Capítulo 97

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ALERTA DE GATILHO: AUTOMUTILAÇÃO


06 de julho de 2026 (01:20 - Cochem, Alemanha)

Lexie

Há dias eu mal vejo Alice. Com muito custo consigo fazê-la sair do quarto e comer alguma coisa, mas é sempre uma luta diferente. Hope disse que ela falou com Lily no aniversário dela, o que não é tão ruim, mas ultimamente tenho ficado tão alerta, com medo de alguma coisa acontecer, que qualquer mínimo barulho me acorda durante a noite. Quando olhei para o relógio e vi que era madrugada, dei um pulo da cama e corri na direção do barulho.

— Alice! — Ela olha pra mim, com a expressão calma e eu me pergunto se ela percebe o que está acontecendo.

— Desculpa te acordar, bati a mão sem querer. — Ela continua pegando os cacos de vidro do chão, sem se preocupar com o sangue escorrendo e pingando no chão, se misturando com a água.

— Não tô falando do copo, mas da sua mão. Alice, tá toda machucada.

— Ah, tudo bem. — Ela olha com indiferença para os cortes e eu me aproximo devagar. Tiro os cacos maiores da mão dela e vejo que está pior do que eu imaginava.

— Tá maluca? Vem comigo.

— Mas a bagunça...

— Deixa essa bagunça, eu limpo. Sua mão está pior.

— Lexie, pode deixar, não está tão ruim. — Ela só pode estar de brincadeira.

— Alice, não tem discussão. Vem comigo. — Ela suspira e finalmente cede. Ando até o banheiro, arrastando-a pelo braço.

— O que você vai fazer?

— Lavar esses cortes. — Coloco a mão dela dentro da pia e abro a torneira, deixando água corrente limpar tudo que for possível.

— Ai!

— Desculpa. Vai doer mais, preciso ter certeza de que não vai ficar vidro neles. — Tiro da água e faço o possível para olhar dentro dos cortes maiores.

— Ai, Lexie!

— Tá acabando. Segura esse pano firme aqui. — Coloco uma toalha por cima da mão dela, pra terminar de estancar o sangue. — Eu já volto.

— Precisa disso tudo mesmo?

— Precisa.

Deixo Alice no banheiro e vou até o quarto dela. Termino de juntar o vidro do chão, seco a água e confiro mil vezes que não deixei nenhum pedacinho de vidro esquecido. Não quero que Alice chegue nem perto de algo cortante, não depois do que eu acabei de ver. Volto pro banheiro e encontro uma cena um tanto inusitada. Alice não fez o que eu mandei.

— Alice! — Ela está sentada no chão, encarando a mão que está pingando sangue outra vez, e a toalha que eu havia dado, em cima da pia. — O que deu em você?

— Eu... eu não sei. — Ela parece despertar de um transe.

— Olha só, eu vou limpar isso, fazer um curativo e você vai deixar tampado. Olha pra mim, Alice.

— O que foi?

— Você vai deixar o curativo que eu fizer, certo?

— Vou. — Não consigo me convencer, mas preciso mostrar que confio nela. — Só não aperta muito, por favor.

— Não se preocupa com isso. — Repito todo o processo anterior, enquanto ela reclama da dor. Em pouco tempo consigo estancar o sangramento e faço um curativo firme, que seja difícil para ela retirar. Nesse ponto, qualquer coisa que exija muito esforço vai fazê-la desistir de tentar. Ela volta para o quarto dela e eu para o meu, sem saber se vou conseguir dormir tranquila.

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