Capítulo 26 - Ciumeira

2.2K 279 404
                                    

Quando Gizelly Bicalho se espreguiçou na saída do quarto aquela manhã notou algo diferente.

A soleira da porta de madeira, havia nada mais nada menos que um vaso com vários lírios-do-brejo.

A capixaba rapidamente os tomou nas mãos e observou com minúcia, sentindo assim que trouxe a altura dos olhos um aroma muito doce.

Sorriu com aquilo imediatamente e tocou as pétalas com a ponta dos dedos.

Já os vira na beira do lago, mas nunca teve a habilidade necessária para um corte tão bem feito e preciso que garantisse a ele uma vida longa, situação que não parecia ser a que aquelas seis flores brancas se encontravam agora.

Era um detalhe tão delicado que não teve dúvidas de onde veio.

— Marcela? — Chamou ao encontrar a mulher cortando parte da raiz de alguns lírios e guardando em alguns saquinhos.

— Sim? — Perguntou cessando a ação e levantando os olhos para a furacão que estava, aos seus olhos, especialmente bonita e brava naquela manhã.

— Porque me mandou lírios? — A capixaba foi muito direta no seu questionamento entregando com isso para Marcela que talvez não tivesse feito o certo.

— Porque fui buscar alguns mais cedo hoje no rio já que estávamos precisando repor os anti-inflamatórios e remédios para tosse. Imaginei que, por conta do cheiro e da função purificativa vocês terminariam gostando de tê-los nos quartos. Mas se não gostou eu... — A loira falou relatando o que, até certo ponto, era verdade.

— Vocês? — Foi no que Gi se fiou em toda fala de Marcela.

— É. Também coloquei alguns na porta do quarto de Rafaella. Dizem que ajuda na meditação e melhora o campo energético do lugar. Sei que isso é muito místico para alguns, mas a quem acredita... — Mentiu com descaro apenas para avaliar as reações da furacão.

De repente, ao perceber que talvez não fosse especial, Gi parecia sentir-se incomodada. E isso não passou despercebido pela Andrade maior que mordeu a parte interna da bochecha antes de sorrir.

— Então não foi só eu? — O tom da capixaba foi quase lamurioso.

— Você gostaria que eu enviasse lírios somente a você? Por qual razão? — Marcela insistiu só para saber se a mulher teria coragem para admitir.

— Eu? Não! — A governanta mentiu descaradamente.

— Então suponho que a reposta que você não me deu é que não deveria ter enviado nada. Se é assim peço que não se livre dos coitados. Eu posso ir no seu quarto com você buscar agora mesmo e aproveito para extrair o rizoma deles também — Falou se levantando da cadeira e deixando as raizes por ali por sua mesa.

— Marcela... — A mulher de mechas douradas tentou desconversar quando viu a mulher atravessar a mesa parando do seu lado.

— Faço questão, não vou deixar lá te incomodando — E tocando a palma na parte debaixo das costas de Gi foi conduzindo-a até onde sabia que era o quarto da capixaba.

A governanta abriu a porta e entraram.

— Como pode não ter gostado desse cheirinho tão gostoso? — A loira quis saber tirando uma flor do vaso para colocar na orelha da capixaba que fechou os olhos pelos dedos carinhosos entrando nos seus cabelos médio — Mas fazer o que, não é? — A loira completou girando os calcanhares para sair com as flores, mas foi impedida pela furacão que tocou seu pulso a impedindo de avançar.

— Mudei de ideia, quero ficar com eles! — A governanta falou e Marcela a olhou com um sorrisinho presunçoso no canto dos lábios.

— Que cara é essa? — Gi questionou vendo o sorriso de Marcela se ampliar mais ainda até que os dentes brancos aparecessem.

O rugido da leoa Onde histórias criam vida. Descubra agora