Capítulo 77

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13 de maio de 2026 (13:00 - Los Angeles, EUA)

Louis

Depois daquele escândalo da Alice na televisão, eu me tornei alvo de muitos comentários, boa parte deles ruins. Ser acusado de sequestro não foi nada bom para mim, principalmente com toda a ladainha de eu ter tirado a Lily dela e todo aquele caos, o que fez com que muitas entrevistas fossem até canceladas.

— Boa notícia. Consegui uma entrevista. — Vic fala, desligando o telefone e se sentando no sofá do estúdio.

— Isso é ótimo.

— Querem falar da Lily. — Isso não é bom. Nunca é bom.

— A ideia não era não expor a menina? — Fora que eu nunca falei muito da minha vida pessoal.

— Louis, você estragou tudo. Esse é o único assunto que querem. — Entendo exatamente onde ela quer chegar. Se não for sobre isso, não tem entrevista.

— Eu não estraguei nada, Alice que surtou.

— Alice surtou porque você escreveu aquilo sobre ela. Uma hora ela ia explodir e estava na cara que não ia demorar. — Não tinha nada muito na cara na verdade.

— Quando é a entrevista?

— Em três dias. — Ela deve ter percebido meu susto. Normalmente marcam bem antes, principalmente para poderem divulgar. — Eu sei que é um tempo curto, mas dá tempo de se preparar.

— Assim que mandarem as perguntas me envia. Preciso pensar direito no que falar.

— Você sabe que tem coisas que não vai conseguir fugir não é mesmo?

— Tipo?

— Sobre as especulações sobre Lily. Alice disse que você resistiu em aceitá-la como é, lembra? — E ainda tem isso. Não faço ideia de como contornar a situação.

— Droga, ainda tem isso. Eu não resisti, já falei um milhão de vezes. Foi um susto pra mim.

— Mas vai ter que falar mais. Louis, ninguém sabe sobre ela ser transgênero, ou da surdez. — Isso vai ser um problema enorme se a gente não pensar em nada. — E eu não sei se é uma boa ideia falar sobre.

— E se ela concordar? — Pela primeira vez, penso em algo que Alice faria. Isso pode dar certo.

— Do que você está falando? — Faço sinal, pedindo para ela esperar e pego o celular. Mando um áudio para Hope, que está em outra sala da gravadora.

— Hope! Traz a Lily por favor. — Menos de cinco minutos depois, as duas abrem a porta.

— Oi papai. — Ela sinaliza e eu percebo que ela está sem o implante. Hope apenas dá de ombros e eu aproveito que vai ser o momento perfeito para mostrar que estou bem melhor.

— Oi baixinha, como você está?

— Bem.

— Vem aqui comigo. — A pego e me sento com ela no sofá. — Uma das duas, grava pegando ela de costas. — Peço para Hope e Vic. — Quero ter documentado pra não dar problema algum.

— O que você tá fazendo? — Hope está impaciente e Vic já tem tudo pronto.

— Você vai ver. Filha, você sabe que o papai é um cantor, que as pessoas conhecem e gostam, não sabe?

— Sei sim. Eu também gosto de te ouvir cantar. — Uma das melhores coisas que eu poderia ficar sabendo.

— Muito obrigado, e você sabe que eu dou entrevistas e que as pessoas ficam sabendo o que acontece na minha vida.

— Aham. Igual aquele dia no aeroporto. — Ela sinaliza rápido, mas eu me surpreendo comigo mesmo por entender perfeitamente o que ela quer dizer. — Minha mãe contou que aquilo é porque as pessoas gostam muito de você, e por isso ficam sempre querendo saber o que você faz.

— Isso mesmo. — Não vou falar que muitas vezes as pessoas não gostam de mim, não quero ter que entrar nisso agora. — Baixinha, no dia que você veio morar comigo, as pessoas ficaram sabendo que eu tenho uma filha.

— Eles me seguiram também? — A carinha de assustada dela é maravilhosa. Eu nunca pensei que ela fosse tão expressiva. Queria que todos pudessem vê-la como eu vejo.

— Não, eu contei. Queria que todo mundo soubesse que eu tenho a filha mais bonita do mundo.

— Eu sou famosa também? As pessoas vão atrás de mim?

— Não, não se preocupa. Eu não postei foto sua. Bom, só do seu cabelo. Ninguém sabe que é você, e só vão saber se você deixar, tudo bem? — Ela parece mais aliviada e feliz com a minha resposta.

— Tá bom.

— Lily, tem uma coisa que eu quero te perguntar.

— O que foi?

— Eu posso contar que você é uma menina transgênera? Porque eu tenho muito orgulho de você, mas só vou contar se você deixar. — Ela fica em dúvida, sem saber o que responder. É uma criança de cinco anos, por que eu tô pedindo que ela decida esse tipo de coisa?

— Minha mãe deixou? — Eu devia saber que ela ia jogar a decisão pra Alice.

— Lily, essa decisão é sua.

— Mas minha mãe sempre sabe quando vai ser bom ou ruim. Ela falou o quê?

— Ainda não consegui falar com ela, mas o que você quer? — Tento de todas as formas fazer com que ela decida, mas é impossível. É só uma criança.

— Se minha mãe falar que pode eu deixo. Se ela deixar é porque vai ser bom. — Oh céus.

— Hope vai conversar com ela, não é? — Olho para Hope com esperança de receber uma resposta positiva. Preciso pelo menos tentar.

— Vou sim, estrelinha.

— Tá bom. — Ela começa a sair do estúdio andando e eu a interrompo.

— Ei, onde você vai? Cadê meu abraço? — Ela me aperta o máximo que pode e sorri pra mim. — Eu te amo, baixinha.

— Eu também te amo, papai. — E então ela e Hope saem da sala.

Não sei se isso vai dar certo, mas é o melhor que posso fazer, pelo menos agora.

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