69

523 95 58
                                        

Depois de tudo que Donna me disse eu demorei raciocinar direito. Nunca tinha imaginado o quanto era mais profunda essa história. Eu sabia que algumas coisas não se encaixavam, como a Savana ter passado mal repentinamente. Era tão óbvio!

— Você está bem? — Valerie perguntou enquanto comia seu hambúrguer.

— Não posso dizer a você, até porque não é algo meu, mas poxa. — suspirei — Não estou bem.

— Deve ser algo profundo. — mordeu o seu almoço.

— Caralho, é muito profundo. — mordi o lábio inferior tensa.

— Você agora fala palavras como ''caralho"? — sorriu — Vivendo, aprendendo e evoluindo. — ironizou.

— E você agora almoça hambúrguer? — arqueei as sobrancelhas.

— É oque da pra comer no momento. Só tenho uma hora de almoço.— rolou os olhos.

Fiquei imaginando se deveria dizer adeus a ele. Talvez eu pudesse ir até a mansão uma última vez.

— Agora estou pensando se devo ir na mansão ou não. — disse roendo as unhas.

Valerie largou seu hambúrguer em cima de uma mesinha e andou até mim do outro lado da cama. A mesma se sentou a minha frente e pegou meu rosto nas mãos me encarando.

— Se você for até a mansão eu não respondo por mim Camila! — fiquei assustada com sua proximidade.

— Mas ele está mal.

— Tem a porra de outras garotas lá e ele vai pedir aconchego pra elas uma hora ou outra. — disse.

— Mas a Donna disse que ele nem sai do quarto direito pra interagir com as meninas.

— E daí? — franziu a testa — Ele poderia ter vindo atrás de você pessoalmente mesmo assim não veio. Não vai ser você que vai atrás dele!

— Você tem razão! — disse firme — Mas eu o amo. — recai.

— Ok, vou ser um pouco mais dura com você, Camila. — suspirou — Se você voltar ele vai convencer você de ficar. Ai você terá o direito de sair com ele uma vez na semana, caso ele te escolha. Talvez ele te chame pro quarto dele, mas talvez chame a Tracy, a Donna ou a Janine. Se você tiver sorte, ele te chama pra uma viagem intencional e te dá uns presentes, mas claro, pode ser você ou qualquer outra que também mora com aquele homem.

Eu entendi oque ela estava querendo dizer. Se eu voltasse seria igual antes. Minha vida seria uma eterna tortura, como a de Donna. Eu teria que dividir ele pro resto da vida e chegaria um ponto que eu seria dependente dele. Shawn nunca seria apenas meu.

— Eu odeio ter ido pra mansão. — disse com olhos cheios de lágrimas.

— Eu sei, mas agora você pode ter uma vida diferente.

— Sim. — suspirei — Nunca fui quista por ninguém Valerie. — olhei para ela — Sempre fui a garota velha demais pra ser adotada, a garota qual os pais não quiseram, a garota qual nunca teve uma família. Agora eu tenho duas amigas incríveis e um trabalho internacional com um estilista! — ri.

— E tem uma família também — segurou minha mão.

— Eu amo você Valerie. Obrigada por tudo. — abracei a mesma.

— Eu te ajudaria mil vezes se precisasse. — retribuiu o abraço — E agora eu vou ser amiga de uma estrela do mundo da moda. — rimos.

— Não exagera. — rolei os olhos.

— Você vai se dar muito bem na Espanha. Espero que daqui seis meses você volte por cima de tudo isso que você viveu.

Eu tinha uma grande expectativa de saber como era ser independente. Quando sai do orfanato eu tinha medo, mas depois de tudo eu estava finalmente pronta para a vida. Morar em outro país, sem nenhum amigo, sem falar a língua deles e ainda pra ser modelo? Nunca imaginei isso nem em meus sonhos. Estava animada por tudo que viria. E confesso, uma parte de mim só queria ir até Shawn Mendes, mas isso já não era mais escolha minha. Ele já sabia sobre meus sentimentos. Se ele não havia me escolhido, era a hora de eu me escolher.

— Sabe Valerie, eu estou feliz de ir. — disse entre pensamentos.

— Claro que está, é a Espanha! — disse fantasiosa — Sabe aquela série, Lá casa de Papel? — me encarou — Acho que se passa lá. Imagina você conhecer algum astro dessas séries espanholas e se apaixonar perdidamente!

— Por favor, chega de fantasias. — ri — Não quero um amor por enquanto. Eu quero trabalhar e fazer o meu futuro agora.

— Estou orgulhosa de você. — sorriu.

[...]

Passei a tarde toda terminando de organizar minhas coisas. Valerie e Mandy passaram a tarde no trabalho. Quando chegaram, pouco antes de anoitecer, começaram a se despedir de mim.

— Vamos sentir sua falta. — Valerie dizia emocionada.

— Eu acho que também vou. — Mandy disse e rimos.

— São só seis meses. — peguei minha mala no chão.

— Em seis meses muita coisa pode mudar. — Valerie afirmou com uma sobrancelha arqueada.

— Mas nossa amizade não! — pausa — Eu vou voltar e quero ver vocês no apartamento que tanto querem comprar e também quero logo um casamento pra ser madrinha. — abracei as duas.

— Vai, vai voar pra esse mundo garota! — disseram enquanto estávamos em um longo abraço triplo.

Depois de chorar em a despedida quase dramática, eu saí do quarto e segui o meu caminho. Estava sendo difícil deixar as meninas. Nunca imaginei que teria um laço tão bonito com elas. A parte boa de ter ido pra mansão com toda certeza era ter elas na minha vida agora.

Peguei um táxi e fui para o aeroporto. Loki estaria me esperando para embarcarmos juntos para Madrid. E eu estava ansiosa. Limpei as lágrimas e dei lugar a um sorriso fantasioso. Eu iria viajar pra outro país seguir uma carreira. Isso era incrível que se tornava inacreditável.

Assim que cheguei no aeroporto, depois de ver pela última vez, em alguns meses, a cidade de Los Angeles, avistei Loki com um homem de terno, um segurança, que levava suas duas malas enormes.

–– Ah, ainda bem. Estava ficando ansioso. — me puxou pela mão.

— Estou aqui. — sorri.

— Andou chorando? — ele fixou seus olhos nos meus.

— Ah, só emoção. — dei de ombros.

— Garota, eu vou te fazer brilhar. Não fique com olhos inchados que atrapalha a beleza. —disse sorridente e ambicioso.

— Tá bom. — ri.

Loki era uma figura e tanto. Ter ele ao meu lado nessa viagem seria ótimo. Imaginei naquele momento como seria passar seis meses junto a ele. Seria ilário, isso eu sabia.


Atenção passageiros do vôo 135 para Madrid, Espanha. Se dirijam a sala de embarque.

Quando escutei aquilo senti um frio na barriga gigantesco. Eu não tinha parado pra pensar que iríamos estar praticamente no céu. Iríamos passar em cima do mar e eu tinha medo do mar. Naquele momento senti uma pontada de medo.

— Vamos querida, estou ansioso para estar em solo espanhol. — disse me arrastando junto com ele.

Estávamos mostrando os passaportes. Loki mostrou o dele e em seguida eu mostrei o meu, qual ele arrumou durante a semana rapidamente. Assim que passei o meu peguei de volta.

Passaporte, senhor. — a moça pediu para a pessoa atrás de mim.

— Eu não vou viajar. — pausa — Vim me despedir de uma pessoa.

Gelei.

A good corrupted girl  Onde histórias criam vida. Descubra agora