Capítulo 62 - A adjetivação dos sentimentos

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Da visita de Mônica já tinha quase cinco dias o que não significava, no entanto, seu sumiço. Na verdade, com constantes aparecimentos que terminavam em brigas Bianca já começava a pensar que sua mãe estava mais presente que nunca.

— E se essa insistência for de alguma forma genuína? — Apontou Rafaella no segundo dia e Bianca somente fez o favor de olha-la de uma forma cortante que fez a loira se encolher um pouco no seu lugar. Havia algo diferente na sua doce menina desde a volta de Mônica. Havia desconfiança, medo e um certo ódio. Rafaella só queria remediar aquilo.

E por isso pensou em pedir que a mulher fosse embora de uma vez. Considerando que seu interesse pudesse ser dinheiro chegou a procurar Mônica e oferece-lo, mas não conseguiu nada com isso.

— Se fosse essa a razão da minha estadia eu teria sido direta em pedir as cédulas. Nós Andrade não somos conhecidas por mascarar nossos objetivos — Foi como a senhora respondeu Rafaella devolvendo o envelope no terceiro dia de sua estadia e indo embora da fazenda pé ante pé.

Naquele fim de tarde Rafa decidiu segui-la. Queria entender o que motivava aquela mulher a voltar depois de tanta recusa, no entanto, não acabou por descobrir a seguindo.

Procurando por respostas encontrou algo que cortou seu coração em dois. Mônica Andrade vagava pelo dia e nas noites dormia ao relento. Não tinha sono contínuo, acordava uma e outra vez assustada e segurando uma trouxa de roupas.

É desumano.

A veterinária concluiu com o coração apertado depois de uma noite no carro observando a mulher sem ser vista. Quando Rafa retornou a casa, na manhã do quinto dia, Bianca a aguardava com algumas olheiras debaixo dos olhos ainda acordada no quarto do casal.

— Você saiu na companhia daquela mulher e disse que seria rápido. Espero que tenha uma boa explicação para isso — A Andrade disse num tom irritado que tocou diretamente o lado da cabeça de Rafaella que estava dolorido devido a noite em claro.

Massageou a região devagar enquanto sentava no canto da cama percebendo a postura defensiva.

— Segui sua mãe. Ela tem dormido na rua Bianca. Quatro noites que ela está na cidade tentando uma aproximação e, enquanto não consegue, tem se arriscado terrivelmente — A veterinária disse afetada ao lembrar da cena triste e tudo o que recebeu de Bianca foi uma risada irônica.

— Acredite em mim Rafaella. Conhecendo a Mônica quem corre risco é a cidade e não ela — Bianca entregou sentindo um frio percorrer a própria espinha só de lembrar de tudo o que a mãe era capaz.

— Essa não é uma atitude bondosa, Bi. E você é tão pura... Tudo bem que vocês tem seus problemas, mas isso não te comove nem um pouco? — Bianca negou terminantemente e sem vacilar o olhar na direção de um verde que transmitiu uma clara decepção.

— No fim talvez eu não seja tão pura quanto você pensa — Bianca disse engolindo em seco e deixando Rafa para ir na direção do banheiro, afinal, era hora de trabalhar.

Rafaella não conseguiu se dedicar tranquilamente ao trabalho, não quando ao longe percebeu a figura da senhora tentando inutilmente mais uma vez estabelecer comunicação.

Seria essa a prova que eu precisava?

Se submeter a um sofrimento como aquele por algo de atenção que sequer sabia se chegaria?

Rafaella não sabia o que pensar. E na indecisão, buscou a outra Andrade no fim do quinto dia para contar o que viu.

— Isso é muito triste. Já falou com Bianca sobre? — Marcela quis saber. Nesses dias sua mãe apareceu vez ou outra para falar com ela. Não tratou Mônica com hostilidade, mas também não fizera questão de chama-la para um café.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora