Capítulo 5

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01 de março de 2016 (15:45 - Cochem, Alemanha)

Lexie

Sempre amei cuidar de Lily, mesmo que eu tenha tido muita dificuldade no início, já que não sabia trocar uma fralda. Fomos nos adaptando uma com a outra e hoje somos praticamente melhores amigas. Enquanto ela brinca, eu estudo. Nos sábados eu dou aulas particulares e ela fica quietinha, sempre por perto, ou desenhando, ou brincando com alguma coisa. Algumas vezes eu até deixo que ela assista algum filme ou desenho, obviamente sem a Alice ficar sabendo, ou então eu estaria morta.

Lily pode ser uma criança com muito mais atitude do que deveria ter, é muito esperta e inteligente também, mas não dá trabalho algum. Ela gosta de desafiar as pessoas e tenta contornar algumas normas, mas comigo ela é um anjo. Obedece o que eu falo e sempre se comporta. Só existe um tópico constante que ela insiste há quase um ano e ainda não conseguiu uma resposta que considerasse boa o suficiente.

— Lexie, e meu pai? — Oh, não. Não vamos falar sobre isso, eu sempre me enrolo e não sei muito bem o que dizer.

— O que tem ele?

— Você sabe quem é? — Odeio mentir para ela, mas se eu falar que sei, só vai piorar tudo.

— Não. Só tem uma pessoa que sabe.

— Minha mãe. Por que ela não me conta?

— Eu não sei, meu amor. — Pelo menos isso é verdade. A única coisa que eu sei é que Alice escreveu várias cartas para Louis, mas nunca chegou a enviá-las. Nunca entendi o motivo de serem cartas, ou dela mantê-las guardadas em uma gaveta no quarto. Isso aconteceu até Lily fazer três anos, alguma coisa tirou Alice dos eixos e ela nunca mais escreveu nada.

— E se ele não me queria?

— Ei, você sabe que isso não é verdade. Sua mãe já te contou que ele nem sabe sobre você. — Ela também nunca quis que a filha se sentisse rejeitada, o que eu admiro bastante.

— Eu queria conhecer ele.

— Eu vou conversar com ela, tudo bem?

— Outra vez? — Já até perdi a conta de quantas vezes falei isso.

— Outra vez, mas Lily, não fica triste tá bom? Sua mãe sabe o que faz e te ama muito. — Me sinto na obrigação de reforçar.

— Eu sei. — Ela responde sorrindo.

— Que tal a gente ir comer um pedaço de bolo? — Confirmo que é hora de comer.

— Posso tomar leite com chocolate? — Não deveria, mas eu não ligo.

— Pode. Vem, sobe aqui.

Ela se pendura nas minhas costas e eu vou andando devagar até a cozinha. Ela está crescendo e ficando cada dia mais pesada, mas eu me recuso a parar de carregá-la dessa forma. Pelo menos enquanto eu ainda tiver força.

— Lexie.

— Oi.

— Falta muito pra minha mãe chegar? — As mãozinhas pequenas se movem rápido e por um segundo eu preciso me concentrar pra não me perder.

— Não. Antes do jantar ela está aqui, por que?

— Eu tô com saudade dela. — Essas duas são super grudadas e mesmo estando acostumada com a rotina maluca da mãe, Lily sente falta.

— Logo ela está aqui. Você quer assistir algum desenho? — Mais uma regra quebrada pra lista de hoje.

— Quero.

— Pega o implante e escolhe pra eu colocar pra você. — É o único momento que ela não reclama de usar o implante. Na verdade, para ver desenho e ir para a escola ela aceita tranquilamente.

— Eu sei colocar.

— Lógico que sabe. Então vamos.

— Primeiro eu vou escovar os dentes. — Ela informa depois de colocar o prato sujo de chocolate na pia. Mais tarde eu cuido disso.

— Bem lembrado. Lily, acho que é você que é minha babá.

— Eu também, você é toda esquecida.

— Só não conta pra sua mãe. — Ela ri.

— Tá bom.

— Vem estrelinha. — Chamo pelo apelido que dei quando ela ainda era bem pequena.

— Eu amo que vocês duas me chamam de estrelinha.

— Então eu vou falar mais vezes.

Ela então sobe novamente nas minhas costas e eu sigo para o quarto dela, onde a menina coloca o implante. Volto para o meu quarto e ligo a televisão, ela escolhe o que vai assistir e eu me preparo para estudar ao som de Alice no país das maravilhas, o filme favorito dela.

One More SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora