Capítulo 7

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03 de março de 2026 (11:15 - Los Angeles, EUA) (20:15 - Cochem, Alemanha)

Alice

A rotina depois da aula normalmente é tranquila, ou pelo menos era, quando minha filha ainda me respeitava. Lily levou um ano pra comer, depois ficou enrolando para terminar o dever de casa e só agora entrou no banheiro para tomar banho. Essa criança está testando a minha paciência. Felizmente para mim, infelizmente para ela, eu sou uma professora que fez especialização em psicopedagogia. Não que eu saiba o que eu estou fazendo e que minha filha seja a criança perfeita, longe disso, mas ela fica em desvantagem quando eu já lidei com inúmeras crianças mais difíceis de lidar que ela.

— Mãe, molhei meu cabelo sem querer. — Ela sinaliza depois de bater no vidro do box para chamar minha atenção.

— Agora não tem jeito. — Preciso respirar fundo e manter a calma. Acidentes acontecem, mesmo em uma noite de inverno. — Vem, deixa eu te ajudar pra ir mais rápido.

Ela se aproxima e em dez minutos eu passo o shampoo e o condicionador nos fios lisos e castanhos dela. Aproveito para já pentear e tirar os nós mais rápido. Está tarde e ela precisa dormir logo. Amanhã tem aula e precisamos acordar cedo.

— Acabou? — Ela pergunta quando desligo o chuveiro sem aviso prévio.

— Acabou. Vem logo que eu preciso secar esse cabelo e já está ficando tarde. — Ela se enrola na toalha e corre para o quarto, com o cabelo pingando pelo caminho.

— Alice, seu celular tá tocando sem parar já tem um tempão. — Lexie aparece com o aparelho na mão.

— Nossa, nem ouvi. É a Hope. — Por que ela está insistindo tanto?

— Eu termino de arrumar a Lily. — Minha amiga fala e eu concordo.

— Precisa secar o cabelo dela.

— Deixa comigo.

— Oi criatura. — Atendo o telefone.

— Nossa finalmente, achei que tinha feito a conta errada e que já era madrugada aí.

— Mesmo se fosse, você ia ter acordado a coitada. — Ouço a voz de Kiera no fundo.

— Oi K. — Grito para que ela ouça.

— Oi Alice. — Ela grita de volta.

— Mas então, qual o motivo do desespero? Vocês vão se casar e me querem como madrinha? — Brinco. Esse é exatamente o tipo de coisa que deixaria Hope em desespero.

— Isso é mais pra frente, agora o assunto é sério. — Ok, a voz dela realmente indica que é importante.

— O que aconteceu?

— Eu nem sei como te contar isso, é tão complicado. — Minha mente gira e tenta encontrar todas as coisas ruins que podem ter acontecido com ela ou com algum de nossos amigos.

— Hope, tô ficando estressada, fala logo.

— O Louis sabe que você estava grávida quando foi embora. — Isso é impossível.

— É mentira.

— Eu queria que fosse. Tanto quanto você. — A voz dela continua séria. Isso não pode ter acontecido, não tem como ele ter descoberto sobre.

— Como?

— Ele achou uma das cartas que você mandou pra Emily.

— Isso é impossível, você tinha pegado todas e jogado fora.

— Eu pensei que tinha feito isso mesmo, mas aparentemente, tinha uma escondida. — Não, isso só pode ser um pesadelo. — E tinha uma foto da Lily com uns dois anos.

— Com dois anos? Tô tentando lembrar, acho que foi uma das últimas cartas que eu mandei pra ela.

— Ele me confrontou, perguntando se eu conhecia a criança, se o que estava na carta era verdade.

— O que você falou? — Não que isso importe muito, se ele leu a carta, já sabia de tudo.

— Alice, de que ia adiantar eu mentir? Você realmente acha que ia ter algum benefício?

— Eu não sei. Fiquei completamente perdida com isso. O que ele sabe?

— Que você estava grávida, que a criança tem em torno de cinco ou seis anos. E ele acha que é um menino. — Só fica mais complicado.

— A foto...

— É de antes. Eu até tentei explicar, mas o Louis não quer ouvir.

— Como assim?

— Ele ainda te ama, Alice. Todo mundo percebe isso. — Já tem seis anos, ele não pode ter guardado esse sentimento por tanto tempo assim. — Essa notícia foi um choque pra ele.

— Desenvolve, Hope.

— Ele canalizou tudo e transformou em raiva. Está com tanta raiva de você por ter escondido isso que agora acha que todo mundo está contra ele. O Louis não quis ouvir quando eu contei sobre a Lily ser trans, disse que era invenção minha pra confundi-lo e ele nunca conseguir encontrar vocês.

— Ele é maluco?

— Se não era antes, agora ficou. — Deu pra notar.

— E agora? Ele falou o que vai fazer?

— Não. — Não esperei uma resposta diferente. Ele sabe que o que falar pra ela, eu vou ficar sabendo. — Pra falar a verdade, acho que nem ele sabe o que vai fazer.

— Hope, se ele estiver com tanta raiva mesmo...

— Alice, ele está com raiva. Eu nunca o vi daquele jeito. — Fico quieta, tentando entender a situação e procurando uma forma de sair do buraco que eu me meti. — Ainda está aí?

— Tô. Só um pouco apavorada. Não era pra ele ficar sabendo disso assim. — Ou agora.

— É agora que eu falo que eu avisei?

— Não. Ainda é cedo demais.

— Mas agora você percebe que esse estresse poderia ter sido evitado?

— Hope, por favor, não é hora de lição de moral. Daqui duas semanas eu deixo você falar o quanto quiser, mas agora não.

— Ok, foi mal.

— O que eu faço?

— O que você acha que pode fazer? Pegar a Lily e fugir da Alemanha? — Penso seriamente nessa opção. — Não Alice!

— Eu não falei nada.

— Mas cogitou a ideia. Eu te conheço muito bem. Ali, eu sei que você está assustada, mas a gente não faz ideia do que aquela criatura vai fazer. — Isso já o suficiente para me deixar em desespero.

— É isso que me dá mais medo.

— É compreensível, mas você não pode continuar fugindo, não pode passar o resto da sua vida indo de um lado para o outro com uma criança e esperando que o Louis nunca encontre vocês. — Ela tem razão. Ele é rico demais para não conseguir colocar gente me procurando em cada país.

— Por favor, se você souber de alguma coisa, me conta.

— Tudo que eu ouvir sobre o assunto. Mas se acalma, a Vic nunca deixaria o Louis fazer algo ruim. — Nunca cheguei a conhecer a tal Victoria, mas sempre ouvi muito bem sobre ela.

— Eu realmente espero que não.

— Ela é uma boa pessoa. E o James provavelmente deixaria o Louis na cadeia se ele tentasse algo contra vocês.

— É...

— Fica calma. Vai dar tudo certo.

— Espero que dessa vez você esteja certa.

Ela desliga o telefone e eu me sento na minha cama, sem pensar em nada além do que acabei de ficar sabendo. Eu não sei o que fazer agora.

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