Cordilheira do Desejo

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TW: Drogas

O som alto inundou seus sentidos quando ela flutuou pela primeira montanha. Os corpos em movimento bateram nela quando Shivani mergulhou no ar doce e mágico.

Ela sentiu cair e depois voar. Cair. Voar. Ela podia sentir o gosto de manjares que nem estava comendo. Os corpos na multidão dançavam e sereias nadavam no ar. As cores ofuscavam sua visão.

Shivani se sentiu perdida e ao mesmo tempo se encontrando. Ela estava esquecendo de algo e se lembrando de tudo. Deixando tudo se esvair no doce sabor do licor inexistente em seus lábios.

Sua cabeça girou quando a sereia flutuou em volta dela, os cabelos pretos tremulando como se estivessem debaixo d'água. Ela nem sequer sentiu medo, ou o formigar das mordidas recentes. A sereia era totalmente diferente do monstro de mercúrio. Uma beleza inumana. Como aquela coisa linda se queimaria com sal? A pele dela era levemente rósea e brilhante como cobre, seus olhos animalescos delineados cor de um amarelo ofuscante, sua cauda alternava entre pernas e escamas, ou talvez fosse a mente da pirata fazendo ilusões. Os ombros dela roçaram nos da sereia, as clavícula se tocando, dedos que brilhavam numa cor lascíva de vermelho suave, lábios como morangos suculentos.

As cores a sua volta deixaram a pirata desnorteada. A beleza dela a deixou.

A sereia tirou uma pérola rosa de seu colar e pôs entre os dedos, girando-a entre o polegar e o indicador. Ela deu uma risada leve, parecia o cair de uma flor de cerejeira.

Não.

Shivani deu as costas, passando pelo borrão de corpos dançantes e nus. Ela desejou ter um bocado de sal. Tinha que ser estúpida para vir sem nenhum grão, mas ela o fez. Continuou fugindo. Ela se sentiu cair gradativamente até um ponto mais baixo da montanha em que estava. Ela precisava procurar.

A iluminação escureceu enquanto ela tentava colocar a cabeça no lugar. Ela ouviu os sons indecorosos daqueles que procuravam se divertir na parte mais baixa da montanha. Isso só deixou mais difícil pensar. Ela tinha um objetivo, e ele era...

- Shivani... - A voz melodiosa a chamou. A sereia de antes estava atrás dela. - Por favor, não me deixe.

A pirata sentiu esquentar, ela precisava se focar, fazer o que ela tinha vindo fazer. Ela se sentiu sorrir. Ah... Mas o que alguém vinha fazer na Cordilheira Das Sereias de Cobre?

- Eu nem sei seu nome. - Shivani riu, como ela podia deixar alguém que não conhecia?

- Eris. - sussurrou como uma mentira deliciosa.

Os olhos da pirata pareciam pesados, mas ao mesmo tempo relaxados. Ela quis rir, era um lindo nome.

Os cabelos da sereia passaram pelo busto da pirata. Sedosos, como ela podia sentí-los quando parecia não sentir nada, quando flutuava e parecia etérea? Eris lhe estendeu a pérola rosa, a pirata negou. Eris tentou de novo, empurrando-os contra os lábios dela.

Era doce, ela sentiu. Era um doce. Tinha cheiro de paraíso comestível.

A regra de Magi estalou em sua mente: Não beba ou coma nada que lhe oferecerem. Significaria morte, morte mergulhada em ilusão como uma maçã do amor.

Mas Shivani queria. Apenas uma lambida, um pedaço. Ela realmente queria. Sua língua deslizou para saborear. O que quebrar essa regra poderia ser? Nada demais. Ela viera se divertir, como todos ali. Ela seria amada. Querida.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora