Fecho os olhos e como toda vez, vem a maldita cena..
Tomar no cu!
Lembro de tudo, de quando ela me contou que tava grávida, fiquei incerto, mas feliz.
Uma cria minha, tá ligado?
Eu não choro, chorar pra quê? Coisa de gente fraca. Choro vai trazer eles de volta?
Escuto alguém chegando e abro meus olhos lentamente vendo a Clara.
Ela dá risada e eu olho sério pra ela.
Talibã : Tô com cara de graça? Dá licença! - Abaixei a cabeça e ela pegou no meu braço e eu tirei a mão dela de mim.
Clara : Tá precisando de ajuda? - Olhei pra ela.
Talibã : Tem solução pra vida que eu levo, mané? - Ela ficou em silêncio me olhando procurando respostas. - Foi o que eu pensei.
Clara : Poderia dar uma chance. Tentar sair dessa vida, recomeçar. - Eu ri.
Talibã : Se fosse fácil assim, tu acha que eu não já tinha saído? Não fode, maluca! Chegou na bagaça agora, entendeu? Já quer pagar daquelas paradas que sabe de tudo? Ah, tomar no cu. - Me levantei. - Não tem sossego nem na própria favela. - Ela me olhou. - Só faz as coisas que eu mandar, não força intimidade e nem se mete na minha vida. - Ela assentiu e eu sai.
Quando eu lembro do meu passado, eu viro outra pessoa.
Subo pra boca e faço a carreira de pó.
Cheiro tudo, e por um segundo, sinto como se todos os problemas fossem embora.
Parada de outro mundo!
Levanto a cabeça desnorteada, segurando na mesa e fechando os olhos fortes.
Cobra : De novo? Qual é, mané? - Me segurou.
Talibã : Não.. preciso de tu. - Falei com dificuldade.
Cobra : Quer ajuda pa aprender a falar também, meu mano? Tá com dificuldade aí. - Riu.
Talibã : Vai se foder, faixa! - Ele riu.
Cobra : Pode fazer essas paradas não. Tu tá ficando maluco? Tu morre e tua favela fica aí. Quer deixar ela na mão de qualquer um? - Neguei. - Então presta a atenção, filha da puta.
Segurei na mão dele e agradeci seco.
Talibã : Pode me soltar e ir embora. - Ele me olhou, coçando a cabeça como se quisesse falar mais alguma coisa.
Cobra : Eu tenho uma parada pra conversar contigo.. - Assenti.
Fechei os olhos e bebi uma água. Muito tempo nessa vida, que eu sei cortar o efeito na moral.
Talibã : Eu acho que já sei, menor. Tu tá livre! - Ele riu.
Cobra : Valeu, de verdade! Consegui o dinheiro da minha mãe. Ai, nunca vou esquecer! - Pegou na minha mão e beijou.
Talibã : Que bagulho feião é esse aí? - Ele riu. - Tamo junto sempre, tá ligado não? Eu que agradeço! Tu tem muita sorte. Tanto de ter tua coroa contigo, como de entrar e sair dessa vida sem nada. Tu é foda! - Abracei ele com dificuldade.
Aí, consigo ver a felicidade estampada no rosto dele. É bom, tá ligado? O maluco conseguiu entrar e sair sem nada! Sempre fechou e compareceu as paradas certas quando eu mandava.
Não curto abraço, meio bagulho fresco.