Ameaça ao Anjos

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Asmus sentiu seu coração apertar. Eram muitos soldados e muitos navios, mas conseguiriam.

Era o que Asmus pensou até ver a Espada nas mãos da pirata.

Era como segurar a própria maldição e fazer carinho. Qualquer um que não fosse o deus da Fortuna não poderia manejá-la sem ter sua sorte roubada.

Mas Shivani estava hipnotizada demais para perceber isso. Para perceber que a magia estava consumindo-a.

Ele conseguia ver enquanto ela tentava lutar contra tudo que minava suas forças. As sereias, Eris, o general e... a espada. Toda a luta foi como se ela estivesse sendo cozinhada. Até as maçãs de seu rosto estavam mais fundas.

Shivani caiu grunhindo, ela ainda escarnecia mesmo com os cabelos grudados na testa, o rosto sujo de sangue e as costelas quase abertas. Ela era uma imagem da miséria e era terrível porque aquela não era Shivani de horas atrás. A pirata tinha um espírito mais imortal que o dele mas seu corpo estava sendo...

Ele sentiu enrijecer quando o homem chegou perto dela. Tão próximo que poderia matá-la usando as mãos. Ele viu Shivani se preparar para sua investida surpresa. Como ela podia ser tão inteligente em certos momentos e tão tola em outros?

Às vezes, Asmus esquecia que ela era humana. Apenas uma mortal.

Quando o sangue dela manchou a madeira, ele se lembrou. Se lembrou tão profundamente que temeu que ela morresse. Ele sentiu isso no fundo de seu âmago. Mais temor do que da própria deusa da justiça amaldiçoada.

Ele viu a espada descer, o fio na reta perfeita, seguindo um fio invisível que deceparia a cabeça do seu Lindo Pesadelo em segundos.

Asmus esticou a mão impotente. Seu coração pareceu explodir.

- Maldito Kraken! - Ele gemeu desesperado. Por favor, pensou numa prece enquanto corria para ela. Por favor, não morra.

E vindos do nada, tentáculos agarraram os mastros, a figura de proa, as escadas. Serpenteando como cobras.

O Arcanjo quase virou. Asmus observou exasperado quando as coisas maiores que seu próprio corpo em largura se enrolavam nos mastros e subiam até os navios no céu.

O general foi levado com a súbita virada. Seu tronco foi agarrado e ele usou a espada para cortar o braço monstruoso. Eris continuou tentando atacar Shivani no chão. Ela rolou pra longe. O general grunhiu e gritou, se livrando aterrorizado como se o próprio demônio tivesse se materializado para levá-lo.

O navio se inclinou e Eris se desequilibrou, precisando se defender do octopus enorme. Shivani se segurou na borda nas escadas antes que deslizasse. Ela segurou a espada com força contra si mesma.

Os tentáculos tinham força demais. Asmus amaldiçoou a si mesmo por ter chamado aquela criatura. Era má sorte demais, mais do que qualquer um poderia ter. O suficiente para afundar o próprio navio e todos os outros. Eles precisavam se livrar dele. Mas ele era... O Kraken.

Procurou pela tripulação quando de longe, viu Khrysaor com um... sorriso? Cortando firmemente os tentáculos que o ameaçavam. Toda a tripulação estava no convés dessa vez, lutando para salvar seu único navio. Mesmo seus inimigos lutavam para sobreviver do ataque do monstro.

Asmus correu, empurrando marinheiros e os tirando do caminho. Deslizou até Shivani.

- Está bem? - Ele levantou o rosto dela, certificando que ela estava realmente viva. Ela tinha seus ferimentos, mas nada mortal. Ele a puxou para o peito, suspirando. Ela estava viva. Sentiu o alívio se apoderar de seus ombros.

Um rugido fez com que se encolhessem. Ah, claro, a criatura abismal.

- O que é isso? - Ela gemeu.

- O mau e velho Kraken. - O cão do mar disse em tom de desculpas. Ele observou o aperto forte dela na Espada. Porque ela havia reunido aqueles pedaços? Não era hora. - Solte isso, Shivani.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora