Manjar de Fada

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Asmus se sentiu puxado até lá. Os Ecos pararam de falar.

Ele andou cautelosamente até a mesa. Os talheres eram talhados e ela estava posta cuidadosamente. A cadeira estava puxada como se apenas para si.

Ele se sentou e esperou.

- Você chegou. - Agnes agradeceu.

Asmus sentiu sua nuca arrepiar com a conhecida voz. Lá estava ela, a garota dos olhos verdes e cabelos dourados, num vestido bordado branco, com as pernas humanas balançando sob a mesa, sem olhos sanguinários nem garras.

- Agora só faltam mais três convidados. - Ela se levantou, servindo o vinho. - Você não está arrumado para a ocasião.

Num estalo dos dedos dela, as roupas sujas de pirata se transformaram nas vestes de um cavalheiro.

- Isso é um eco? - Perguntou Asmus desconfiado. Ela sorriu e balançou a cabeça.

- Claro que não, já vivemos algo assim? Não. - Ela sorria ao trazer bandejas de prata.

Asmus puxou seu sorriso insano para manter a pose.

- Claro que não. Pode me passar o pão?

- Aqui está, Traidor. - Ela o serviu. Ele continuou sorrindo, como uma ameaça ou um escudo, entrando no jogo. - Ah! Mais um convidado.

Khrysaor se sentou a mesa. Asmus cruzou o olhar com o dele, o guerreiro parecia mais humano do que ele nunca o vira. Havia medo em seus olhos.

- Parece que o passeio fez muito bem a vocês. Não se preocupem, estamos apenas começando. - Ela serviu o vinho de Khrysaor. - Eu jamais imaginei um jantar como esse. Dois deuses na minha mesa. Que delícia.

Os dois levantaram o rosto para ela.

- Eu sei que a maldição não permite que vocês falem sobre isso. - Ela riu. - Acreditem ou não, nós monstros temos pena de vocês. Criaturas que buscam ser criadoras. Vocês se tornam fortes de corpo e fracos de coração. Ainda sentem tudo. Ainda tem memórias. Ainda são controláveis. E vocês já foram como nós: Famintos. Faz parte do processo. Mas agora vocês pensam que não são monstros... Ilusão, mais do que essa floresta.

- Estamos sentados no seu banquete de fada e não estamos enfeitiçados. Estamos famintos e não devoramos. Não como você faz. - Asmus pontuou com um sorriso desafiador. - Eu posso não conseguir ver sob a pele de Agnes, Fada, mas eu sei o que você é. Eu esperava mais, admito, quem sabe asas e pó de fada.

Ela riu. Asmus conteu o bufar, e a pontada de medo. Eles não sabiam com o que estavam lidando, e estavam no território dela.

- Não podem recusar um jantar tão carinhosamente preparado. Nossas convidadas vão chegar e nós vamos comer e conversar. Sem acusações, docinho. - Ela se incilinou sobre a mesa para mais próximo de sua orelha. - Você não vai querer que eu abra o bico para a garota... - Ela virou o rosto para um ponto vazio na floresta, como se pudesse sentir os passos dela. - Aqui está ela!

Shivani cambaleou com o braço envolto nos ombros de uma desconhecida. Asmus tentou se levantar, mas seus quadros pareciam feitos de chumbo.

A mulher ruiva que apoiava Shivani parou. Ela olhou toda a mesa e o seu rosto se contorceu, enquanto seus pés continuavam a marchar em direção ao banquete.

🌙 🌙 🌙

Khrysaor segurava a taça com força o suficiente para quebrá-la quando a ruiva e a pirata se sentaram à mesa.

- Finalmente todos chegaram! - anunciou Agnes alegre. A Fada na verdade. A anfitriã. - Podemos começar o jantar. Vocês vieram aqui me pedir para transformar sua amiga em humana. Aqui está.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora