Quando Rafaella finalmente atingiu o solo da propriedade de Amaeté sentiu um calafrio percorrer a espinha. Era o prenúncio de uma chuva forte recorrendo sua nuca e principiando um fim eminente que decorreria de águas descendendo do céu.
Seu instinto, pretendendo salvar-lhe de sua própria estupidez no último segundo, a avisou que trouxesse consigo sua arma, mas tinha entendido que além de haver razão não tinha ideia onde aquela havia ido parar.
Não entendo os alertas de seu âmago e decididamente colocando-os para um lado a leoa andou pausadamente até a casa pensando em se livrar de uma vez por todas dos primeiros sinais da chuva eminente.
Entrou dentro da casa, no entanto, a encontrou vazia. A própria empregada lhe avisara do peculiar comportamento da sogra sequer estava ali.
— Mônica — Chamou Rafaella num tom tranquilo. Com o caminho já estava mais calma, o que não significava que não queria saber o que cargas d'água estava ocorrendo com a mãe de sua namorada.
De algo tinha que saber.
Não obteve resposta. Na casa vazia tudo que conseguiu foi o eco da voz e o vento rodopiando pela janela aberto fazendo um pedaço de papel velho correr até perto da sua bota.
Te espero em nossa casa.
Era o que dizia. Não se direcionava a Rafaella especialmente, mas o mistério daquele recado levaram-na a querer saber onde e qual era a razão daquele recado.
Tomou seu Jeep e rondou por algumas horas. Ninguém pelas partes mais pobres da cidade sabiam informar quem eram as Andrade o que numa cidade pequena era definitivamente estranho.
Que tipo de pessoa vive sempre apagando o rastro dos passos atrás de si? Teria sido fácil de responder se sobretudo a angústia e o enigma não consumissem seus sentidos naquele domingo cinza.
E a cor sugeria. Na verdade, toda dança dos sentidos promovida pelos sentidos simbólicos. O vento com gosto de tragédia, a chuva com cheiro de sangue, a mulher com voz de além.
— Andrade? As conheço. Moravam perto das ruínas de uma antiga ferrovia ao fim da cidade, mas já faz um tempo desde que estiveram por ali — Dissera uma mulher morena dos olhos esmeraldinos. Ela saberia se alguém tivesse retornado ao casebre podrido onde residia Marcela, pois era das que ansiavam alguma notícia sua.
Não mais pelo amor fatalmente interrompido, mas por guardar na lembrança os doces momentos que viveram juntas como um processo natural que tinha que começar e terminar.
E Rafaella sabia o motivo daquele sumiço. Primeiro Bianca e Marcela, logo então Mônica haviam aparecido em sua fazenda mudando completamente sua vida.
Seguiu com seu carro até onde lhe foi possível, no entanto, com o avanço do mato alto e das árvores houve um momento que compreendeu que teria de completar seu trajeto a pé pelos trilhos enferrujados recobertos de ervas daminhas que o consumiam.
Os fenômenos naturais são metáforas vida. O aço do trilho, criado para ser irredutível, era lentamente carcomido pelo que vinham do chão sendo arrastado para dentro.
O aço não era mais fraco. Só estava vulnerável. Esquecido em si mesmo, abandonado, sozinho e sem muita defesa. Não era que havia se entregado, porque até para isso exigia-se mais força.
A verosimilhança é uma tragédia disfarçada de ficção. Parecer real nos detalhes e que esses sejam sinais sem que haja um definitivo aviso é saber que algo vai acontecer e, mesmo assim, omitir-se.
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O rugido da leoa
FanficPara viver em Santo Antônio Escondido não é necessário muita coisa. Basta que goste do clima campestre, de moda de viola e, sobretudo, entenda que nesse espaço distinto do mundo os conflitos se resolvem na ponta de uma bala, ou de uma faca se é o qu...