Capítulo 21

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Flashback - 10 de dezembro de 2019 - Los Angeles

Alice

— É a terceira vez essa semana. — Hope fala enquanto eu dou descarga e me sento no chão do banheiro. — Você tá bem?

— É a terceira vez hoje. — Há dias estou passando mal e nada parece ajudar. — Nossa eu vou vomitar o meu estômago. — Vomito mais do que não tem em mim, parece que isso nunca vai ter fim.

— O que você comeu?

— Nada parou no meu estômago hoje, só água. — Falo assim que termino e me sinto um pouco menos destruída. Me levanto e escovo meus dentes enquanto sinto o olhar de Hope em mim. Meu problema é não conseguir esconder nada dela.

— Alice, você não tá com bulimia né? — A pergunta dela me assusta.

— Não! Por Deus, Hope, eu não tenho problema algum com meu corpo, você sabe disso.

— Todo cuidado é pouco. Você não pode continuar vomitando desse jeito. — Eu sei disso, já devo estar desidratada porque mesmo bebendo água, jogo fora mais do que coloco pra dentro.

— Vai passar, deve ser alguma virose.

— Ali. — Ela me chama, séria, depois de um tempo em silêncio.

— Oi. — Voltamos para meu quarto e me jogo na cama, enquanto ela apenas me observa.

— Você tem sentido mais alguma coisa?

— Tipo?

— Se sentindo mais cansada, mais sono, talvez um pouco tonta...

— Agora que você falou, eu tenho dormido mais mesmo. — Desde que fui demitida minha rotina de sono desregulou completamente, mas se antes eu me sentia bem com 6 horas de sono, ultimamente preciso de pelo menos umas nove.

— Quando foi a última vez que você menstruou? — Espera. O quê?

— Não. — Sei o que ela está pensando e é impossível. — Você acha mesmo que eu posso estar grávida?

— Quando foi?

— Não lembro, aconteceu tanta coisa que eu nem percebi isso. — É difícil dar conta de tudo ao mesmo tempo.

— Olha aí no aplicativo. — Pego meu celular e abro no aplicativo fajuto que só serve como lembrete mesmo, porque só abro cinco vezes no mês. Assim que entro tenho uma surpresa desagradável. Um aviso gigante aparece na tela. Estou atrasada.

— Quase três semanas de atraso. Mas é impossível, eu tomei a pílula, lembra?

— Não tem 100% de eficácia, lembra? — Não é possível que justo pra mim ela vai ter falhado. Não consigo acreditar que estou nessa situação.

— Eu não tô grávida. Tira essa maluquice da cabeça.

— Vou comprar um teste, só pra tirar a dúvida.

— Pode comprar, vai dar negativo mesmo. — Talvez se eu mentalizar muito, ele realmente dê negativo.

— A gente vai ver...

Hope levou quase quarenta minutos para ir até a bendita farmácia e voltar com três testes. Fiz todos a contragosto. Antes eu tinha certeza de que isso era impossível, nem passava pela minha cabeça que eu poderia estar grávida, mas agora estou apavorada. Tanto que mal consigo olhar os resultados. E quando olho, não consigo acreditar no que eu vejo.

— Dois tracinhos é o que mesmo? — Pergunto para confirmar o que eu já sei. Estou tremendo dos pés à cabeça. Isso não pode ser real.

— Positivo. Alice... — Minha amiga se aproxima de mim, tira os testes das minhas mãos e tenta me acalmar.

— Hope, o que eu vou fazer da minha vida? Eu não posso ser mãe agora.

— Primeiro você tem que ficar calma, não vai fazer bem nenhum você se estressar ainda mais. — É, eu sei. Agora eu sou responsável por mais uma vida. Como isso foi acontecer? Que tipo de pessoa irresponsável eu sou? Eu mal sei cuidar de mim, como vou garantir a sobrevivência de outra pessoa?

— Como você quer que eu fique calma? Tem um mini Louis ou uma mini Alice aqui dentro. — Aponto para a minha barriga e ela volta a se aproximar, dessa vez, me puxando até minha cama.

— Olha, senta aqui. Primeiro você tem que falar com o Louis. — Fora de cogitação. Se eu surtei assim, imagina ele. O coitado vai entrar em pane.

— Não posso.

— Uma hora ele vai ficar sabendo né, Alice. Você não vai conseguir esconder quando sua barriga crescer. — E quando ele souber, vai ser um verdadeiro desastre. Não vai acabar só comigo, mas com ele também. Não posso deixar isso acontecer.

— Hope, ele acabou de assinar um contrato com uma gravadora. O que ele ganha por enquanto é o suficiente para ele. Eu estou desempregada. Nós não temos condições de criar uma criança.

— Então, você quer fazer o aborto? — Também fora de cogitação. Eu não teria coragem.

— Não.

— Adoção? — O Louis nunca aceitaria e depois de nove meses, acho que eu estaria apegada demais.

— Não.

— Então?

— Você sabe que se o Louis souber disso, ele vai largar tudo pra ir atrás de um emprego que pague mais, certo? — Tento começar a minha explicação, torcendo para que ela me entenda.

— Você não pode estar pensando no que eu estou pensando que você está pensando.

— Eu não vou estragar a vida dele. Não posso acabar com a carreira que nem começou ainda. — Seria como provar para a mãe dele que ela sempre estava certa, que eu acabaria com a vida dele.

— E qual a sua ideia?

— Eu vou voltar pra Alemanha. E ele não vai saber de nada.

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