Capítulo 18 - Rio Estige

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De um lado trolls derrubados, do outro, meus aliados perplexos com a força do monstro que me acompanhava. Quem imaginaria que o pássaro que me raptou voltaria comigo e nos ajudaria a derrubar nossos inimigos? Sem contar que só precisou de um grito para desmaiar todos eles.

Olhei de um lado a outro do campo de batalha. As pessoas da caravana, impactadas com a reviravolta dos eventos, pareciam estátuas. Provavelmente pensaram que estavam a ponto de morrer antes da minha chegada.

– Por que estão parados? Os trolls ainda estão vivos. Temos que acabar com eles.

Espalhei minha magia violeta pelo chão. Com um movimento ascendente das minhas mãos, pedaços de 10m³ de terra levitaram. Os comprimi com Transmutação transformando-os em centenas de estacas de pedra que voaram na direção dos trolls. Graças à melhora da habilidade, eram fortes como ferro e atravessaram seus peitos sem dificuldade.

O chefe troll foi o que mais me deu trabalho. Seu nível era superior ao meu e sua pele era bem resistente. Mas nada que uma dezena extra de estacas não resolvesse.

Liberei a habilidade inata dos Limia, Correntes Espirituais, e 4 corretes astrais similares a serpentes saíram das minhas costas. As garras nas pontas foram até os espíritos dos trolls que descansavam encolhidos sobre os corpos recém falecidos.

Geralmente, os espíritos demoravam um tempo para desaparecer. Nesse intervalo eu os transformava em invocações ou, como hoje, em material para golens.

Segurei os espíritos no lugar com as correntes ao mesmo tempo que usava Transmutação para curar os corpos e melhorá-los fazendo-os mais resistentes. Através do meu mana, pude sentir que os trolls tinham uma pele parecida a de pedra e seus olhos eram duros como ferro.

Ao redor do campo de batalha haviam pedaços dos meus 500 golens aracnídeos. O restante dos meus golens também estavam lá, incluindo os pequenos tatus-bolinha que aumentavam a gravidade. Eles conseguiram sair dos túneis e ajudaram na defesa. Imagino que se não fosse por eles, meus amigos teriam morrido.

Me concentrei no golem aracnídeo de ferro que estava em pedaços bem no meio do campo de batalha. O fiz levitar com um movimento da minha mão e separei o ferro em 201 partes iguais. Assim, cobri os trolls com uma leve armadura. Depois, tirei um pedaço de ferro negro do inventário e fiz uma segunda camada.

Para finalizar, usei minhas correntes espirituais para empurrar as almas de volta nos corpos. Elas resistiram e tive que beber minhas últimas poções de mana para obriga-los a entrar nos corpos golem, mas no fim consegui.

Uma das maiores desvantagens deles é que são como robôs bobos quando nascem. Se os deixasse crescer com o tempo, se tornariam mais inteligentes. Entretanto, a melhor solução era usar as almas dos mortos para acelerar esse processo.

Finalizando as modificações, recitei a palavra Emet e uma luz azulada preencheu os olhos dos trolls. Agora, mais fortes, se levantaram do chão se organizando em fileiras como um exército.

[Golem Troll da Montanha nível D2, vida 700, força 35, magia 36, espírito 32. Habilidades: olhar petrificante 6, endurecimento 5, manipulação de terra 2.]

O chefe dos troll encabeçava o grupo como se fosse o chefe de um novo batalhão. Sua armadura de ferro e pele negra criou um incrível contraste com o seu olho agora azulado.

[Golem Chefe Troll da Montanha nível C1, vida 1100, força 54, magia 57, espírito 51. Habilidade: manipulação de terra 3.]

Olhar Petrificante e Endurecimento não estão na lista de habilidades do Chefe Troll. Parece que se tornaram parte da Manipulação de Terra 3.

Apesar do meu número de golens diminuir, sabia que esses trolls capazes de manipular a terra facilitariam ainda mais a nossa viagem. Eles poderiam combinar suas habilidades para abrir caminho na floresta e me ajudar na criação de novos golens. Sem contar que o Chefe Troll nível C1 faria uma grande diferença nas batalhas a seguir.

Me virei encontrando milhares de olhos grudados em mim com emoções conflitantes. Alguns estavam fascinados enquanto outros assustados. Não era todo dia que alguém via os mortos voltando à vida.

Claro que não eram exatamente mortos-vivos, pois minha habilidade usava suas almas como um material e os fazia perder parte da sua essência no processo. Porém, muitos não enxergariam as coisas dessa maneira.

Senti um pesar ao pensar que me parecia mais com os magos deste mundo a cada dia que passava. Eles não mediam esforços para se fortalecer e sempre faziam qualquer coisa para conseguir o que queriam.

Samanta que foi a primeira a sugerir usar as almas como material.

"São inimigos, então não conta."

Foi o que ela disse, mas me perguntava até que ponto deveria fazer isso.

Parei de divagar e voltei à caravana. Atrás do grupo havia uma floresta com árvores de 50m de altura e depois o famoso Rio Estige que Samanta tanto mencionou.

O rio parecia enorme observando-o daqui. Provavelmente tinha mais de 3km de uma costa a outra. Supostamente, chegaríamos mais rápido seguindo o rio para chegar ao mar e de lá subir ao norte.

Uma das poucas pessoas que não se concentrou na minha demonstração de poder era Pâmela, que foi diretamente verificar a condição dos seus guerreiros petrificados. Entre eles, estavam os dois irmãos que conheci antes. Ela derramou lágrimas enquanto tocava os seus rostos sabendo que não havia maneira de curá-los.

Samanta, do lado, também se viu num impasse, pois não queria revelar sua rara habilidade de cura para estas pessoas. Porém, essa era a única coisa que poderia salvá-los.

Antes, ela havia usado algumas poções para despetrificar os poucos guerreiros que foram atingidos. Dessa vez, ela não possuía ingredientes suficientes.

– Por que essas caras? Não veem que acabei de criar um exército de Golens Trolls? Obviamente, se podem transformá-los em pedra conseguem fazer o contrário.

Apontei para os guerreiros e os Trolls emitiram um brilho azulado dos seus olhos. Juntos, dispararam raios lazer que atingiram os guerreiros petrificados e os fizeram voltar ao normal lentamente.

Pâmela e o restante dos homens-lobo vieram agradecer. Senti que sua lealdade a mim chegou a um novo patamar por causa das minhas ações.

Fiquei surpreso que ninguém morreu. Alice entendeu o que pensava e logo complementou.

– Foram aquelas pessoas que salvamos da vila troll que nos ajudaram. Aquele senhor magro de barba branca e a pessoa encapuzada do seu lado foram os que mais conseguiram afastar os trolls. São muito poderosos.

Observei o senhor barbudo que parecia um típico mordomo de família rica e a pessoa mais baixa do seu lado. Esses eram os níveis C que vi na caverna.

Provavelmente a pessoa encapuzada é um dos nobre que fugiu da cidade. Deve querer esconder sua identidade para não ser reconhecido. Ah, melhor não me envolver. Eles já ajudaram demais.

Depois de um bom tempo acalmando todo mundo, seguimos viagem com os Trolls encabeçando o grupo. Eles apontavam suas mãos para frente usando sua manipulação de terra para empurrar as árvores para os lados. Outro grupo aplanava o chão formando uma das melhores estradas que este mundo já viu. Nossas carroças e carruagens desceram rapidamente a montanha graças a isso.

Nenhum monstro nos enfrentou no caminho. Sendo um grupo tão grande e demonstrando tanto poder, dificilmente haveria um disposto a atacar. Mesmo assim, mantive minha atenção nos arredores para evitar problemas. Sabia que, apesar de parecer muito poderoso, não passava de um mago de segunda categoria.

Meus golens de pedra, por exemplo, eram praticamente insignificantes na frente de um inimigo nível C. Os corpos de seres nesse nível eram tão fortes que até metais tinham dificuldades em cortá-los. Ataques de pedra fazem um dano mínimo. O máximo que conseguiria seria cansá-los com números acumulando dano às custas de milhares de golens.

Pelo menos meu nível de manipulação aumentou. Os golens serão mais poderosos no futuro. Se tivesse metais preciosos como as harpias poderia criar um exército imbatível... No fim, tudo se resume a recursos. Preciso achar uma forma de conseguir bons materiais depois de me encontrar com Ana.

Invocação Golem 2 - O despertar dos DungeonsOnde histórias criam vida. Descubra agora