Clara : Eu fugi de casa.. - Olhei pra ela. - Descobri uma coisa não muito legal pra gente.
Talibã : Fala, pô... - Respirei fundo.
Clara : Puxa a ficha do Black pra mim. - Olhei sem entender pra ela. - Fala logo.
Talibã : Meu tio que me criou desde menor, com a minha irmã. Cuidou da favela quando meu pai morreu, junto com a minha mãe. - Ri.
Clara : Ele é meu pai. - Abri o olho e ela me entregou um papel.
Comecei a ler, mas não entendia nada.
Talibã : Que porra é essa? - Joguei o papel nela.
Clara : É, foda né? - Riu fraca.
Talibã : Não mané, não pode! - Olhei pra ele cínica. - É, é possível!
Lilian : É mais que possível. - Ouvi a voz dela atrás de mim e o Talibã levanta.
Talibã : Vai contar tudo agora, vadia! - Pegou ela segurando os cabelos.
Clara : Relaxa, tem outra coisa, que a minha mamãe vai contar ainda. - Olhou pra ela.
Lilian : Fecha a porta. É perigoso! - Clara levantou e fechou. - Desculpa, ter escondido isso. Sempre fui mãe e pai. Não precisava do vagabundo do Black. Assim que cheguei em casa, vi meu quarto revirado e deduzi que tu tinha vindo pra cá. Esses documentos, não era pra tu pegar. - Clara riu.
Talibã : Começa a contar, pô! Tô esperando. - Cruzou os braços. -
Lilian : Há muito tempo, quando eu virei empregada da família do Talibã, fui amante do teu pai por um bom tempo. Descobri que tava grávida e contei pra ele. Ele bravo, mandou eu ir embora, mas antes, era pra mim esperar o bebê nascer. Eu esperei e tive que mentir pra tua mãe. Ela foi tão generosa comigo. Tadinha, não sabia que era do marido dela. - Caiu umas lágrimas dos olhos dela e enxugou, voltando a contar. - Depois que tive, ele mandou eu ir embora, como cachorro, me tratou como lixo. Eu triste e chateada por não ter a minha filha e ainda não fui assumida como fiel. Falei com o Black, que era meu amigo. O Black sempre com toda inveja, pelo crescimento do teu pai, combinamos de matar.. - Suspirou. - O teu pai.. - Senti um ódio no coração e tive vontade de matar ela ali mermo. - Ele ia ficar com a favela e eu ter dinheiro pra cuidar da minha filha. Mas.. tua mãe já tinha tu, o herdeiro da favela. Black matou os dois e cresceu contando pra tu e a Fernanda, que descobriram que a tua mãe era mulher de bandido e o teu pai morto por moleques de facção rival. Black e eu, tivemos um lance. Depois de um tempo, a Clara nasceu, mas ele, no auge do tráfico, altas mulheres, dinheiro, drogas.. não quis assumir. Mas não me deixou desamparada. Deu uma casa pra mim na entrada do morro. Fiz um último pedido, pra que ele deixasse eu cuidar da Fernanda, pra ficar perto dela e ter dinheiro pra sustentar a Clara, que era bebê. Fernanda é minha filha, com seu pai. - Fechei os olhos fundo. - O caso repercutiu muito na mídia e foram pagos muitos policiais pra mentirem sobre o caso. E como são, traficantes.. eles não deram muita importância. Fora que o teu pai era muito malvado e sem coração. Matou vários inocentes. Muitas pessoas torciam pela morte dele, então, não fizeram muita questão e sim, comemoraram.
Fernanda : Eu tua filha? - Escutei a voz dela de choro. - Felipe, essa mulher é um monstro. - Fui abraçar ela.
Fernanda é uma mina doce e calma. Sempre vê bondade em todo mundo. Isso que fode!
Talibã : Ela vai pagar, princesa! - Abracei ela forte e beijei a testa dela.
Lilian : Eu nasci e me criei aqui. Acha que eu sobrevivi esse tempo todo aqui como? - Assenti. - Eu sei como funciona. E olha, não fiz nada sozinha. Black me ajudou muito em tudo. Mas pensa, eu tinha duas filhas. Uma tive que mentir e abandonar ela. A outra, não tinha nada pra sustentar. Trabalhei pra você a vida inteira pra ter como sustentar a Clara e ficar perto da minha menina. - Chorou. - Me perdoa? - Falou com elas e a Clara assentiu.
Clara me puxou pro canto com os olhos cheios de lágrimas.
Clara : Quê que tu vai fazer com ela? - Segurou no meu braço.
Talibã : É as regras da favela. - Ela negou.
Clara : Eu tenho uma irmã de 10 anos. Ela é apegada na minha mãe. Não pode fazer isso com ela. - Chorou mais.
Talibã : Eu era bebê quando ela matou os meus pais, porra! - Segurei ela forte olhando nos olhos dela.
Sai de perto dela, indo pra onde a Lilian. Segurei ela pelo braço forte e peguei uma corda que tinha ali.
Amarrei as mãos dela e fui pro meu quarto. Acionei o radinho e peguei o carro indo pro alto do morro.
Clara disse que não queria vir e ficou com a Fernanda.
Cheguei no alto e só tinha eu. Falei pro Índio ir atrás do Black com vida. Procurar ele até no inferno.
Preparei ela no alto do morro, na calada da noite, no centro do alto com aquele vento forte e frio. Lembranças!
Lilian : Filho.. - Olhei pra ela, preparando a arma. - Eu fiz isso por amor as minhas filhas. - Não esperei ela terminar de falar e atirei.
Fiz isso por vocês, pai e mãe!
Fiz uma fogueira e joguei o corpo dela. Esperando queimar tudo. Amanhã, eu ia falar pros faixas virem aqui tirar os restos que ficaram.
Fiz uma oração e voltei pro carro. Fiquei olhando os postes brilhando e puxei um cigarro do bolso.
É muita parada pra mente!
Ainda tem o filha da puta do Santos.