Capítulo 92 - 1989

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Últimos capítulos...

— Marcela? — Uma mulher questionou entrando no quarto da jovem naquela manhã. Gi havia anunciado seu intento e a loira decidiu receber a visita que se acercava tímida e sem jeito de sua cama.

— Sim? — Respondeu numa mistura de afirmativa com dúvidas. Tinha muito o que perguntar, mas pela frágil aparência da mulher conteve sua própria língua. A senhora deveria decidir por onde começar e até que lugar iria com isso.

— Gostaria de saber como você está — Parecia irônico, uma vez que não havia procurado saber em mais de três décadas, mas Marcela nunca responderia dessa maneira, a ninguém.

— Acredito que melhor agora que já passou um pouco do impacto. Não é todo dia que você descobre que pessoas que nunca viu na vida tem um quadro de uma mulher idêntica a você que dizem que viveu há séculos atrás  — A última parte ninguém havia informado, mas ela sabia por motivos que somente o conhecimento físico das coisas não poderia explicar.

— Você pode não ter nos visto, mas agora, te olhando, eu tenho a plena certeza de que eu já vi você Marcela. Pela última vez no ano de 1989, o ano que você nasceu e que te tiraram covardemente dos meus braços....

Fevereiro de 1989, Santo Antônio Escondido...

Josiane segurava sua recém nascida entre os braços ensaiando as palavras que diria ao seu pai assim que voltasse a cidade de São Paulo pela milésima vez.

— Meu pai, eu sei que quando sai daqui eu te prometi que ficaria fora tempo o suficiente para me livrar desse bebê, mas eu simplesmente não pude fazer tal coisa. Deixei meu grande amor ir, como você me solicitou a fim de não afundar a oportunidade de continuar meu casamento sem amor, mas não pude deixar para trás também a Marina. Mariane precisa de uma família e é só por essa razão que aceitarei retornar para a prisão que é estar com o pai dela, mas eu não posso, não quero e não vou desamparar a Marina. Ela também tem direito a uma mãe, a uma família que a ama e que queira seu bem. Foi por essa razão que não tirei a criança enquanto estava em gestação e que não vou abanda-la em qualquer lugar. Hoje volto para minha casa, para vida que o senhor sempre quis para mim, mas não sem ela, não sem a Marina — A loira proferiu olhando no mais profundo do seu castanho a face da coragem. Estava resolvida com ter a bebê consigo, pelo menos ela.

Mas seu pai detinha uma perspectiva diferente, há julgar, sobretudo, pela posição em que os McGowan ocupavam na sociedade paulista.

Josi não podia ter esse filho, e o homem se encarregaria disso pessoalmente se a mulher não ousasse fazê-lo. Espreitou-a por nove meses aguardando que tivesse a coragem necessária se não para tirar que ao menos abandonasse e, quando não percebeu nenhuma das duas coisas se sucederem contratou uma assassina para cuidar do óbito da criança.

Mônica Andrade, a temida carcará do sertão, com uma fama espalhada pelos quatro cantos do país foi a escolhida para dar um basta na existência do ser indesejado.

Mas mesmo ela não pode. Roubada a criança numa madrugada de chuva onde o rio quase se interpunha pela cidade de tão alto a mulher levara a criança com o fim de encerrar seu trabalho. Pensou, tentou e fracassou em atirar a menina no rio ou dar-lhe com a bala em seus miolos infantis. Marina parecia um anjinho de pureza e amor.

E olhando para aquela menina sentiu vibrar dentro de si algo inédito, quente e até um pouco assustador. Decidiu-se a ficar com ela por maior loucura que isso parecesse. Com a loira não se sentia de pronto mais tão sozinha. E fora também Marcela a grande companhia daquela e depois da pequena Andrade que cruzou seu caminho.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora