Capítulo 55

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26 de março de 2026 (17:00 - Los Angeles, EUA)

Alice

Eu tinha desacostumado com o trânsito desse lugar. Na uma hora que levamos para chegar no hospital indicado por Lucy, eu só consigo pensar no pior, principalmente pela falta de notícias. Quando Dylan para o carro, eu saio antes mesmo que ele realmente estacione.

— Lily. Lily Hoffmann. — Falo para a recepcionista, que está no telefone e faz sinal para que eu espere.

— Alice! — Ouço uma voz conhecida e vejo Lucy vindo na minha direção.

— Lucy! — Ela me abraça e eu sinto que ela continua a mesma. — Onde ela está?

— Calma, ela está bem, está no quarto.

— Por quê? — Foi uma crise alérgica, não faz sentido ela ser internada. Normalmente seria medicada e liberada.

— Os médicos acharam melhor mantê-la em observação essa noite. — Ela respira fundo e encara a parede ao nosso lado. — O Louis está com ela. — Isso não importa mais, eu só quero ver minha filha.

— Eu posso vê-la?

— Acho que sim. Eu tentei tirá-lo de lá, mas ia ser pior se vocês se encontrassem aqui.

— Não vai fazer muita diferença. Nós vamos nos encontrar no quarto, ele vai gritar comigo e colocar a culpa em mim outra vez. — Ela me olha aparentemente assustada, mas percebo um tom de compaixão em seu olhar. — Já tô acostumada.

— Vem comigo. — Vamos até a recepção e ela logo se apressa em começar a falar. — Ela é a mãe da Lily Hoffmann, que está no quarto 314.

— Documento. — A secretária pede, emburrada e eu logo entrego minha identidade.

— Aqui.

— Pode subir. — Ela fala depois de um tempo e quando estamos nos afastando ela fala o que me faz tremer. — Só você.

— Sozinha? — Sozinha com o Louis. Sozinha com ele em um lugar estranho. — Eu só posso ir se for sozinha... eu... não, eu não vou.

— Ei, ei, o que aconteceu? Alice, você está bem? — Lucy tenta se aproximar de mim, mas eu me afasto rápido.

— O que aconteceu com ela? — Kiera se aproxima e logo vejo os outros chegando também.

— A secretária disse que ela podia subir e ela travou.

— O Louis está onde? — Emma pergunta dessa vez.

— No quarto com a Lily.

— Ei, Ali, olha pra mim. — Kiera chega perto e olha nos meus olhos. — Ele não vai fazer nada.

— Espera. O que o Louis fez com você? — Lucy não sabe. Ela não faz ideia.

— Eu te conto depois, mas em resumo, seu irmão se tornou um pesadelo pra ela.

— Eu ainda estou aqui. Hope, vai lá, tira ele de lá. Depois eu vou. — Antes que minha amiga possa responder, a recepcionista informa.

— Só parentes da criança podem subir.

— Você precisa ir, Alice, sua filha precisa de você. — Kiera mantém a calma, tentando me ajudar. — Se ele encostar em você, é só gritar.

— Alice, o Louis te bateu? — Lucy pergunta e eu sou rápida, mas Dylan fala junto comigo.

— Não.

— Sim. Te conto depois.

— Sobe, Lily precisa de você. — As palavras de Kiera me acalmam e eu controlo minha respiração.

— A Lily...

— A Lily.

— Tá, tô indo

Subo no elevador tentando me distrair. Eu não tive culpa. Ele teve. Eu avisei que ela era alérgica, ele ignorou. Eu não reforcei pro Ethan, nunca mais toquei no assunto. Não. Ele deveria ter prestado atenção quando eu falei.

— Oi. — Falo baixo, ao perceber a menininha dormindo.

— Ah, você. — Ele volta a atenção para o celular.

— Não seja criança, Louis.

— Eu só achei que fosse ser um médico. — Respiro fundo e procuro focar em Lily.

— Ela está bem?

— Ela parece bem? — Ele é rude, ríspido e sequer tira os olhos do telefone.

— Louis, eu estou tentando, mas você precisa colaborar.

— Você deveria ter falado que ela era alérgica. — Ele finalmente larga aquela coisa e se levanta da poltrona onde estava.

— Eu falei! — Não vou deixar que ele me acuse de algo que eu não fiz. Não foi meu erro.

— Não falou não, eu me lembraria.

— Sério? Se lembraria mesmo? — Ele começa a se aproximar de mim e eu me afasto. Ele sabe que eu tenho medo dele, ele sabe e quer usar ao seu favor.

— Você deveria ter reforçado essas coisas, precisava ter falado com o Ethan também.

— Será que pelo menos uma vez, você pode assumir que errou? Não tem problema admitir que se esqueceu, Louis. — Tento parecer calma, mas minha voz vacila e ele sorri.

— Eu não esqueci. Sabe, se eu tivesse convivido com ela desde sempre, eu não ia ter problemas com isso.

— Outra vez não. Você sabe quantas vezes eu já ouvi isso?

— Não o suficiente. Seis anos, Alice, seis anos.

— Sim, Louis, seis anos. Você quer que eu faça o quê? Construa uma máquina do tempo? — Quase grito.

— Não comece com o deboche.

— É sério, o que você quer de mim? O que quer que eu faça pra você me deixar viver minha vida em paz? — Estou desesperada, não aguento mais essa confusão. Tudo isso por causa de uma carta. Uma não, duas. A que eu enviei, e a que eu não enviei.

— Você acha mesmo que isso é tão simples assim? — Ele se aproxima rápido e quando percebo, ele já está me segurando pelo braço outra vez. Sinto um arrepio e meu corpo vacila.

— Me solta, Louis. — Ele finge não ouvir e parece apertar ainda mais. — É sério, Louis, me solta. — Ele continua em silêncio e eu resolvo jogar o jogo dele. — Eu vou gritar.

— Grita. Vai, grita. Você não tem coragem. — Não. Não tenho. Mas tenho coragem de arriscar outra coisa.

— Continua apertando então. Mas pra deixar mais hematomas. Me joga pra longe outra vez, mas me acerta ali, pra marcar bem aqui. — Aponto para a porta que leva ao que eu imagino ser o banheiro do quarto. — O delegado vai amar as provas de que você é perigoso. O juiz vai amar ter um caso fácil pra resolver. Vamos, aperta, Louis! — Quase grito e ele me solta, assustado. Levanto a manga da blusa e não dá pra saber se vai ficar marcado. Espero que não. Ninguém precisa saber disso.

— Mamãe? — A voz de Lily me assusta e eu me viro de costas para a cama. Seco meus olhos, que estão cheios de lágrimas e vou rapidamente até ela.

— Oi estrelinha, que susto você nos deu.

— Desculpa.

— Não, não foi sua culpa. Você se esqueceu, né? — Ela concorda em silêncio. — Não tem problema. O que importa é você estar bem. — Ela sorri.

— Agora eu vou poder ir pra casa com você? — Encaro Louis, ele revira os olhos e se afasta da cama.

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