Capítulo 17

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14 de março de 2026 (18:00 - Cochem, Alemanha)

Louis

Já não faço ideia de quanto eu gastei para ficar aqui nesse lugar durante tantas horas, mas foi importante para não perder Alice de vista e garantir que ela não iria conseguir escapar da nossa conversa. Por mais que tenha desaparecido em alguns momentos, escuto quando um dos homens na cozinha a avisa que ela já pode sair. Eu me levanto, ela me encara, faz sinal para que eu espere e some mais uma vez. Aproveito esse tempo para pagar a conta e colocar meu celular no modo avião. Nada mais importa agora.

— Pronto, tô aqui. — Acho que fico em silêncio por muito tempo, porque ela volta a falar. — Que foi? Pensou que eu ia fugir?

— Mais ou menos. É sua especialidade né? — Ela muda de expressão e eu percebo que posso ter o controle dessa conversa. É só saber exatamente o que falar.

— Não vamos falar disso aqui.

— Então, onde pretende ir? — Essa cidade não parece ter muitos lugares para uma possível discussão.

— Você está em algum hotel? — Ela até que pensou rápido em uma possível solução.

— Sim, um que fica há três quadras, descendo essa rua aqui.

— Péssimo lugar.

— Por quê?

— Não sei se você reparou, mas essa cidade não é muito grande. Eles me conhecem. — Óbvio que seria isso. Esse lugar é quase como uma caixinha de fósforo.

— Tem alguém que não te conhece?

— Eu dou aula para quatro turmas de ensino médio, três de jardim de infância e trabalho na cafeteria mais movimentada da cidade. Não, não tem alguém que não me conheça. — Esse tom sarcástico é novidade para mim. Talvez seja um novo mecanismo de defesa dela.

— Uau. Impressionante. — Sigo a mesma linha e ela revira os olhos.

— Sem gracinhas, Louis. Trabalhei o dia todo, estou exausta.

— Eu também estou cansado, Alice, mas isso não pode ser adiado. — Ela sabe que não, isso não pode continuar dessa forma.

— Eu sei de um lugar.

— Qual?

— Minha casa.

— E a criança? — Por mais que eu queira conhecê-la, não quero que ela escute uma possível discussão entre nós dois, não é assim que vai ser a primeira memória que ela vai ter de mim.

— Qual o seu problema em falar o nome dela? — Eu não sei. Até pouco tempo eu acreditava que seria um menino, só quando vi a foto que ela me deu que a ficha caiu. Preciso processar mais essa informação. — É Lily, você sabe disso.

— E a Lily?

— Eu vou dar um jeito. — Ela pega o celular enquanto andamos e eu fico curioso. Não sei nem com quem a criança está.

— Que jeito?

— Fica quietinho pra eu poder resolver isso, por favor. Ou você não consegue ficar calado por mais de trinta segundos? — Acho que ela ia continuar, mas a pessoa do outro lado da linha atende o telefone. — Alô, Lexie? Vocês estão em casa? Já jantaram? Ótimo. E o banho? Droga. — Algo me diz que elas tem uma rotina bem fixa e que eu estou atrapalhando muita coisa. — Me faz um favor, sai um pouquinho com a Lily. Não sei, pra pracinha, parquinho, até a cafeteria aí perto eu libero pra um chocolate quente. — Como assim "libero um chocolate quente"? Que tipo de mãe regula doce dessa forma? — Eu sei que hoje não é domingo, mas dá pra abrir uma exceção. Depois eu te explico tudo. Valeu.

— Então... quem é Lexie? — Preciso matar essa curiosidade. Preciso ter uma ideia de quem é a pessoa que cuida da minha filha.

— Uma amiga que mora comigo. — Ok, pelo menos aparenta ser de confiança.

— Vocês só tomam chocolate quente no domingo?

— A Lily só come doces no domingo. — Que horror, se eu estivesse por perto, isso não aconteceria.

— Que crueldade.

— Não. São limites. Crianças precisam disso. E alguns adultos também. — Ela me olha enquanto fala e eu prefiro mudar de assunto.

— Sua casa é longe?

— E você ainda acha que alguma coisa é longe por aqui?

— Ah, verdade.

Andamos em silêncio por cerca de meia hora até chegarmos na casa. Um imóvel com apenas um andar, aparentemente pequeno. Ela destranca a porta e abre espaço para que eu entre.

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