Marcou 21:30, a maluca já tava na minha porta.
Vanessa : Vamo? - Assenti pegando na mão dela.
Lílian : Cuidado, Clara! - Beijou minha testa e eu retribui o beijo. - Mãe te ama!
Me despedi dela, da minha irmã e sai.
Clara : Caralho, só tu mermo pra fazer eu sair de casa esse horário. - Ela riu.
Vanessa mora dentro da favela. Conhece tudo e todos. Então, nem me preocupei com a entrada.
Subimos a pé mermo, não é tão longe.
Cheguei na entrada e meu coração gelou.
Adivinha quem tava na contenção? É, isso mesmo.. Cobra!
Olhei pro lado tentando disfarçar a vergonha, e ele ria.
Cobra : A gatinha apareceu! Quanto tempo.. Clarinha. - Veio pra me abraçar.
Clara : Quem é vivo, sempre aparece. - Ri fraco.
Vanessa : Libera a entrada pra nós, Cobra. - Ele assentiu.
Cobra : Até mais tarde. - Piscou pra mim.
Ainda tava morrendo de vergonha. Cara, muito tempo sem ver ele, mas continua gato!
Vanessa : Já ficou com o Cobra? - Riu procurando o garoto que ela ia ficar.
Clara : É.. na.. - Travei. - Já. - Ela riu alto.
Vanessa : Por que não me contou? Poxa, me senti excluída agora. - Ri.
Clara : Faz muito tempo isso. Achava que ele nem lembrava mais. Enfim, qual o nome do menino? - Ela me olhou.
Vanessa : Índio. - Ri. - O vulgo dele é esse. Não quis me dizer o nome verdadeiro. - Assenti. - Ele vive grudado com o Talibã e o Cobra. - Gelei.
Clara : Vamo voltar agora, Vanessa! - Puxei ela.
Vanessa : Voltar? Ta maluca! - Riu sem me olhar, procurando o moleque.
Clara : O garota é alto, forte, moreno, cabelo liso e super gatinho? - Ela me olhou concordando. - Achei! E tá com o Talibã. - Gelei. - Vamo embora, Vanessa. Eles tão vindo na nossa direção! - Me escondi atrás dela.
Vanessa : Qual é, Clara? - Me puxou.
Eles chegaram e eu olhei pra eles. Todos altos e armados.
Vanessa cumprimentou eles e depois me apresentei.
Não falei com o Talibã e logo eles foram embora. Fiquei mais afastada vendo o movimento.
***
Vanessa já tinha sumido um bom tempo e eu só queria ir embora.
Cobra : Se eu fosse tu, ia pra casa. Tua amiga ta bem e tu parece tá cansada. - Riu de canto.
Clara : É, tô bem cansada mermo. - Ri falsa pra ele, e fui descendo o morro.
Escuto uns gritos e me escondo atrás do muro.
Vejo o Talibã e outro homem moreno alto, com duas crianças.
O Talibã começa a bater nelas com uma arma na cabeça deles. Sem nem muita cerimônia, eles atiraram, matando os dois.
Coloco a mão na boca assustada segurando o grito. Tento sair do lugar, mas bato em um carro que começa a alarmar. Olho pro local, e vejo o Talibã olhando para os lados, procurando de onde estava vindo o barulho.
Saio correndo, voltando pra casa.