Capítulo 45 - Contramão

2.3K 276 374
                                    

— O jogo da vida é feito de oferta e demanda. Você dá o que tem e espera de volta o que merece. Se você possui dinheiro e ofertar isso voltará para você sempre todas as coisas que o prazer pode comprar: Parceiros, viagens, bebidas e propriedades caras. Se você dedica amor só terá para si decepção, afinal, como ter retorno de algo que não existe? Se eu não te amo? Essa é a minha resposta para você. Eu não te amo porque amor é uma enganação criada por pessoas que queriam se sentir mais superior que as outras quando na verdade não tinham o suficiente para ser. Amor é fingir que não ter nada é alguma coisa só por ter alguém. Não te parece tolo? Raso? Pouco atrativo e sem qualquer forma de lucro? — Sebastião indagara a menina loira de apenas seis anos sentada em seu colo.

Rafaella brincava todos os dias com sua boneca, a pequena Nina, a qual tinha apresso por ser um brinquedo falante. Todos os dias a criança carente de bons sentimentos apertava sobre a barriguinha de pano e aguardava a saída das três palavras de uma caixinha de som embutida perto da boca do personagem.

A boneca sempre dizia que a amava e fazia o coração da menina de cabelos loirinhos se encherem de tanta ternura que nunca resistia em pressionar por ali duas ou três vezes até sentir um sorriso despontar em seu rosto. Para a pequena era melhor até do que tomar sorvete no verão.

No entanto, naquela manhã, Nina não havia falado mais nada. Em sua inocência Rafa fez mais força contra a barriguinha da boneca e quando ouviu algo se romper caiu num choro copioso que a levou até a sala do pai que a disse coisas horríveis sobre aquela sensação do bem.

E a garotinha acreditou. Acreditou tanto que depois nem doeu tanto assim ver seu genitor destroçar o corpinho da sua amiga Nina.

Se amar era se enganar o sentimento que tinha pela boneca e achava que o brinquedo tinha de volta por ela era mentiroso, portanto, não precisava daquilo de Nina ou do seu pai. Se a única realidade era ofertar e receber nunca daria para ninguém o poder de vê-la decaída na ilusão dos que nunca tiveram nada...

Bianca despertou no meio da noite com um aroma suave invadindo suas narinas da melhor maneira possível.

Eu identificaria esse cheiro até se houvesse um milhão de outros.

Constatou e abrindo os olhos deu de cara com os orbes esverdeados que a olhavam sentada do lado da cama.
Sentada sobre a madeira fria Rafaella tinha a mão direita muito próxima do seu rosto e a contemplava com o olhar invadido de uma ternura que também se expressava no sorriso largo.

— Desculpa te acordar — Murmurou a loira baixinho recebendo o rosto de Bianca entre os seus dedos pela própria vontade da morena sonolenta.

— Você pode me acordar assim sempre que quiser — A morena declarou movendo o rosto preguiçosamente pela palma um pouco áspera que fornecia calor e carinho no mesmo toque — Aconteceu alguma coisa — Bianca terminou por se alertar devido ao horário.

— Só aconteceu que eu não posso esperar nem mais um minuto Bi — Foi a resposta que a menor teve antes de ser devidamente levantada sobre os braços fortes.

— Não estou entendendo nada de nada, mas isso parece bom — A Andrade menor disse com um sorriso radiante conforme envolvia a nuca de Rafa com os braços, inalando o cheiro agora de muito mais perto até que fosse carregada para onde aquela mulher quisesse.

Loucura confiar em alguém assim? Mas Bianca confiava, pois Rafa nunca a fez sentir menos que segura e protegida em qualquer situação.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora