Capítulo 28

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18 de março de 2026 (19:00 - Cochem, Alemanha)

Louis

Toco a campainha uma segunda vez e começo a ficar impaciente. Sei que elas estão em casa, mas não consigo entender tanta demora pra abrir uma porta. Finalmente ouço passos vindo de dentro e a porta se abre. Vejo Lexie com o olhar exausto enquanto Alice conversa com Lily, usando os sinais que eu não faço ideia do que significam.

— Chegou em uma hora boa. — Ela fala baixo, sem chamar muita atenção das outras duas.

— O que está acontecendo?

— Lily não quer guardar os brinquedos.

— Papai! — A garotinha corre para os meus braços assim que me vê.

— Ótimo! — Alice fala assim que me vê e entrega o implante para Lily, que logo encaixa o aparelho na orelha.

— Amorzinho, o papai precisa muito conversar com a mamãe. — Assim que termino de falar, ela cruza os braços e faz bico.

— Agora?

— É sim.

— Eu achei que você tinha vindo me ver.

— Eu vim, mas antes eu e a mamãe precisamos ter uma conversa de adulto. — Ela não parece nem um pouco feliz.

— Mas eu quero ficar com você.

— Eu disse. — Alice sussurra mais uma vez e percebi que ela estava se referindo ao dia que fui com elas até a escola.

— Lily, vem comigo, vamos lá pra dentro. — Lexie tenta, mas é em vão.

— Eu não quero!

— Tenta alguma coisa, por favor. — A cacheada praticamente me intima a falar com a minha filha e eu realmente tento.

— Filha... — Ela arranca o implante do ouvido e quase joga no chão, mas Alice salva o aparelho e coloca de volta na orelha da filha.

— Chega, Lily! Se isso aqui quebrar, você fica sem, esqueceu? Vai pro seu quarto e fica lá. — Ela cruza os braços outra vez, tentando desafiar Alice, mas percebe que dessa vez não tem como vencer e sai batendo pé.

— Vou ficar de olho, qualquer coisa já sabe. — Lexie fala e sai, me encarando.

— Ela não gosta mesmo de mim. — Falo e por mais que Alice tente contornar, nós dois sabemos que essa é a verdade.

— Não é isso... tá, é mais ou menos isso. O que você quer? — Ela pergunta enquanto começa a juntar os brinquedos espalhados pela sala.

— Quer ajuda?

— Não precisa, tem que ser tudo onde ela sabe que fica.

— Ah. — Ela nem me dá a chance de aprender...

— Pode ir falando.

— Eu estava pensando nos documentos da Lily. — Tento começar devagar, sem ir direto ao ponto. De qualquer forma, vou sair daqui sendo xingado de todos os nomes possíveis hoje.

— Você quer mudar pra colocar seu sobrenome?

— É...

— Bom, eu já sei mais ou menos como fazer isso. Há dois anos eu consegui trocar o nome dela em todos e foi um caos. — Agora eu fui pego de surpresa, não imaginei que uma criança tão pequena pudesse ter os documentos todos modificados dessa forma.

— Uau, você realmente se empenhou.

— Sim. A coisa boa foi que na época ela ainda não tinha passaporte, então foi feito de uma vez só.

— Será que pra colocar o sobrenome é diferente? — Talvez seja mais fácil.

— Acho que antes de tudo precisa do exame de dna. — Agora ela me lembrou o real motivo de ter vindo aqui. Vic mandou eu contar o que eu tinha feito, mas não sei se vai ser realmente necessário.

— Ah, verdade...

— Papai! Agora você vai brincar comigo? — A garotinha corre até mim outra vez e quase consigo ler os pensamentos de Alice, me amaldiçoando e contando até um milhão para não perder a paciência.

— Quem disse que você podia sair do seu quarto?

— Eu quis. — Eu jurei que Alice estava exagerando quando disse que Lily tem a personalidade forte e é teimosa igual a mim, mas parece que na escola que eu fiz aula, Lily era a diretora. De qualquer forma, acho que é meu momento de ser o bonzinho.

— Deixa ela, não tem problema.

— Viu, ele deixa.

— Eu desisto. Eu vou tomar meu banho e quando eu sair vai ser a sua vez.

— Não vou. — Ela continua contrariando a mãe e eu finjo que não é nada importante.

— Ah vai sim.

— Vou nada, meu pai me protege.

— Você fez, você arruma. — Alice fala apontando para mim. — Dá seu jeito.

Meu momento sozinho com Lily durou exatos trinta segundos. Logo Lexie apareceu e ficou de longe observando enquanto a menina bagunçava tudo que Alice tinha arrumado. Ela realmente estava determinada a testar a mãe, enquanto eu estava começando a ter medo de ser pai. Até hoje eu podia jurar que ela era um anjo, mas agora estava repensando esse rótulo. Preciso ligar pro Ethan e pedir para ele arrumar a casa toda e deixar tudo pronto para uma versão reduzida e piorada de mim.

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