Marcela Andrade estava mais que compenetrada em seus atendimentos. Já havia recebido pelo menos três mulheres e duas crianças cujos problemas tinha alcançado resolver.
O último que havia saído era um menino em que aplicou um pouco de óleo de cravo para que a dor de dente cessasse até a visita de um bom dentista.
Estava precisamente guardando o frasco quando foi surpreendida pela entrada dos irmãos Lenhardt e do pequeno Marcelo.
— Olha quem veio visitar a Doutora Fada — O loiro falou levantando os dedinhos do menino que o olhou com olhos castanhos absolutamente curiosos.
— Olá pequenino — Marcela falou se aproximando do bebê que sorriu a sua presença no momento em que ela entrou em seu campo de visão — Posso? — Questionou e Gabi deixou que a Andrade tomasse o menino nos braços.
Marcela sentiu o cheirinho de criança e automaticamente sentiu qualquer peso do coração se esvair nas respirações suaves do diminuto moreno sobre seu peito.
E não que estivesse triste. Com os dias havia ficado melhor depois do desastre de algumas noites atrás, mas ainda era difícil perceber a distância de Gizelly para consigo.
Como o olhar castanho evitava o contato e como os sorrisos pareciam estranhos quando deferidos.
— A que devo essa visita tão ilustre em meu consultório? — Marcela perguntou encontrando aquele momento realmente adorável.
— É que Daniel queria... — Gabriela começou, mas se interrompeu diante do olhar de seu irmão — ...E eu também que você aceitasse jantar conosco, em nossa casa. Não será nada muito grande, sabe? É só para retribuir melhor o quanto você nos ajudou — A loira mais jovem terminou de falar com um sorriso ansioso pela resposta de Marcela que mal sabia o que dizer.
Nunca tinham dedicado um jantar inteiro a sua pessoa.
— Eu estou realmente emocionada com isso. É sério, não precisava — A loira mais velha disse com as bochechas ruborizadas e Daniel tocou suas mãos que sustentavam com o corpo de Marcelo.
— É claro que precisava. Você fez tudo, salvou a vida da minha irmã e do meu sobrinho — O pastor relembrou olhando a mulher por vários segundos com um semblante admirado e carinhoso.
Marcela decidiu interpretar assim.
— Eu não teria conseguido sem as garotas. De certa maneira, cada uma foi indispensável para que esse pequeno esteja hoje aqui entre meus braços. Tanto Rafaella, quanto Bianca e Gizelly — A Andrade maior disse com o último nome rodopiando por seus lábios.
Ah Gizelly...
E como se tivesse evocado a simples presença a capixaba, que passara pela porta, se deteve um único segundo por ali. Foi o preciso instante para que seu olhar cruzasse com os lábios de Marcela e depois seus olhos.
— Só falar no diabo que aparece o rabo — Falou Daniel num tom divertido cedendo a cadeira que estava sentado a governanta que ainda sim não fez menção de entrar.
— Só estava circulando por aí — E não era de todo mentira. Estivera andando pela sede e seus pés a guiaram exatamente a porta que sabia que Marcela estaria.
Não era a primeira vez que acontecia. Mas na sua mente a capixaba sempre se convencia depois de muito repetir que todas as cinco vezes que aquilo aconteceu naquela semana era só por acaso.
— Então circula mais perto porque eu tenho um convite para você — Gabi disse levantando para buscar a menina, fazendo com que se sentasse onde Daniel ofereceu — Agora que Marcela disse eu acho que faz todo sentido. Ela sempre e inevitavelmente será minha salvadora maior, mas você e as outras meninas tem muito a ver com o fato de ter dado tudo certo. Então, se não for incômodo, gostaríamos de receber todas em nossa casa em um jantar para agradecer por tudo o que fizeram por nós — A Lenhardt mais moça falou tomando as mãos de Gizelly com delicadeza ao falar.
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O rugido da leoa
Hayran KurguPara viver em Santo Antônio Escondido não é necessário muita coisa. Basta que goste do clima campestre, de moda de viola e, sobretudo, entenda que nesse espaço distinto do mundo os conflitos se resolvem na ponta de uma bala, ou de uma faca se é o qu...