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Capítulo flashback

[...]

5 anos antes dos acontecimentos atuais


POV'S CAMILA

Acordar de manhã é um saco, mas eu estou animada que vou conhecer uma família interessada em mim.
Então eu me levantei e tomei o meu banho logo depois de Jules. Ela adorava implicar comigo e por isso sempre gastava toda água quente e deixava a água fria para mim. Gina tomava banho antes de todas nós, então eu sobrava com o banho gelado.

–– Já sabe oque vai usar?

Eu estava me trocando quando Gina entrou toda feliz. Ela usava nosso rotineiro uniforme branco e cinza . Eu no entanto, como iria ver um casal, poderia usar roupas normais. 

–– Eu não tenho nenhuma roupa. As que eu tinha para as apresentações ficaram no quarto antigo. –– reclamei vendo que não havia roupas minhas no armário.

–– Para a sua sorte, eu entendo tudo de moda e tenho algumas roupas. –– Gina entrou na minha frente e abriu a sua gaveta –– Use esse vestido lilás.

–– Eu amo esse vestido. –– sorri –– Obrigada. –– peguei da sua mão e vesti.

–– Agora você precisa arrumar esse cabelo. Não fica bem todo esse volume com os visitantes. –– ela começou a amarrar meu cabelo –– Acho que se amarrar para trás ficará bonito.

–– Não sei oque seria de mim sem você. –– rimos.

–– Não seria nada. –– afirmou.

Depois que Gina ajudou a me arrumar fomos correndo para a sala da Madre. Esperávamos ansiosas do lado de fora. A qualquer momento eu seria chamada para conhecer, talvez, meus futuros pais.

–– Você precisa ficar calma. Nunca irão adorar uma garota eufórica. –– Gina dizia.

–– Vou pedir que eles adotem você também. –– disse a ela.

–– Não seja ingênua. Eles não vão adotar duas garotas do nosso tamanho. Não sei nem como querem adotar uma. –– franziu a testa.

–– Talvez queiram alguém para ajudar em casa. –– disse ansiosa.

–– Isso é ainda pior que morar no orfanato. –– rolou os olhos.

–– Eu só não quero me separar de você. Acho que se me adotarem eu vou pedir tanto para te levarem junto que levarão só para eu calar a boca.

Rimos juntas, mas logo paramos porque a porta da Madre se abriu. Logo ela me encarou e começou a me analizar dos pés a cabeça.

–– Camila. –– bastou dizer isso para eu saber que deveria entrar naquela hora.

–– Boa sorte amiga. –– Gina me deu um abraço forte e longo.

Eu via no rosto dela o quanto estava feliz por mim, mas no fundo ela sentia uma dor difícil. Queria estar no meu lugar, aliás todas queriam. Ser adotada na nossa idade era um sonho quase impossível. Mas mesmo querendo muito estar no meu lugar, Gina estava contente por eu ter essa chance.

–– Camila, esses são o Senhor e Senhora Edwards. –– a Madre os apresentou a mim.

–– Olá, eu me chamo Camila e estou muito feliz em conhecê-los. –– sorri.

O casal me olhou por inteira. O homem que parecia ter uns quarenta anos, era alto, usava terno e tinha uma expressão fechada. A mulher que parecia ter trinta e poucos, era bonita, loira, usava um vestido preto e se mantinha com um quase sorriso aberto no rosto.

–– Hum, olá Camila. –– disse ela –– É uma garota muito bonita.

–– A Senhora que é muito bonita. –– disse querendo ainda mais ser gentil.

–– Madre, eu disse que queria uma menina jovem. –– o homem falou pela primeira vez.

–– A Camila é jovem, tem só treze anos. –– respondeu ela.

–– Queríamos uma com oito ou nove anos. –– explicou.

–– Ela é uma menina muito inteligente e doce. Aposto que seria a filha perfeita para vocês.

O homem me encarou mais uma vez. Senti um olhar desconfortável, quase bruto, sobre mim. A mulher parecia gostar do que via, mas se mantinha atrás da palavra do marido.

–– Eu não quero essa. –– o homem disse me fazendo entrar em desespero interno.

–– Querido, ela me parece uma boa garota. –– a mulher disse olhando para mim.

–– Eu faço oque quiserem. Passo, lavo, cozinho, arrumo a casa e tudo mais. –– disse eufórica. Eu estava com medo que não me quisessem realmente.

–– É velha demais. Queremos uma mais nova. –– afirmou o homem.

–– Acho que gostei dela. Podemos levá-la. Não seria tão ruim assim uma garota mais velha do que imaginamos. –– a mulher insistiu.

–– Judith! –– o homem pareceu chamar a atenção dela.

Ele me causava medo. Era como se quisesse bater na mulher só com o olhar agressivo. Ela se calou logo depois e não disse mais nada. Seu olhar foi para o chão. O pior de tudo era que eu havia gostado dela.

–– Eu garanto que ela é uma garota muito prendada. –– a Madre tentou mais uma vez.

–– Queremos ver as mais jovens. –– o homem deu a última palavra.

–– Tudo bem. –– a Madre disse se dando por vencida –– Volte para o quarto Camila. –– ordenou.

Olhei mais uma vez para o casal a minha frente e meus olhos se encheram de água. Aquela poderia ser a minha última chance de ganhar uma família. Eu já era velha demais para a adoção e por algum motivo queria me iludir achando que seria querida por algum casal. Sai da sala da Madre com os olhos cheios de lágrimas.

–– Camila? –– Gina me viu ao sair –– Está chorando?

–– Eles não me quiseram Gina. –– me deixei transbordar nos braços dela. Minha amiga me abraçou fortemente.

–– Oh, eu te disse que éramos velhas demais para adoção.

–– Eu acho que nunca terei uma família. –– disse transtornada.

–– Você tem sim. –– enxugou minhas lágrimas –– Eu e você somos uma família. –– sorriu.

–– Somos? –– a encarei.

–– Somos duas irmãs aqui. Não tem porque querer ser adotada. Nós temos uma a outra e mesmo que algum dia a gente se separe, vamos prometer nos procurar novamente. –– me mostrou o dedo mindinho.

–– Ok. –– sorri em meio as lágrimas –– Não vamos nos separar nunca! –– apertei o seu mindinho com o meu e fizemos o juramento.

–– Então pare de chorar e venha me ajudar a escolher a roupa que vou usar no passeio que ganhamos no parque. –– me puxou para outro abraço e logo depois me arrastou pelo corredor.

Georgina com toda certeza do mundo era a minha base. Sem ela eu iria desmoronar no orfanato. As vezes eu me sentia a sombra dela, mas eu gostava de ser isso. Pelo menos eu sempre tinha alguém comigo e não estava sozinha nunca. Mesmo que nunca fosse adotada, com ela eu me sentia em família. E a dor de nunca ser quista por nenhum casal parecia ser um pouco menor.

A good corrupted girl  Onde histórias criam vida. Descubra agora