Capítulo 76

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08 de maio de 2026 (15:00 - Cochem, Alemanha)

08 de maio de 2026 (06:00 - Los Angeles, EUA)

Alice

Saí do avião destruída. Chorei tanto no início do vôo que a aeromoça me ofereceu água umas quinze vezes, antes do cansaço me vencer e eu dormir. Agora parece que a ficha começou a cair. Estar de volta e não ter minha estrelinha do meu lado machuca tanto. Minha visão fica embaçada e eu sei que estou prestes a chorar. Assim que liguei o celular, ele começou a vibrar sem parar, mas decidi pegá-lo apenas em casa. Provavelmente é Hope e eu não quero chorar na rua. Até Cochem ainda temos quase duas horas de viagem e pretendo usá-las para me acalmar.

— Alice, chegamos. — Abro os olhos e vejo Lexie olhando pra mim, com uma expressão preocupada.

— Eu dormi outra vez?

— Dormiu. — Peter responde sério, sem nem olhar pra mim direito.

— Que caras são essas?

— Ali... o Louis postou sobre a Lily.

— Descobriram que você é a mãe e tem pelo menos uns cinco repórteres na porta da casa de vocês. — Peter fala de uma vez e eu fico tonta. Como assim?

— Espera, como assim? O que ele fez?

— Lê. — Lexie me entrega o celular e eu esfrego os olhos para conseguir ler direito. Quase não acredito. Ele não pode ter feito o que fez.

— Será que algum dia ele vai me deixar em paz? — Suspiro. — Vamos logo encarar esse povo.

— Tem certeza? A gente pode ligar pra polícia e pedir pra tirarem eles de lá.

— Não vou fugir mais Lexie. — Já fiz o suficiente pra perceber que nunca dura pra sempre.

— Escolha sua.

Peter dá a volta no quarteirão e quando chegamos na rua da minha casa, noto alguns carros parados e pessoas com câmeras na calçada. Assim que nosso carro para, eu respiro fundo e saio dele. Instantaneamente, a atenção se volta para mim e Lexie. Minha intenção é apenas ignorá-los, mas eu não esperava as perguntas tão diretas.

— Alice, é verdade que você escondeu sua filha do Louis? — Uma mulher pergunta.

— Alice, por que só agora você resolveu deixar a Lily morar com o Louis? — Um homem fala andando na minha direção. Como assim? É isso que estão falando? Não. Eu não vou ser a vilã dessa história também.

— Deixar a Lily morar com o Louis? Foi o que ele falou?

— Não foi?

— Eu escondi a Lily sim, mas foi acreditando que estava fazendo o melhor. — Respondo primeiro a primeira pergunta. Não quero que pensem no meu ego e no meu egoísmo. — Louis e eu éramos dois adolescentes que não sabiam nem se cuidar direito. Lily é a prova disso. — Seria cômico se não fosse tão horrível. — Quando eu vim embora eu pensei que estava dando a chance para que ele construísse a carreira que ele tem hoje. Eu errei. Não me orgulho nem um pouco de ter feito isso. Foi errado.

— E levou seis anos pra contar a verdade?

— Eu não contei. Não tinha coragem. Louis descobriu por acaso, passou alguns dias aqui me ameaçando e desapareceu com a minha filha. Ele sequestrou a Lily. Tirou a menina do país sem minha autorização, que na época ainda era preciso, mentiu, não deixou meio aviso. Isso depois de ter resistido para aceitar a filha como ela é. — Percebo os repórteres trocando olhares assustados, mas não paro de falar. Não vou expor a transsexualidade da Lily, mas sei que uma hora ele mesmo vai falar disso. Eu preciso colocar isso pra fora e por mais que não seja o melhor momento ou a melhor forma, vai ter que ser assim. — Eu fiquei horas em desespero sem saber se ela estava bem, se estava mesmo com ele. Louis fez da minha vida um inferno, entrou com pedido de guarda, fez e falou muita coisa desnecessária pra conseguir o que queria. Coisas que eu me recuso a falar porque me machuca muito pensar que o garoto que eu amei não existe mais. — Só a lembrança me dá arrepios. Sinto algumas lágrimas escorrendo, mas não me abalo. Nada pode ficar pior do que já está. Limpo meu rosto, tento me recompor e termino da forma mais educada possível. — Agora eu peço educadamente que se retirem da minha porta. Eu acabei de perder a coisa mais importante da minha vida e preciso descansar, preciso de paz pra processar tudo que aconteceu.

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