Capítulo 103

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Jessy

Voltei a minha vida normal, encontrei Jimmy e Guto antes de terminar a turnê deles, assisti ao espetáculo deles, eles fizeram tatuagens comigo, eu sigo cada vez mais vista e melhorando minhas técnicas. Passamos todos o Natal em Londres, até o vovô veio no fim meus dois avôs emprestados se tornaram amigos e é legal tê-los. Meu avô por parte de pai nunca conseguiu se recuperar e não sai de dentro da clínica de recuperação a tanto tempo que aquilo virou seu lar.  Eu comprei um apartamento em Tóquio, não aguentava mais morar com meu tio, ele é muito desorganizado e fanfarrão. Gabi tá vindo passar as férias dele comigo e...

-O quê é isso?

Comecei a ler uma notícia sobre um vírus mortal quando meu pai começa a chamar.

-Oi pai.

*Filha, filha por favor não sai de casa, dá um jeito de comprar tudo o que tu precisa, faz um estoque, mas não sai de casa, Não conseguimos impedir o Gabriel de embarcar, ele comprou uma caixa de máscara e luvas, disse que não comeria nada e não tocaria em nada até chegar aí.

-Fica calmo pai eu... Recém recebi a notícia, tem que ver se não é fake...

*Não é amor, não é, por favor eu não posso perder vocês, eu mando dinheiro, pago suas contas, mas não sai de casa, Gabriel vai chegar aí direto pra um banho, não toca nele até ele tomar banho.

-Tá bom pai, agora se acalma...

*Promete filha, promete pra mim que não vai sair de casa até isso tudo acabar!

-Pai eu... Prometo, mas tenho tentos compromissos e...

*Cancela tudo, por favor, por mim, pela sua mãe, por seus irmãos, cancela tudo, sua vida é mais importante do que uma tatuagem ou dinheiro, por favor, não tô pedindo pra voltar pra casa, só... Por favor.

Meu pai começou a chorar e eu também.

-Eu prometo pai! - falei aos prantos. - Prometo, fica calmo, por favor pai...

*Eu não consigo imaginar perder vocês...

-E-Eu posso voltar pra casa com Gabi se você quiser...

*Agora não filha, as pessoas tão começando a alastrar esse vírus através dos aeroportos, fica quietinha aí, quando tudo tiver resolvido vocês vem... Mas cuide-se pra nos manter vivos e bem.

-Prometo pai!

*É tudo que eu precisava ouvir no momento.

Desliguei a chamada com muita dor no coração por ter ouvido aquele apelo de meu pai, antes de mais nada abri o aplicativo do mercado e encomendei muita coisa, Gabi é um cara grande, come muito então não medi esforços em comprar comida, muito álcool, desinfetante e luvas e máscaras. Depois liguei pra Aimi pra pedir que desmarca-se todos os meus compromissos, ela me achou louca, disse que eu estava exagerando e que devia de ser fake. Cancelei eu mesma meus compromissos. Minha sorte era que eu já tinha meu apartamento todo arrumadinho e confortável. As compras chegaram e não deixei o rapaz entrar no apartamento, ele deixou tudo na minha porta e eu arrastei tudo pra dentro do apartamento, eu tava paranoica, fui lavar as mãos pra pegar um borrifador e encher de álcool borrifando em tudo. Tentei ocupar minha mente arrumando as compras que não couberam nos armários. Daqui de cima eu via que as ruas começaram a ficar desertas lá em baixo. Nunca tinha visto Tóquio tão vazia. Enquanto Gabi não chegava comecei a pensar no que fazer enquanto estivéssemos presos num apartamento pequeno como o meu, droga e se esse vírus se espalhar e demorar pra acabar, até ter vacina pra essa merda pode levar tempos, e se a comida acabar e as coisas frescas e céus isso é enlouquecedor. Comecei a comprar mais coisas pela Internet, até plantas comestíveis, comprei mudas e sementes e encomendei vasos e terra e pesquisei como se plantava. Passei a noite acordada vendo vídeos de como se plantar em casa e em espaços pequenos, a sorte é que tenho uma pequena varanda e a lavanderia também entra sol. O sol recém estava clareando quando bateram na porta. Meu coração deu um salto. Abri a porta e por instinto fui abraçá-lo.

-Não! - disse Gabi estendendo a mão com luva. - Chega pra trás Jessy, por mais que eu esteja louco por um abraço preciso de um banho e tirar toda essa roupa num saco de lixo.

-Está bem o que eu faço?

-Abre mais a porta, vou por a mala do lado da porta e você não toca, tem que passar pelo menos álcool do lado de fora antes, tem um pano de chão e álcool?

-Tenho e tenho um borrifador com álcool também.

-Então pega os dois e depois liga pra minha mãe, avisa que cheguei bem.

Gabi pediu pra eu borrifar álcool na mala, nós pés dele e pela roupa. Então o guiei até o banheiro. Passei pano com álcool por onde ele passou e as roupas dele peguei com luvas e as coloquei pra lavar com bastante sabão. Gabriel saiu do banheiro enrolado na minha toalha arco-íris.

-É frio aqui! - riu ele abrindo os braços. - Preciso de um abraço quentinho.

Sorri ao vê-lo daquele jeito pra mim, corri até ele pulando em seu colo e o esmagando.

-Senti sua falta! - confessei.-Mas você é louco de sair assim...

-Eu não podia te deixar sozinha minha vida.

Afastei o rosto pra olhar em seus olhos e o beijei.

-Humm... Usou minha pasta de dentes!

-E peguei uma escova nova na sua gaveta.

-Folgado. - falei o fazendo rir.

-Vem cá é sério tá frio mesmo, tem alguma manta pra mim?

-É o que mais tenho.

O peguei da mão o levando pro meu quarto, levantei a coberta que ainda tava ligada na tomada, pois não vim desligar, passei a noite na sala. Gabriel tirou a toalha cobrindo suas partes íntimas e se jogou debaixo das cobertas.

-Aí que quentinho.-o cobri e ele segurou minha mão -Vem?

-Vou ver alguma  coisa pra gente comer...

-Eu tô varado de fome, não comi nada desde que saí de casa.

-São mais de 16 horas Gabriel, tomou água pelo menos?

-E me arriscar? Nem pensar.

-Vai ter um treco garoto, toma liga pra dinda que eu vou trazer água e comida.

-Qual a senha?

-Te amo!

-Eu também.

-A senha é "Te amo"

Enchi de água minha garrafinha dos vingadores e levei pra ele. Gabriel é louco, podia ter desmaiado. Preparei ovos mexido pra ser mais rápida, levei com os hashi e Gabriel riu.

-Não comprou garfos?

-Eu moro sozinha, pra que eu iria usar garfos?! - dei de ombros sentando ao seu lado. - Mas se quiser posso te dar na boquinha, já que não sabe comer de palitinhos.

-Adoraria, mas eu sei comer sim. Trás o seu café pra comer comigo.

-Vai comendo que vou trazer mais coisas.

Preparei uma mesa móvel de café pra levar pra cama, eu ainda tenho frutas então fiz um picadinho pra nós dois. Eu também estava faminta e muito cansada. Conversamos sobre a viagem dele pra cá enquanto comíamos. Levei a mesa pra cozinha e voltei pra me deitar com ele. Acabamos adormecendo abraçados.

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