Capítulo 43 - Gatinhas também sabem atacar

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Ainda deitadas na mesma posição debaixo do céu azulado Gi separou os lábios com dificuldade e tentou ao máximo que a mágoa na garganta não travasse suas palavras.

Contou o que podia, com os detalhes que conseguiu dizer antes que o corpo todo começasse a tremer.

Marcela nunca abandonou suas mãos. Na verdade, quanto mais a capixaba ia em frente mais carinho recebia dos dedos atentos recorrendo do dorso a palma numa calma quase transcendental.

Também era difícil para Marcela. Ouvir que alguém fez tamanho mal a alguém tão bom quanto Gizelly era de despertar os piores sentimentos numa mulher que sempre fora das mais pacíficas.

Mas tentou não se exasperar diante da furacão, quis se demonstrar firme e sempre amável para que ela não se retraísse no meio de um relato que por si só já era carregado de tantos sentimentos dolorosos.

— Posso te abraçar? — A loira perguntou por fim quando a mulher de mechas douradas finalmente parou de falar completamente trêmula.

— Acho... Acho que sim — Gi falou ainda meio nervosa e Marcela se ajeitou até que finalmente estivessem em ângulos perfeitos. Feito isso a loira somente parou deitada próxima da capixaba e nada mais fez.

— Sempre e em qualquer situação que for demais para você não hesite em me falar. Você não está mais sozinha Gi — Sussurrou a Andrade e envolveu seus braços ao redor da cintura da mulher a sua frente, ficando de conchinha com ela sobre aquele pano colorido.

— Agradeço por sempre ter sido paciente comigo — Gi disse acariciando a mão que descansava sobre sua cintura com a ponta dos dedos.

— E eu por você ter, mesmo diante de tudo, aberto seu coração para mim. Não imagino o quão difícil foi... — Marcela declarou suspirando enquanto deixava seu rosto perto dos cabelos da outra. Era um ótimo ponto de paz.

— Na verdade não. Sempre foi fácil gostar de você, Ma, o difícil foi estar preparada para entender que apesar do momento não tem como não viver esse sentimento plenamente — Admitiu a governanta sem sentir peso em fazê-lo. Nada parecia doloroso o suficiente que não pudesse ser amenizado no lugar que estava.

Se sentia segura, protegida e compreendida.

— Também é tão forte assim para você? — Marcela quis saber com o coração disparando sem que pudesse se controlar.

— Forte assim — Gi admitiu sentindo consigo uma breve sensação de estar feliz mesmo naquele momento. A mulher, a que gostava, estava disparada diante de suas palavras.

E tinha dito. E tinha sido acolhida com todo carinho do mundo.

Tudo era aterrador para a jovem mulher, mas no meio do amargo da confissão também havia o doce de deixar as palavras virem e se dissiparem.

Não é que não doeria.

Mas sentiu em seu peito que a partir dali seria menos, pois estava começando a superar.

— Está com fome? — Marcela perguntou se levantando sem deixar que ela respondesse e depois de trazer a cesta mais perto deitou a cabeça de Gi sobre seu colo para que seus cabelos fossem acariciados e recebesse a comida dentro da boca.

— Meu paladar é de princesa. Muito exigente, portanto, não venha me dando qualquer coisa que eu não vou comer — Foi para Marcela a parte mais engraçada da manhã perceber que nada daquilo era verdade.

Gizelly simplesmente experimentou de tudo um pouco enquanto as duas dividiam os assuntos mais triviais.

Fofocaram, como não podia deixar de ser, falaram sobre suas infâncias e Marcela também detalhou melhor a situação com sua mãe.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora