Capítulo 46

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25 de março de 2026 (02:30 - Los Angeles, EUA)

Alice

A impressão que eu tenho é de que a viagem levou o dobro ou até o triplo do tempo que deveria levar. Lexie disse que era pra eu aproveitar, comer e beber tudo que tinha direito, mas nada passou pela minha garganta. Ela vai se decepcionar. Desço do avião já tremendo. Não sei se conseguiram tirar Lily daquela casa, não sei quem vem me buscar e por mais que eu esteja com saudade dos meus amigos, o que eu mais quero é minha filha do meu lado agora. Pego a única mala que eu trouxe na esteira e arrumo a mochila nas costas. Passo pela imigração e logo estou na área de desembarque.

— Ali, oi. — Vejo dois rostos conhecidos e me sinto em casa. É como se eu nunca tivesse ido embora.

— K, Dylan. — Abraço os dois que ficam inquietos.

— Vem, vamos logo pro carro antes que alguém nos reconheça. — Kiera começa a me guiar para fora do lugar e Dylan, percebendo minha confusão, termina a frase dela.

— Ou antes que apareça mais paparazzi. — Acho que eles não sabem que foi a própria Hope que armou aquilo tudo.

— Lily, onde ela está? — Assim que saímos do ar condicionado começo a sentir calor. Céus a Califórnia é muito quente até mesmo nessa época do ano.

— Dormindo. Na casa do Louis. — Suspiro.

— Não se preocupa. Hope e Emma não vão sair do lado dela. As duas estão revezando muito bem. — Dylan coloca minha mala no porta malas e eu me sento no banco de trás. Para minha surpresa, Kiera se senta ao meu lado.

— Minha filha tá bem?

— Está ótima. — Dylan me passa tanta confiança que nem parece a mesma pessoa de tanto tempo atrás. Aquele doido do ensino médio.

— Escuta, Ali, a gente sabe que você quer muito se encontrar com ela, mas Lily está dormindo, está bem, segura. Você também precisa descansar depois de tudo que passou, então vamos deixar esse reencontro pra amanhã de manhã. — Fico desapontada, mas entendo o que ela quer dizer. — Essa noite você vai dormir lá em casa.

— E eu vou ficar com vocês. Como nos velhos tempos. — Assim que Dylan termina de falar, as lágrimas aparecem e eu não consigo contê-las. Nada é como nos velhos tempos. Nada é igual e a culpa é toda minha.

— Ei, não chora, por favor. — Kiera me abraça e sei que Dylan está preocupado, mas não pode parar de prestar atenção na rua.

— Me desculpa, por favor, me desculpa. — É tudo que eu consigo falar.

— Pelo quê?

— Por tudo. Eu nunca deveria ter ido embora. Eu não deveria ter feito vocês sofrerem. — As palavras de Louis ecoam repetidamente na minha cabeça e tudo que eu mais quero é que elas parem.

— Você só fez o que era melhor na época. Você sabe que tinha que ser daquele jeito.

— Não. Eu fui egoísta, orgulhosa, eu sou um monstro, só compliquei tudo e causei uma confusão enorme... — Repito quase exatamente o que ouvi nos últimos dias. Ele está certo, sempre esteve.

— Para de falar essas coisas. — Kiera tenta se virar de frente para mim. — Alice, eu nunca mais quero ouvir você falando dessa forma sobre você mesma, entendeu? Não é justo.

— Eu não fui justa com ninguém. — Eu fugi, fui covarde.

— Foi sim! Você não vai repetir o discurso dele, eu te proíbo. — Apenas balanço a cabeça concordando.

— Gente, vocês acham que o Ethan... — Dylan não me deixa continuar.

— Vamos falar do Ethan em outra hora, pode ser? — Ele é um dos únicos que eu não vejo nem converso há mais de seis anos e é de quem eu mais senti falta esse tempo todo. — Ele vai te perdoar. Vai entender. — Dylan praticamente lê meus pensamentos. — Acredita em mim.

— Ali. — K chama e eu percebo que ela tem dificuldade de perguntar o que quer saber. — Como está seu braço?

— Normal. — Dou de ombros.

— Então não está mais roxo? — Dylan pergunta e Kiera desvia o olhar. Elas contaram.

— Um pouco, mas nada demais.

— Eu vou matar o Louis.

— Nós queremos denunciá-lo, Alice.

— Não! Se vocês fizerem isso, eu nego tudo. — Quanto mais coisa surgir, mais ligada a ele eu vou ficar. Uma filha é ligação demais, não quero outra coisa.

— Isso não pode continuar assim.

— Eu sei que é absurdo e que vocês não entendem, mas eu não quero afastar o Louis da Lily. Ela ama tanto o pai. Não seria justo com ela. — Não posso acabar com a felicidade dela também.

— Mas Alice, depois de tudo que ele fez...

— Não adianta, K. Deixa ela.

— Obrigada.

Quando chegamos na casa de Kiera, os dois me mostram o quarto que eu vou ficar e tentam me fazer comer alguma coisa, mas estou entalada demais para engolir qualquer coisa. Apenas digo que estou com sono e vou para o quarto, mesmo sabendo que não vou conseguir pregar os olhos por mais uma noite.

One More SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora