Aviso de gatilho: O capítulo a seguir possui cenas de violência física e sexual, portanto, se você for sensível a alguns dos temas abordados eu recomendo que não leia o que está escrito.
O leão branco, por sua natureza, era considerado um animal fraco.
Por sua cor era facilmente localizável numa situação de caça e normalmente tinha dificuldades para se integrar na vida selvagem.
Nascer com essa rara anomalia entre os leões era mais uma maldição que uma dádiva de qualquer forma.
E fora assim que Rafaella se sentiu ao longo da sua vida inteira na Fazenda Kalimann.
Sendo a única filha de um casal que a esperou por muito tempo não conseguiu representar mais que uma decepção.
Primeiro, por ter sido o motivo do falecimento de sua mãe que, em decorrência de um problema na gestação, acabou por não resistir.
E segundo pelo simples fato de ter nascido mulher.
— Você precisa de um herdeiro! Não há como ela, sendo mulher, gerir tudo o que construímos! — Escutou algum dia durante sua infância.
E o pior, ainda viu seu pai assentir.
Foi ali que jurou a si mesma que seria a dona mais próspera daquele lugar.
E depois morreria deixando toda a herança para os pobres da região.
Se tão desprezada foi pela família apenas pelo dinheiro não esperava que aquela desgraça recaísse na mão de mais ninguém.
E não que tivesse como fazê-lo.
Desde muito cedo Rafaella entendia que não poderia deitar-se com um homem.
Não por sua vingança contra sua prole, mas porque nunca sentiu qualquer desejo.
Ao menos não como sentia pelas mulheres.
Loiras, morenas, baixas ou altas. Rafaella lembrava como seus poucos momentos de deleite na adolescência consistiam em ver as meninas se banharem só de calcinha no rio que cortava sua propriedade.
— A água está deliciosa Rafaella! Porque não entra? — Questionava Flay, uma das filhas do caseiro, enquanto cortava o lago em braçadas largas.
Rafaella negou outra vez apoiando sua cabeça atrás das mãos espalmadas para observar mais aconchegada.
Foi naquele dia que deu seu primeiro beijo.
E nem de longe foi o último.
Difícil era dizer uma boca que não tinha beijado.
Entre garotas não héteros e até as que assim se denominavam.
Todas queriam um pouquinho da mulher irresistível que era Rafaella.
Ainda mais quando, na idade de dezoito anos, assumiu o controle dos negócios da família com a morte de seu pai em decorrência de um infarto.
Não chorou no enterro.
Seu pai não a afastou de sua casa, mas não foi exatamente amoroso com ela durante a vida. Na verdade, foi todo o contrário.
Era bronco, muitas vezes a agredia sem razão e gritava com ela.
Nunca a presenteou, nunca usou palavras de carinho e era o principal responsável por alimentar todos os sentimentos ruins que perseguiam Rafaella.
Para que a mulher não pudesse dizer que ele não a ensinou nada foi capaz de aprender com ele como se estripava um passarinho.
Achou aquilo do mais horrível, afinal, tinha só dez anos quando presenciou o fato, mas não foi diferente de qualquer outra lição que recebeu em seus 27 anos naquela fazenda.
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O rugido da leoa
Fiksi PenggemarPara viver em Santo Antônio Escondido não é necessário muita coisa. Basta que goste do clima campestre, de moda de viola e, sobretudo, entenda que nesse espaço distinto do mundo os conflitos se resolvem na ponta de uma bala, ou de uma faca se é o qu...