Capítulo 1

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27 de fevereiro de 2026 (22:34 - Los Angeles, EUA)

Louis

As pessoas gritam meu nome quando eu termino de cantar a última música de um repertório de pouco mais de duas horas. Faço toda a enrolação no final, me despedindo e destacando várias vezes o quanto amo cada um dos que estão ali me apoiando. Faço um último aviso sobre o meet que vai acontecer daqui a pouco e saio do palco, colocando o violão no suporte e tirando a camisa encharcada de suor antes mesmo de chegar perto do meu camarim. Vejo produtores andando para todos os lados e passo por todos despercebido a caminho do lugar onde vou ter sossego nos próximos quinze minutos. Fecho a porta atrás de mim, me jogo no sofá e fecho os olhos sentindo meu corpo doer enquanto toda a adrenalina vai embora devagar.

— Louis, o que você pensa que está fazendo? — Hope aparece quase gritando e eu abro os olhos. — Levanta logo desse sofá. Cadê sua blusa?

— Jogada por aí. — Respondo com naturalidade. Isso não é novidade alguma para ela.

— Louis, o que você pensa que está fazendo? — Agora é Victoria que entra no camarim.

— Vocês combinam essas coisas? — Respondo com um sorriso sarcástico. Elas odeiam isso.

— Você lida com isso? Preciso organizar os fãs do meet. — Victoria fala se direcionando a Hope e eu já sei o que me espera.

— Vai lá, eu dou um jeito nele.

— Ele ainda está aqui, vocês se lembram? — Minha empresária revira os olhos, estressada e Hope, minha agente de shows, coordenadora de publicidade e membro principal da equipe de turnês, se irrita ainda mais.

— Eu sim, mas você parece esquecer. Levanta, você precisa trocar de roupa. — Ela fecha a porta, abafando o som das pessoas desmontando tudo do lado de fora. — E eu não vou falar outra vez. — Minha deixa para pelo menos tentar me comportar de uma maneira minimamente decente.

— Tá bom, tô levantando. Cadê minha... aqui. — Pego a garrafa de Vodka que estava largada em uma bacia que agora está cheia de água.

— Tá ficando doido? Você não vai beber agora. — Ela tenta tirar da minha mão, mas eu desvio antes que ela me alcance.

— Hope, eu acabei de finalizar uma turnê de mais de três meses, será que eu posso comemorar?

— Depois do meet. Louis, troca logo de roupa. — Precisa mesmo ser agora?

— Ai que chatice. Eu tenho quanto tempo ainda?

— Sete minutos. — Só isso? Como meus quinze minutos foram pro espaço?

— Onde tá minha roupa?

— Quantos anos você tem, oito? A gente precisa fazer tudo pra você, Louis, quando vai crescer? — Tiro minha calça e meu tênis e começo a vestir as roupas limpas que ela indicou.

— Você não precisa falar igual minha mãe, Evans, se você não se lembra, eu deixei de ter uma há anos.

— Talvez seja por isso que você virou esse inconsequente irresponsável. — Pego a garrafa mais uma vez e viro na minha boca, bebendo mais uma boa quantidade. — Larga a porcaria dessa garrafa antes que eu quebre ela na sua cabeça!

— Ei, relaxa. O que deu em você?

— Parou, agora. Você tem três minutos, fecha o zíper da calça, lava esse rosto antes de vestir a blusa, amarra o cadarço do tênis direito e não como uma criança que acabou de aprender a dar um laço. — Ela fala tão rápido que eu fico tonto, ou então é a vodka.

— Como você sabe que uma criança dá laço assim?

— Você tá brincando com fogo, Louis. Eu estou há dois passos de te levar pra sala do meet pela orelha.

— Tô pronto. — Bebo mais antes da garrafa ser arrancada de mim.

— Me dá essa garrafa. Agora vamos antes que a Victoria mande alguém te levar arrastado. — Atravessamos os corredores em silêncio, apenas ouvindo os ruídos da desmontagem de toda a parafernalha externa usada no show.

— Mais trinta segundos e eu mandava um dos seguranças atrás de você. — Victoria fala quando entramos na sala minúscula.

— A Hope falou. Vocês duas combinam?

— Meia gracinha e eu começo a te dar bronca aqui na frente de todo mundo. — Ela fala entre os dentes, mesmo que por enquanto, só tenha a produção aqui. — Não abre a boca. Você não é mais criança, mas se continuar agindo como uma, vai ser tratado como uma. Eu não tenho mais paciência então fica quieto e só fala se for pra ser gentil com os fãs.

— Eu sempre sou gentil com eles.

— Pelo menos isso. — Hope balbucia.

— Vamos começar! — Vic sai por uma porta diferente da que eu entrei e eu ouço o que ela grita do outro lado. — Pessoal, nós sabemos que vocês estão ansiosos para sua vez, mas pedimos paciência para que todos consigam um tempo razoável com o Louis.

— São quantas pessoas?

— Só sorri e acena. Você optou pelo meet depois do show, então não reclama. — Hope está certa, isso foi ideia minha, mas eu não imaginei que fosse ser algo tão demorado. Na primeira turnê foi tudo tão diferente.

— Mas eu...

— Meu Deus, é você mesmo!!

A primeira garota entra berrando e eu me controlo para não expressar o quanto me assustei. Ela me abraça forte e fala umas mil vezes o quanto me ama e como eu salvei a vida dela. Isso realmente me assusta muito. É apavorante saber que tantas pessoas me usam como um apoio para saírem de situações horríveis. Sempre que penso nessa responsabilidade toda eu me desespero, aliás, eu mal sei amarrar os cadarços direito.

Essa cena se repete várias vezes, chego até mesmo a perder a conta. Meninos e meninas de todas as idades, todas mesmo, inclusive uma garotinha de uns sete ou oito anos entra chorando de mão dada com o pai. Me abaixo na altura dela e converso um pouquinho. Como essa criança chegou até mim? Não é nem o meu público. Tiramos a foto juntos, ela no meu colo e com um sorriso gigante. Uma das últimas meninas entra e mesmo com o cabelo bem atrapalhado e a maquiagem levemente borrada, é possível notar que ela é linda. Faço sinal para um dos seguranças que controlam a saída dos fãs e ele sabe o que fazer.

— Pronto, acabamos. Agora está livre. — Hope fala e eu começo a sair da sala.

— Até amanhã a tarde, você tem uma entrevista. — Droga, sempre tem alguma coisa. — Aí sim entra de férias.

— Tudo bem, tchau. — A garota que eu indiquei para o segurança aparece na porta da sala e eu ouço a voz de Hope.

— Ei, peraí.

— Eu não estava livre?

— Louis quem é essa? — Bom, eu não podia esperar que ia me livrar do interrogatório dessa vez né.

— Fica tranquila, Hope, é como sempre.

— Garoto, quantos anos essa menina tem? — Ela quase me puxa para o outro lado da sala, falando baixo.

— Ei, quantos anos você tem? — Grito para a garota que dá um sorriso.

— Vinte. — Ela não parece ter vinte, mas não sou eu que vou falar isso.

— Satisfeita? É maior de idade.

— Identidade, por favor. — A garota entrega e Hope confirma que ela realmente é maior de idade. — Desculpa, é que ele tem a responsabilidade de um adolescente de treze anos.

— Amadureci cinco anos em duas horas, perfeito. Agora eu posso ir?

— À vontade. — Saio com a menina e já tem um carro nos esperando. Dou o endereço de um hotel qualquer da cidade e a partir daí, perco a noção do que estou fazendo.

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