Capítulo 19

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14 de março de 2026 (20:15 - Cochem, Alemanha)

Louis

Assim que voltei para o hotel no qual estou hospedado, tomei um banho demorado, tentando absorver todas as informações. Passei dias me negando a acreditar na história de Hope de que aquela criança da foto na verdade era um menino, e agora eu tenho a confirmação de que ela falava a verdade o tempo todo. Mesmo não gostando nada disso, devo um pedido de desculpas a ela. Me jogo na cama e lembro que minha irmã não faz ideia do que tem acontecido. O máximo que Lucy sabe é que eu precisava de um tempo pra pensar na vida. Pego meu celular e ligo para ela, que atende no segundo toque.

— Finalmente apareceu né. Onde você se meteu? — Pela reação dela, Vic cumpriu o combinado de não falar onde eu estava, mas se esqueceu de avisar para Lucy que eu estou bem.

— Nesse exato momento? Na Alemanha. — Olho pela janela e vejo a rua iluminada, algumas pessoas agasalhadas andando de um lado para o outro e o vento balançando as poucas árvores.

— Louis, o que você tá fazendo na Alemanha? — Ela está tensa. Mal sabe o que me trouxe aqui e já está com medo de me imaginar indo atrás de Alice.

— Eu vim atrás da minha filha. — O silêncio toma conta da chamada e eu verifico se minha irmã ainda está na linha.

— Filha? — Ela mal consegue falar. Acho que fui muito direto. — Por favor, comece a fazer sentido.

— Alice estava grávida quando foi embora. E eu só descobri isso agora. — Prefiro resumir toda a história. Quando eu voltar eu explico melhor, mas por enquanto isso é tudo que ela precisa saber.

— Você engravidou essa menina? Louis eu pensei que você tinha feito tudo direito. — Reviro os olhos.

— Eu acabei de te contar que eu sou pai e você quer me dar sermão?

— Faz parte do meu papel. — Ou talvez seja a forma que ela encontrou de processar a informação. — Mas e aí?

— O quê?

— Conheceu a menina?

— Não. Mas falei com a Alice, e tenho uma foto dela. — Procuro a imagem onde deixei quando cheguei e encaro o sorriso dela. Céus eu sou muito bom nisso.

— Me manda.

— Vou mandar agora. Ela é idêntica a você quando pequena. Chega a assustar.

— Caramba! — Ela tem o mesmo choque que eu ao ver a foto. Essa menininha é a cara da nossa família.

— Também levei esse susto.

— Como ela se chama?

— Lily.

— Alice soube escolher bem. É um nome lindo. — Só então paro pra pensar. Esse pode não ser o nome que a mãe dela escolheu. Não sei quando ela começou a utilizar pronomes femininos, não sei se tinha idade para ajudar com um nome novo.

— Não sei bem se foi a Alice que escolheu esse.

— Como assim?

— Alice disse que Lily é uma menina trans. — Isso ainda fica engasgado. Acho que só vou acreditar mesmo quando vê-la pessoalmente. Espero que isso seja mesmo verdade e eu não esteja fazendo papel de idiota. — Talvez ela tenha escolhido o próprio nome.

— Uau. Espera, quantos anos ela tem?

— Quase seis.

— E como vocês decidiram as coisas?

— Vocês quem?

— Você e a Alice. — Como se eu realmente fosse chegar a um acordo com ela. — Vocês não conversaram?

— Mais ou menos.

— Como assim?

— Ela ficou tentando se justificar o tempo todo, como se tivesse o controle da situação.

— E se ela tiver?

— Lucy, ela escondeu minha filha por cinco anos. Ela não é a vítima nessa história, muito menos vai ter o controle. — Ela não tem direito algum de exigir algo.

— O que você quer dizer?

— Que ela pode ter feito o que quis nesse tempo, mas agora eu mando. É minha vez de controlar as coisas. — Ela teve quase seis anos só para ela, agora é a minha vez, mesmo que as pessoas ao redor não concordem muito, é assim que vai ser.

— Você tem certeza de que esse é o melhor caminho?

— E tem outro?

— Tem. Louis, você precisa pensar no que é melhor para essa criança, não só para você. — Reviro os olhos mais uma vez. Eles pensam que eu sou algum monstro?

— Eu sei disso.

— Você não vai fazer besteira né?

— Não pretendo. Mas isso também depende da Alice.

— Fica tranquilo, Lou. Vocês precisam se resolver antes de tudo. Muita coisa ficou em aberto quando ela foi embora.

— Eu sei, mas nada disso importa agora, só o tempo que eu perdi com a Lily. — Não vou ficar revirando o passado, brincando com fantasmas, enquanto tem algo muito mais importante no momento.

— Pensa duas vezes antes de fazer qualquer coisa, por favor. — Eu pensei cinco só antes de vir para cá. E isso é um novo recorde.

— Eu tenho tudo sob controle.

— Vou acreditar nisso. Boa sorte.

— Obrigado. Agora preciso desligar. Vou dormir cedo para compensar a exaustão do vôo e me preparar para conhecer a baixinha amanhã. — Não sei qual vai ser a reação dela, mas espero que Alice não encha a cabeça da criança, fazendo com que ela me odeie antes de me conhecer. Isso se ela já não tiver feito isso.

— Tudo bem.

— Ah, mais uma coisa. Como vai a vovó?

— Ela está ótima. Qualquer coisa eu te ligo, não se preocupe com ela.

— Ótimo. Até mais.

— Até.

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