Capítulo 10 - Os fantasmas de Rafaella

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O espelho refletia uma imagem que não condizia com a realidade.

Para Rafa, a mulher bonita de rosto alinhado e fino nada tinha a ver com as coisas tão feias que carregava no peito.

Desamor.

Incapacidade.

Havia acabado de deixar uma mulher grávida gemendo de dor num quarto e não tinha forças para voltar.

— Você é fraca Rafaella — Afirmou para si mesma e com raiva quase quebrou o espelho a sua frente. No entanto, o desconforto em seu âmago impediu que fizesse qualquer outra coisa que não fosse procurar o vaso sanitário e se encurvar diante dele para derramar o conteúdo que tinha em seu estômago em duas golfadas que ardiam ao sair de si.

A meio caminho do ato sentiu mãos pequenas suspenderem-lhe os cabelos.

Um toque calmo e diferente que acarinhou sua nuca num resvalar rápido para que seu cabelo se afastasse do rosto que encontrava o recipiente esférico.

Rafa passou as costas das mãos nos lábios e olhou para cima assim que não havia mais nada dentro de si.

Parada bem embaixo da luz fraca do banheiro estava Bianca Andrade a fitando com seus olhos de águia.

Atentos, diretos e cuidadosos.

Mas não se achava digna de um único sinal de empatia. E foi por isso que se adiantou em ficar de pé de uma vez, fugindo do contato com os olhos afáveis.

— O que faz aqui? — Rafa perguntou cuidando seu tom para que parecesse minimamente normal, muito embora, pelas condições que foi encontrada, pensasse que Bianca não poderia vê-la assim.

— Gizelly pediu que eu viesse enquanto ela entrava no quarto com Marcela — Explicou Bianca com um tom brando nas palavras, ainda sentindo nos dedos a vazia maciez dos cabelos loiros.

— E a quanto tempo está aí? — Rafa indagou pedindo a qualquer coisa divina com quem já havia brigado ao longo dos anos que ao menos uma vez se provasse efetivo em sua existência e a livrasse do constrangimento que significaria Bianca flagra-la brigando com sua imagem.

— Cheguei quando você estava colocando tudo para fora — A morena mentiu desviando o olhar para Rafaella que jogava água contra seus lábios.

Por uma parte porque queria conceder a privacidade que não tinha quando entrou pela porta aberta e a tocou pelos cabelos.

Pela outra porque se aquela pergunta veio era porque a patroa odiaria saber o que ela tinha visto.

E quis proteger Rafaella de sua tola vergonha.

Tola, na concepção de Bianca, porque era justamente o que fazia todas as ações de Rafa terem algum sentido.

Os sorrisos interrompidos, as grosseiras fora de lugar...

Bianca não sabia pelo que, mas tinha certeza que o coração de Rafa era atormentado por algo muito ruim.

E sentiu uma dor quase física só de imaginar o quão doloroso precisava ser algo para devastar uma mulher tão grande.

Você é fraca Rafaella.

Bianca repetiu em sua mente. E nela mesma se permitiu entristecer.

Queria dizer algo carinhoso, algo que a fizesse sentir melhor, mas não foi rápida o suficiente, pois um grito muito mais rápido rasgou no casebre e todos os seus pelos se eriçaram.

Olhou diretamente para os olhos de Rafaella.

O medo correndo em seu ser.

Dentro do quarto Gabriela permanecia em seu sofrimento.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora