Capítulo 35

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23 de março de 2026 (07:45 - Cochem, Alemanha)

Alice

Quando meu despertador tocou eu já estava acordada. Na verdade, eu nem sei se cheguei a dormir. Balancei Lily e me levantei enquanto ela terminava de despertar. Escovei meu dentes e quando voltei para o quarto, minha filha estava sentada na cama, esfregando os olhinhos e bocejando. Assim que me viu, começou a fazer bico, como se estivesse prestes a chorar.

— Lily, que foi, filha? — Fico cada vez mais preocupada. Isso não pode ser normal.

— Eu não quero ir pra escola. — Ela soluça no meio da frase e algumas lágrimas escorrem. Eu não aguento mais vê-la dessa forma.

— Por que não? Você ama a escola.

— Hoje eu quero ficar aqui com você.

— Mas eu não posso ficar em casa, lembra? Preciso trabalhar. — Ela chora ainda mais.

— Não pode ficar sem ir hoje?

— Eu queria, mas não dá. Vem, vamos nos arrumar.

— Não mamãe, por favor. — A expressão dela beira o desespero e meu coração fica pequenininho.

— Meu amor, que tal se depois da escola, antes de vir pra casa, a gente passar pra comer biscoitos? — Nunca usei a prática da recompensa para obrigações, mas hoje é diferente. Lily está passando um inferno e a culpa é do pai. Não. Ela está passando um inferno, mas a culpa é toda minha.

— Você promete?

— Prometo. — Odeio promessas.

— Tá.

Finalmente ela vem para o meu colo e nós vamos tomar café da manhã. Todo o processo é tranquilo. Ela come e troca de roupa sem reclamar, mas assim que pego a minha bolsa e a mochila dela, tudo começa outra vez. Percebo que ela está prestes a chorar quando o bico volta e as lágrimas escorrem enquanto ela ainda está em silêncio, tentando conter o choro. Sei que é tudo em vão.

— Liga pra Hope. — Peço para Lexie enquanto pego minha filha no colo.

— É madrugada em Los Angeles, Alice.

— Manda uma mensagem urgente. Ela precisa encontrar o Louis antes que essa menina fique doente. — Existem vários casos de pessoas que ficam doentes fisicamente por conta de um emocional abalado. Não quero que isso aconteça com Lily.

— Tô fazendo isso agora.

— Me avisa quando ela responder. — Ela sabe que não importa quando for. Eu paro a aula se precisar.

— Lily, se acalma. Você está bem, está tudo bem.

— Eu não quero ir, não quero mamãe, por favor. — Nessa altura do campeonato nem eu quero ir mais. Estou quase me sentando e chorando junto com ela.

— O que eu faço?

— O que sempre fez. — A questão é que das outras vezes eu sabia que era pura birra. Agora não. É diferente. Minha filha está sofrendo. — Acalma ela, vai pra escola e lá ela vai se distrair.

— Estrelinha, nós precisamos ir.

— Não mamãe, não faz isso comigo. — Ela fala como se fosse o pior castigo que ela pudesse receber.

— Lily, não fala assim. Eu vou estar lá perto. Qualquer coisa você sabe que pode me chamar.

— Promete?

— Prometo. — Odeio promessas. 

One More SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora