Capítulo 2

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28 de fevereiro de 2026 (15:30 - Los Angeles, EUA)

Louis

Depois de uma manhã conturbada, sem conseguir encontrar uma forma de mandar aquela garota para casa, cheguei atrasado no estúdio para a entrevista, que mesmo estando marcada para o meio da tarde, exigia minha presença antes do almoço, que eu tive que pular. Enquanto faziam minha maquiagem, Hope falou na minha cabeça, enquanto faziam testes com o microfone, Victoria falou na minha cabeça. Dessa vez eu sei que mereci, mas nunca vou admitir para as duas que elas estavam certas. O tempo passa voando e do nada já estamos ao vivo. Não posso errar, não posso errar.

— Boa tarde, Louis, é uma honra ter você aqui. — O apresentador fala sorrindo exageradamente e eu me esforço para manter a atenção nele.

— Boa tarde. É uma honra para mim, estar aqui hoje.

— Você acabou de finalizar uma turnê, sua segunda turnê, certo?

— Foi minha segunda turnê, mas a primeira que eu saí da América do Norte. — Tento ser o mais direto possível, aprendi de formas horríveis que quanto mais a gente fala, mais coisas eles encontram para tirar do contexto, até mesmo em uma entrevista ao vivo.

— Você passou por quantos países?

— Treze, mas não me peça para citar todos porque eu provavelmente vou me esquecer de algum. — E se isso acontece, é bem provável que tenha uma revolução nas minhas redes sociais. Observo Hope com o canto do olho e ela parece ter aprovado a resposta.

— Tenho registros que foram países na Europa, Ásia, América do Sul, África e América do Norte. — Concordo em silêncio, mas sempre mantendo o sorriso no rosto. Nossa como minha cabeça dói. — Você fez uma turnê que passou por todos os continentes. Como se sente?

— Como se estivesse dormindo. Eu nunca imaginei que um dia fosse conseguir realizar esse sonho.

— Mas parece que você realmente nasceu para os holofotes, que parecem te amar. — Todo dia uma coisa diferente, boa ou ruim, sempre está lá. — Existe alguma parte ruim em ser o centro das atenções?

— Ruim mesmo não, mas confesso que um pouco de privacidade seria bom algumas vezes.

— Todos sempre pedem privacidade. — Ok, eu sei, foi uma resposta clichê, mas o que ele queria que eu falasse? Que gostaria de não ter tanta gente no meu pé? Que não gosto de pensar em ser tão responsável? Que a ideia de eu ter salvado vidas de adolescentes me assusta? Que eu preciso lidar com minha agente de shows e entrevistas desaparecendo por três dias no meio de uma turnê para se encontrar com a minha ex namorada?

— Talvez seja porque é o mais difícil de se ter atualmente. Não reclamo de nada, toda essa atenção é fruto do meu trabalho, do que eu tenho lutado para conseguir desde os meus dezoito anos. — Agora Hope está com a cara feia, o que eu fiz?

— Mas a gente entende que seria melhor aparecer menos nos sites de fofocas. — Olho para onde ele aponta e vejo imagens minhas saindo do show de ontem com a garota. Como conseguiram isso? Agora deu pra entender a mudança de expressão das duas mulheres no canto oposto do estúdio.

— Ou pelos motivos certos.

— Você fala muito pouco sobre sua vida pessoal, existe algum motivo específico? — Ei, espera aí. Eu já pedi mil vezes para as duas cortarem esse tipo de assunto, odeio falar disso.

— Acredite quando eu digo que minha vida pessoal não é tão interessante quanto as pessoas teorizam. O mais importante todos sabem.

— Sim, sim. Você já falou algumas vezes sobre seus pais não apoiarem sua carreira desde o início. — Acabei soltando em uma entrevista, logo no início de tudo, e até hoje circulam algumas teorias. — Vocês ainda tem algum contato?

— Não. A última vez que tive qualquer comunicação foi em 2019.

— Uau, mais de seis anos atrás. — Muita aconteceu há mais de seis anos.

— Verdade.

— E sua irmã, como vai? Ela já provou ser sua fã número um várias vezes. — Essa criatura é uma figura. Faz tudo que pode para me ajudar, mesmo tendo que conciliar tudo com a própria banda, que cresceu bastante nos últimos dois anos.

— Lucy é meu maior ponto de apoio, junto com a nossa avó. Sempre que pode ela está nos shows, indo de um lado para o outro, garantindo que tudo está perfeito. — E eu faço o mesmo quando tenho alguma brecha na agenda, mas não vou falar isso e correr o risco de uma legião de fãs aparecer para tirar proveito da situação.

— Enquanto isso ela ainda trabalha divulgando a música dela, não é mesmo?

— Sim! A banda dela é incrível e eles acabaram de lançar um álbum novo, vão ouvir e apreciar aquela obra de arte. — Falo em tom de brincadeira, mas sei que nesse momento pelo menos um terço das pessoas que estão nos assistindo foi procurar sobre o álbum.

— Nós com certeza vamos. E falando em álbum, você também lançou um recentemente, pegando todo mundo de surpresa. — Ai eu amo esse caos. — Como foi o planejamento dele?

— A verdade é que não foi. Esse álbum seria lançado apenas no mês que vem, mas eu estava ansioso para cantar algumas músicas dele nos shows, então consegui convencer o pessoal a fazer o lançamento antes. — Não lembro exatamente quando pensei nisso, mas acho que foi em algum momento entre a Alemanha e a Espanha.

— Algumas músicas? Quais?

— Welcome to Wonderland é uma delas. — Até hoje não sei se fiz bem ou não em finalmente ter lançado. Cada verso é uma facada. — Escrevi logo no início de tudo, mas não pôde entrar no primeiro e finalmente foi lançada.

— Ela é realmente muito boa, eu particularmente estou viciado nela.

Mais algumas perguntas depois, sobre planos para o futuro e músicas novas, algumas tentativas de falar sobre minha vida pessoal e a entrevista finalmente acaba. Volto para o camarim e começo a revirar a geladeira atrás de alguma coisa para beber.

— Esquece, não tem o que você quer, eu mandei tirarem. — Dou de ombros e me sento em uma cadeira, sem olhar para ela. — Louis você tá me ouvindo?

— Aham.

— Ótimo, a entrevista foi perfeita. — Não pode ser verdade. Como a Hope ainda fala isso?

— Perfeita? Desde quando eles podem se sentar e fazer perguntas sobre meus pais? — Isso é inadmissível.

— Essas coisas acontecem, Louis. — Mas não podem continuar acontecendo. — O sonho de todo famoso é que os entrevistadores respeitem as regras. — Victória tenta contornar a situação.

— Mas é trabalho dela não deixar isso acontecer.

— Na verdade isso é trabalho meu. — Victoria me corrige. Eu sei que é trabalho dela, mas... — Para de procurar motivo para discutir com a Hope, você está assim há semanas.

— Desde que eu resolvi passar o Natal na Alemanha.

— Ainda nisso? Era a semana da nossa pausa, Louis. — Teoricamente sim mas... estávamos no meio de uma turnê.

— Ele não está assim porque eu não fiquei com vocês. Ele já é arrogante por natureza, só piorou um pouquinho porque sabe que eu fui ver a Alice. — Fecho a cara. Óbvio que eu fiquei com raiva, mas ela não precisava falar o motivo para Victória.

— Eu não acredito que todo esse caos é por causa dessa garota, Louis. — Ela pode não se lembrar, mas foi essa garota a responsável por eu estar aqui hoje. Ela que me fez escrever aquela porcaria de música que foi pro youtube, e foi assim que fui descoberto.

— Aliás, ela está bem. — Hope fala passando por mim e eu abro a boca para falar alguma coisa, mas nada sai. Eu não sei o que fazer com essa informação. — Se queria saber, era só ter perguntado. — E então ela sai do camarim, me deixando com cara de idiota olhando para o espelho.

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