Capítulo 32

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20 de março de 2026 (21:30 - Cochem, Alemanha)

Alice

Louis acabou limpando a cozinha toda. Quando voltei para avisar que Lily estava esperando por ele, encontrei meu ex namorado sentado no sofá, falando com alguém no telefone, e a cozinha completamente limpa. Me pergunto se realmente foi ele ou Lexie saiu do casulo dela, enfrentou ele e fez tudo por conta própria, mas isso é tão difícil de acontecer quanto ele ter tomado a iniciativa. Quem quer que tenha feito, tem minha eterna gratidão. Com Louis ao lado de Lily para ela dormir e a casa arrumada, consegui pegar meus materiais para estudar um pouco e preparar minhas aulas.

— Ela dormiu. — Foi até mais rápido do que eu imaginava.

— Tirou o implante?

— Aham. Ela já trocou as baterias também. — Ótimo, assim não preciso entrar no quarto dela pra deixar pronto pra amanhã.

— Ótimo.

— Alice, eu estava pensando em dar uma volta com a Lily amanhã. — Eu já esperava esse pedido. Até Lily tinha pedido para passar mais tempo com o pai.

— Eu saio do trabalho às 18, se estiver tudo bem pra você...

— Eu preferiria que fosse durante a tarde. — Ele não prestou atenção no que eu acabei de dizer?

— Louis, não dá. Eu não posso faltar e a Lexie também tem compromissos.

— Eu posso ir sozinho com a Lily. — Ele mal cuida dele, está pensando que vou deixá-lo sozinho com uma criança?

— Não. Ela ainda está se acostumando, tem hora que não sabe falar direito o que quer. — Ele vive me pedindo ajuda para entendê-la e agora quer sair sozinho com ela? Não faz sentido.

— Qual o problema, Alice? Ela também é minha filha. — Tecnicamente, para a justiça não é não, mas eu nem me atrevo a falar isso.

— Suponhamos que ela vá com você. Se ela quiser usar o banheiro?

— Eu vou com ela. — Ele fala como se fosse simples, como se minha pergunta fosse estúpida. Isso só prova o quão despreparado ele está.

— No masculino? Acha mesmo que ela vai querer entrar?

— Qual o problema? Vai estar comigo.

— Louis, você mal conhece a menina. Ela nunca aceitaria entrar no banheiro masculino. — Não só por ser transgênera, mas porque foi ensinada que nunca deveria entrar lá. — Fora que ainda não gosta quando você a ajuda com essas coisas. Deixa isso pra outro dia.

— Alice, eu juro que eu tento entender, mas não consigo. Não foi você que acabou de dizer que estava feliz por nós estarmos nos dando bem?

— Sim, mas isso é diferente. Sair sozinho com ela você não vai. — Até agora eu cedi, fui compreensiva, aceitei as coisas, mas isso eu não quero.

— E se ela quiser?

— Ela não vai pensar nessas coisas. Louis, é não e ponto. — Continuo irredutível e ele anda em círculos pela sala. Eu me levanto da mesa, me colocando na frente dele, que suspira.

— Eu estou tão exausto disso tudo, Alice. Você não tem ideia.

— Pode acreditar, eu tenho sim. — Não aguento mais as brigas, os desentendimentos, o deboche na voz dele, o olhar de superioridade, as ameaças camufladas...

— Tudo tem que ser sempre do seu jeito. Você sempre tem que decidir e aprovar as coisas antes de acontecerem. — Lily confia em mim e me respeita. Agora ele vai reclamar por ela me pedir autorização para fazer algumas coisas?

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