Verdade Vício Deus

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Shivani e Asmus voaram por cima das mesas com as armas em punho e uma sintonia mortal.

Shivani apunhalou um dos corsários e o jogou para o lado, Asmus arrancou a espada do homem e o matou. Eles continuaram com a rapidez de um exército. O som das espadas era uma sintonia continua que quase não mostrava resistência.

Havia pouca gente pior que Shivani no mundo e aqueles corsários não eram desse tipo. Talvez Asmus fosse, mas naquele momento ele a cobria com uma perfeição bélica desumana, enquanto ela cortava os corsários por baixo de seus uniformes cheios de medalhinhas. Asmus avançava como se derramamento de sangue estivesse em seus horários desde sempre, ele os decapitava ou degolada em segundos, e os mais sortudos mais uma vez morriam antes mesmo de chegar até ele, como se o infortúnio houvesse cruzado seus caminhos assim que eles apareceram. Os dois piratas só podiam ser o que havia de pior.

E havia... Khrysaor.

Shivani começou a notá-lo quando seus alvos diminuíram. Ela e Asmus lutavam como demônios, mas o viajante lutava com elegância.

Ele levantou os sabres em perfeita harmonia e cortou a mão de um corsário sem mal derramar sangue. Girou nos calcanhares e o esfaqueou na garganta. Antes que o homem começasse a gritar ele o derrubou e o apagou. Observou sangrar, disse algo baixinho, partiu para o próximo. Era um processo, uma dança de salão, um cálculo. Era simétrico, era natural.

Shivani derrubou um dos corsários e quebrou sua espada em dois. Asmus gritou algum elogio aleatório.

- Pela maldita mandíbula da serpente marinha. - Ela murmurou quando mais quarenta corsários começaram a entrar pelas portas laterais. - Vamos sair daqui.

Ela estava pronta para usar sua carta na manga. Shivani puxou um orbe de dentro de sua calça pirata cheia de bolsos. O orbe feito de prata brilhava numa cor roxa intensa e irradiava magia. Pulsante. Magnética.

Era como um coração vivo.

Badum. Badum. Badum.

Os novos corsários se aproximavam deles quando a pirata sentiu o prazer de girar as semi esferas em direções contrárias. Ela sentiu em cada centímetro de sua pele. A energia. A nostalgia. Como sentia sempre. Não era dela, mas era.

Ela viu os soldados entrarem num turbilhão de espadas e pistolas, uniformes e dentes cheios de acusação. Ela pensou que deviam vir mais devagar.

A magia se derramou pela sala numa inundação em combustão. Shivani sentiu êxtase a medida que os homens do Ditador pararam em câmera lenta, seus corpos parando no tempo. A pirata impediu a magia de tocar Asmus e Khrys. Era isso que magia representava, poder.

Era maravilhoso, e não era. Sentia-se de volta ao convento, no fundo de um poço profano, com a magia salvando sua vida e a carne e os ossos das freiras escorrendo em sua pele com a água.

A pele dos corsários começou escorrer.

🌙 🌙 🌙

Asmus se horrorizava com poucas coisas nesse mundo. Muito poucas mesmo.

Uma delas: ver a pele de homens se desprender do corpo como alguma espécie de couro mal encaixado. O sangue começou a empoçar no chão, enquanto os ganidos de horror aumentaram.

Shivani deu uma gargalhada. Asmus sentiu o cheiro da magia em suas narinas, o gosto doce e ácido em sua boca, a irritação mágica na pele. O calafrio percorreu sua espinha com a mesma intensidade de quando avistou Khrysaor. Era noite do eclipse. Ele sabia que Shivani possuía magia, mas vê-la usar era completamente diferente.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora