sobre o universo e o existencialismo.

— ....É claro que não estamos sozinhos nesse mundo tão grande. Olha aquele céu Rafaella. Tanta imensidão azul marinho pintada de prata. Com certeza tem alguém do outro lado olhando para cá de volta imaginando se também não é único — Bia argumentou até quase se levantando. Rafa a manteve parada com seu bumbum perfeito nos dedos, não queria se desfazer do toque.

— Seu pensamento me intriga. Não é a finalidade da maioria sermos únicos?— Questionou a loira com uma ruga irredutível no rosto.

— Em dada escala sim. Mas acho que quem se pensa muito único há uma certa arrogância. Se reconhecer um pouco como e no outro nos faz crescer e nos sentirmos parte. Ver o outro nos impede de sucumbir a solidão — Pontuou a fazendeira lembrando como o sofrimento de Bianca reconhecido por ela mesma a salvou.

— E você me vê? — Rafaella perguntou e quando a morena assentiu ela fechou os olhos de águia com sua mão grande que quase tapava todo o rosto de Bianca — E agora? — Sorriu largo e a menina gargalhou.

— Quando eu não puder te ver nos meus olhos eu me lembrarei de você e, quando o fizer te verei em cada memória boa. Você está nos meus melhores sorrisos sua felina sorrateira — Falou acompanhando com o corpo com mo Rafa inverteu as posições se colocando acima dela.

— Sorrateira? Mas você nem sabe quão sorrateira eu posso ser e já está me acusando... — Suspendeu a loira outra vez se entregando ao prazer de ver o corpo pequeno gozar sob seus comandos. Foi assim por toda aquela noite e até o raiar da manhã, situação que as deixou completamente esgotadas e obrigou que despertassem tão tarde que sequer apareceram para trabalhar no dia seguinte.

Passaram da cabana a cama e dormiram abraçadas com Bianca dessa vez sendo a conchinha maior que não conseguia cobrir Rafa por inteiro. Era a cena mais adorável possível dentro do que poderia se imaginar: Bianca deitada nas costas de Rafaella a abraçando com a perna descansando em sua cintura e o queixo sobre o ombro sentindo o cheiro da sua mulher que dormira com os lábios fechados sobre sua mão em sinal de um amor que nunca caía em sono.

Porque no momento de maior dúvida, quando achavam que não iam se encontrar o amor insone as manteve juntas, irrevogavelmente juntas ainda que pensassem-se separadas.

Prometeram no sono que assim permaneceriam. Mas o destino, ao contrário de Rafa, era o verdadeiro sorrateiro. Olmo semear de um ínfimo sentimento no peito de quem tanto Bianca amava terminaria a menina afastada de Rafaella mesmo que não fosse sua vontade.

Não voltaria a ser. Enquanto pudesse a amar de perto o faria porque o amor a distância é doce até certo momento. Quando novo parece certo, sublime e aterrador, mas quando perde o interesse desgasta, destrói e entristece.

E nenhuma delas tinham mais o que destruir. Não quando tanto já sofreram. Por isso, ainda que Rafa fosse cética o que havia de bom e que a protegia argumentou sobre a presença de seus fantasmas sobre seu destino. E então algo mudou.

Viesse sempre o viesse eventualmente venceriam...

Capítulo novo para avisar que voltei!

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