Capítulo 9

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04 de março de 2026 (07:10 - Cochem, Alemanha)

Alice

Nem se eu tivesse tentado teria conseguido dormir essa noite. Teria sido impossível fechar os olhos sabendo que do outro lado do mundo tem um Louis extremamente nervoso e com raiva por ter descoberto que tem uma filha, que pra ele é um menino. Eu sempre soube que ele não é exatamente o mesmo, mas não achei que fosse da forma que Hope descreveu ontem a noite. Se ela não estiver exagerando, eu vou ter um problema gigante.

— Nossa você está horrível. — Minha amiga fala entrando no meu quarto. Ela normalmente faz isso quando eu demoro sair, por medo de me atrasar.

— Obrigada, você está linda também. — Ironizo.

— Você ao menos chegou a dormir?

— Não exatamente. — Bocejo assim que termino de falar. Eu só soube que já era de manhã porque o despertador do meu celular tocou.

— Alice, fala o que está acontecendo. Ontem você mal deu boa noite pra Lily, se trancou no quarto e ainda está com aquela cara estranha. — Meu mal é deixar que as pessoas me conheçam bem demais.

— Lembra que a Hope ligou, né?

— Lembro. Ela e as meninas estão bem?

— Elas sim, a gente eu já não tenho tanta certeza mais. — A voz de Hope ecoa na minha mente e eu sinto meu corpo ficando bambo, mas me obrigo a ficar firme.

— O que você quer dizer com isso?

— O Louis descobriu que eu estava grávida quando me mudei pra cá. — Falo de uma vez. Enrolar só iria adiar essa cara de surpresa e desespero dela.

— Como isso é possível?

— Ele achou uma carta minha pra avó dele e uma foto da Lily com uns dois anos.

— Isso é ruim. Muito ruim.

— E piora.

— Tem como? — Sempre dá pra piorar. Pelo menos comigo é assim que funciona.

— Ele acha que é um menino. E mesmo que a Hope tenha tentado explicar, ele não quis ouvir e não aceitou.

— Ok, isso é muito pior. — Agora ela também está com raiva.

— O que eu faço?

— Bom, toma um banho, arruma esse cabelo, melhora essa carinha. Eu vou acordar a Lily e vocês duas vão pra escola. — É o que fazemos de segunda a sexta, não me ajuda em nada agora.

— Não era disso que eu estava falando, Lexie.

— Eu sei, mas o que você pretende fazer?

— A Hope falou sobre fugir do país. — Pensei tanto nessa ideia que quase comecei a pesquisar países que seriam difíceis para ele me encontrar.

— É uma boa ideia, mas nem um pouco viável.

— Eu sei, odeio isso. — Hope estava certa, agora que o Louis sabe, ele vai revirar cada canto atrás de mim.

— Ela sabe o que ele vai fazer?

— Não, mas vai tentar descobrir pra mim.

— Então até lá não tem nada que a gente possa fazer.

— E é isso que me mata. Lexie, eu não faço ideia do que ele é capaz. — Foi por isso que eu passei a noite acordada. Pensando nas mil possibilidades do que pode acontecer a partir de agora.

— Louis pode estar com raiva, mas não é louco.

— Não tenho tanta certeza.

— Ele tem muita coisa em jogo, Alice. Não vai jogar tudo pro ar de uma hora pra outra.

— Faz um pouco de sentido. — Mas não tenho certeza de que uma carreira e fãs tem tanta força pará-lo tão facilmente.

— Ele tem o direito de conhecer a Lily, de conhecer a história da filha dele.

— Mesmo se ele não aceitá-la como filha? — Acho que na verdade, esse é o meu maior medo no momento. Depois da conversa com Hope comecei a pensar na possibilidade dele não querer que a filha dele seja quem realmente é.

— Se isso acontecer, a gente pensa em outra coisa pra mantê-lo o mais longe possível.

— Eu tô apavorada.

— Eu sei, dá pra perceber pelo seu olhar.

— Tá muito ruim?

— Aham. Vai se arrumar e melhorar essa cara que eu arrumo Lily. Ela não pode perceber que você está mal.

— Eu sei, mas ela é muito sensível pra não perceber. — Aquela menininha não tem nem cara de boba.

— Não custa tentar.

— Estamos atrasadas. — Confiro a hora no meu celular.

— Pouca coisa, dá pra recuperar o tempo.

Tomo o banho mais rápido da minha vida e faço um coque desajeitado, já que é o máximo que vai dar pra ser feito hoje e crianças de cinco anos não vão reparar que a professora delas está destruída. Já os adolescentes vão me encarar como se eu estivesse voltando de um apocalipse zumbi, mas não importa. Pelo menos não vou ter garotos de dezesseis anos me encarando e funcionários me confundindo com alunos, o que é mais frequente do que deveria.

Ouço as risadas de Lily e Lexie no outro quarto e jogo meu material na bolsa. Nem isso eu consegui fazer ontem. Vou para a cozinha e preparo algo rápido para nós duas comermos no caminho até a escola.

— Oi mamãe, bom dia. — Ela me dá um abraço apertado e sorri.

— Bom dia, estrelinha. — Mais um sorriso. O bom humor matinal dessa criança com certeza veio de algum lugar desconhecido. — Nós estamos atrasadas hoje, então vamos andando enquanto comemos, pode ser?

— Tudo bem. — Ela odeia comer enquanto anda porque as mãos ficam ocupadas e ela não consegue se comunicar comigo, já que o implante só é colocado na sala de aula. — Cadê o meu? — A menina pergunta depois de colocar o aparelho na orelha.

— Aqui. — Entrego metade de um sanduíche e ela coloca a mochila do Show da Luna nas costas. Foi Lexie quem apresentou o desenho, dizendo ser super comum na Inglaterra, onde ela morava com os pais, e desde então Lily é obcecada por ele. — Dá tchau pra Lexie.

— Tchau.

— Tchauzinho. — Enquanto minha filha sai andando para a rua, minha amiga me abraça e fala baixo. — Se mantém firme, você consegue. Você sempre consegue.

— Eu espero que sim.

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