Capítulo 68

21 3 11
                                    

05 de maio de 2026 (13:00 - Los Angeles, EUA)

Alice

Não dormi. Depois de tantas noites tendo pesadelos e dormindo mal, dessa vez eu sequer fechei os olhos. Primeiro rolei na cama por horas, depois andei pela casa, tentei até comer alguma coisa, mas pra variar, não desceu, assim como aconteceu no almoço.

A advogada passou os últimos vinte minutos me explicando como tudo vai acontecer. Primeiro eu seria chamada, ela e James fariam perguntas e eu tinha como maior obrigação dizer a verdade, mesmo se fosse uma resposta óbvia ou algo que vai me prejudicar. Depois meus amigos vão falar. Só então será a vez de Louis e as pessoas que ele chamou. Nenhuma das pessoas que vão falar por nós podem acompanhar a audiência, o que significa que eu estou sozinha.

A primeira parte foi fácil. Ela só me fez perguntas genéricas, perguntou sobre a rotina, os cuidados médicos de Lily e todas essas coisas que eu tentei falar com o Louis um milhão de vezes. Comecei a ficar nervosa de verdade quando ela indicou que havia terminado. Isso significava passar a palavra para James, e eu sabia que ele não ia brincar.

— Você pode contar sua rotina com a criança mais uma vez? — Eu já esperava essa pergunta outra vez, por isso repeti praticamente as mesmas palavras que já havia falado antes.

— Claro. Nós nos levantamos cedo, nos arrumamos e vamos juntas para a escola. Sou uma das professoras dela e também dou aula para o ensino médio. Nossos horários são os mesmos, então quando o sinal bate, ela me espera na sala de aula. Eu a busco lá e vamos para casa juntas também. À noite ela tem horários definidos, chega, toma banho, brinca um pouco, faz o dever de casa, janta, se arruma para dormir e brinca mais antes de ir para a cama.

— Então você fica mais tempo com ela durante o final de semana, certo?

— É... mais ou menos. Aos sábados eu trabalho das nove às dezoito em uma lanchonete, pra complementar a renda. Aos domingos eu fico menos tempo, entro depois do almoço e saio às dezessete.

— E com quem Lily fica nesse período? — Sei onde ele quer chegar, também fui alertada quanto a isso.

— Com Lexie, minha amiga. Ela mora com a gente desde que Lily tinha dois anos.

— E você já conhecia a Lexie antes? — Ele quer chegar no ponto de que eu deixei uma desconhecida morar comigo, que ela cuidava sozinha da minha filha.

— Não éramos amigas, mas eu já a havia visto pelos corredores da faculdade. Tinha alguns amigos que sabiam quem ela era.

— E desde o início ela ficava com Lily durante os finais de semana?

— Pouco tempo depois. Foi quando eu consegui o emprego que ela começou a cuidar da Lily pra mim.

— E por que não uma babá? Alguém com mais experiência.

— Eu já tinha a confiança da Lexie, não queria colocar outra pessoa estranha em casa. — Vejo minha advogada sorrindo de leve encaro como uma confirmação de que fiz certo. — E também não tinha dinheiro o suficiente.

— Lexie não cobrava?

— Não. Ela foi morar comigo e no início pagava um valor simbólico pro aluguel do quarto. A maior ajuda é e sempre foi com a divisão das contas. Quando começou a ficar com a Lily, disse que seria uma forma de pagamento pelo quarto, já que eu não cobrava quase nada.

— E, por algum motivo, já aconteceu dela não poder ficar com a Lily?

— Já.

— E com quem ela fica enquanto você trabalha?

— Comigo. Eu tenho permissão para levá-la para a lanchonete. Ela fica sempre por perto e não atrapalha em nada. — Volto a ficar nervosa. Minhas mãos começam a suar e minha voz falha.

— Mas toda a correria pode causar um acidente, certo?

— Nunca aconteceu nada grave.

— Mas já aconteceram acidentes.

— Poucos. — Consigo contá-los nos dedos, mas sei que não importa.

— Para finalizar, eu tenho aqui algumas fotos que gostaria que você olhasse. — Ele entrega uma para mim, e outra para o juiz. Engasgo quando vejo o rosto, os olhos me encarando. — Você reconhece esse homem? — Começo a tremer mais ainda e percebo um pedido de desculpas no olhar dele. Isso é coisa do Louis.

— Sim.

— Pode dizer o nome dele?

— Nate. — Engulo em seco. — Nate Foster.

— Ele foi seu namorado, certo? Antes do Louis.

— Sim. Ele foi meu primeiro namorado. Me desculpa, mas qual a relevância disso? — Ainda não entendi o motivo de trazer isso pra cá. Não faz sentido algum.

— Fica calma. — Minha advogada fala baixo, mas o suficiente para que todos presentes fiquem tensos junto comigo.

— Pode nos contar o motivo desse término? — Fecho os olhos, tentando me controlar. Já basta o relatório daquela psicóloga que não deve ter sido nada bom, o juiz não precisa ver com os próprios olhos o quão descontrolada eu sou. Respiro fundo e tento pensar rápido pra falar apenas o necessário.

— Ele não era uma pessoa boa. Era abusivo, não me tratava bem e fez coisas horríveis comigo. Meu psicológico ficou destruído depois que terminei o namoro com ele.

— Então você afirma que Nate era uma pessoa perigosa. — O que ele quer com isso? Me torturar mais do que o Louis já fez?

— Sim.

— Se ele era uma pessoa perigosa, como você diz, por que colocou sua filha na presença dele? — Olho rápido para a advogada. Ela está confusa, mas eu não. Sei onde quer chegar. — Mais de uma vez.

— Do que... — Ela começa, mas James a interrompe, me entregando várias imagens, as mesmas que entrega para o juiz.

— Tenho fotos que comprovam que Alice e Nate ficaram juntos quando Lily tinha dois anos. Os dois se encontravam às escondidas, ele ia até a casa dela e até mesmo passeios com a Lily os dois fizeram. — Olho para as fotos atordoada. Como ele conseguiu isso? Como? Não faz sentido. Se Louis soubesse disso a mais tempo ele teria ido atrás de mim muito antes. — Alice, se você tinha consciência de que o senhor Foster era perigoso, por que se aproximou novamente dele? — Eu não me aproximei, eu... — Por que colocou até mesmo sua filha em risco, deixando que ele a levasse para passeios? — Eu não sei o que falar. Ninguém nunca soube disso, ninguém podia ficar sabendo.

— Alice, você precisa responder. — Ouço a voz da minha advogada e falo a primeira coisa que vem na minha cabeça.

— Eu não posso... não sei por que fiz isso.

— Você estava ciente de que o irmão mais velho do senhor Foster estava foragido na época? Ele havia sequestrado um bebê, dois anos antes.

— O quê? Eu nunca soube de irmão nenhum. — Eu sabia, sempre soube, mas se eu falasse a verdade, ia ser ainda pior. Samuel era exatamente como o irmão, se não pior.

— É tudo. — James recolhe as fotos e volta a se sentar ao lado de Louis.

O resto é apenas um borrão para mim. Entro no modo automático e não processo mais nada do que é falado. Vejo Louis me encarando, com um sorriso debochado no rosto. Não sei como ele conseguiu aquelas fotos, mas percebo que planejou fazer isso. Ele sabe como me machucar, sabe exatamente quais os meus pontos fracos e é neles que ele está jogando sal. Louis abriu todas as feridas que ele mesmo ajudou a cicatrizar e está fazendo questão de enfiar o dedo nelas, enquanto me observa gritando por conta da dor agonizante. 

One More SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora