Capítulo 44

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24 de março de 2026 (09:00 - Los Angeles, EUA)

Louis

Quando acordei a casa estava um silêncio absurdo. Parecia que tudo que eu vivi nos últimos dias tinha sido um sonho, mas ao sair do quarto, vi que eu realmente tinha vivido tudo aquilo. Vi roupas de criança espalhadas pelo corredor, brinquedos jogados por todos os lados e comecei a me perguntar como conseguiram tanta coisa em pouco tempo. O máximo que eu tinha mandado organizar era aquele quarto, mas tudo que fizeram foi pintar as paredes mesmo. A cama não chegou e eu tinha em mente comprar roupas novas hoje. Acho que não vou precisar.

— Cara, você tinha razão, ela é sua filha mesmo. — Vejo meu amigo saindo do banheiro do corredor, segurando o que eu acho que seja um vestido de Barbie.

— Ethan? De onde você surgiu? — Eu não tinha combinado nada, ele nem sabia que eu estava voltando.

— Cheguei tem um tempão. A menina tava correndo pela casa só de calcinha, deu um grito quando me viu e começou a chorar. Eu quase apanhei da Hope. — Isso vai acabar virando rotina aqui.

— Ela ainda está aqui?

— Ela, a Emma, a Vic, a Kiera e o James.

— A Kiera? — Eu não a vejo há tanto tempo.

— Ela mesma. Aqui, você sabia que sua filha é surda? — O encaro me perguntando se ele está falando sério.

— Eu passei tempo suficiente com ela pra descobrir. Onde ela está? — Olho para os lados, com medo de já terem levado minha filha de mim.

— Dormindo. Hope, Emma e Kiera estão com ela naquele quarto medonho. Coitada da criança, Louis, não tinha como fazer nada melhor?

— Ela que escolheu aquelas cores. — Saio pelo corredor pulando pela bagunça que está por ali. Ninguém se preocupou em arrumar essa casa não? — E eu te falei. Emma e James?

— Putos com você.

— Não é nenhuma novidade. Onde eles estão?

— Na cozinha.

— Me deixa sozinho com eles, vai encher o saco de uma das meninas. — Ele faz cara de indignado mas segue para o outro lado, provavelmente vai jogar videogame em algum canto. Entro na cozinha e vejo os dois com uma cara horrível. — Bom dia.

— Bom dia. — Vic fala e vira o computador para mim. A manchete no site de fofoca é enorme. É sobre eu ter chegado com uma criança no colo. Estão loucos querendo descobrir quem é a menina e o que ela é minha.

— Não! Eu nunca quis isso ok?

— E divulgou a hora que estava saindo da Alemanha por quê? Até a localização você deixou ativada, Louis. — Eu fui burro, não pensei direito.

— E agora?

— Agora nada. Deixa essa história quieta pelo menos até as coisas se resolverem com a Alice. — James orienta e Vic começa a falar.

— Temos um problema bem maior. Hope está irredutível com relação à denúncia. — Sei que ela quer concordar com Hope, mas o trabalho dela é outro.

— Alice nunca aceitaria isso.

— Eu não tenho tanta certeza, ela não ficou feliz em saber que você quase matou a filha dela, Louis.

— Minha filha também. — Corrijo.

— O que importa agora é que ela está vindo pra cá. Você não pode impedi-la de ver a Lily.

— Claro, só ela pode fazer as coisas. — Reviro os olhos e me sento em uma das cadeiras.

— Até onde eu sei ela nunca te impediu de ver a menina. Você não sabia que tinha uma filha, mas depois que descobriu ela nunca atrapalhou a aproximação de vocês.

— Você tá certa. — James concorda com Vic e eu suspiro.

— Tem alguma coisa que dê pra fazer?

— Até tem, mas você precisa pensar muito bem, Louis. Aquela garotinha não é uma peça de um jogo. Você não pode usá-la para atingir a Alice. — Eu não estou fazendo isso, estou?

— O que é?

— Entrar com pedido de guarda. Pelo que conhecemos da Alice, ela não te denunciaria. Principalmente sabendo que você vai correr o risco de não poder mais ver a Lily. — Ele tem razão, ela sempre se preocupa mais com a menina do que com ela mesma.

— E eu tenho alguma chance de conseguir?

— Até tem, se ela não te denunciar. Olha, Louis, eu não aconselho a fazer isso.

— Nem eu. Você mal para em casa, tem a vida pública. — Vic e James parecem até ter ensaiado esse discurso. Só não entendo o motivo de me darem essa opção se não querem que eu faça isso.

— É muito melhor se entrar em um acordo com ela. Visitas constantes, Lily passando férias escolares aqui com você.

— Por que tá falando isso?

— Porque pra conseguir a guarda da Lily nós teríamos que revirar a vida da Alice, descobrir coisas que a comprometeriam. Isso vai ser muito doloroso pra você... e pra ela.

— Pra mim? — Não entendo como pode ser doloroso para mim, eu nunca escondi meu sofrimento... já ela...

— Talvez sim. Depende do que a gente conseguir.

— Louis, pensa bem. Filho não é brinquedo, você não tem tempo pra esse tipo de responsabilidade. — Mas agora eu tenho essa responsabilidade.

— Se ela me denunciar, ela consegue provar alguma coisa?

— Ela prova que você saiu do país sem autorização dela. Só o exame de dna não é o suficiente pra você poder levar a Lily para onde quiser.

— E sobre... a... — Não sei como me referir àquele incidente, não me orgulho daquilo.

— A agressão? Depende. Se ela ainda estiver com hematomas talvez sim. Tem alguma testemunha?

— Lexie, a menina que mora com ela. — Não é grande coisa. — E sobre a Lily?

— Você quer dizer sobre ter dopado uma criança de cinco anos? Até sair um pedido pra realização de exame, acredito eu que ela já vai ter eliminado tudo. Sem chances.

— Sem provas, ela não consegue me afastar da Lily.

— Mas ela ainda não sabe disso. É um processo demorado, Louis. — E isso pode fazer com que ela fique mais tempo por aqui...

— Dá entrada no pedido de guarda. — Me levanto e pego uma maçã. — Garanta que isso seja rápido, quero que ela chegue aqui com as coisas já em andamento.

— Louis, por favor...

— Vic, não. Ela já tirou muita coisa de mim. — Saio da cozinha e vou para o segundo andar. Preciso ver como minha filha está.

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