Mansões Ruíndo

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Atlantis estremecia com as leves passadas de um gordo gato cinzento.

Ícari sabia que aquele era o último dia de Atlantis, numa memória muito tempo atrás. Poucas horas antes que a cidade ilha fosse engolida pelas águas para que o mar nunca mais a cuspisse.

Os trovões e a chuva eram todo o som que podia ouvir.

Ela caminhou por um tempo que pareceram apenas alguns segundos naquela memória. O gato entrou numa sala, tão dourada quanto o ouro puro com uma lagoa profunda como um espelho.

Um jovem de cabelos negros estava a beira da lagoa, seus dedos passando levemente pela superfície. Sentado curvado sobre a água, um dos seus braços cobria seu rosto e tudo o que ela podia ver era seu olhar profundo e irado, com olhos qu não fitavam nada além do vazio.

Então ela percebeu que fitavam sim.

Um homem idoso estava do outro lado da lagoa, suas roupas eram brancas e seus adornos azuis e dourados. Um cajado quebrado jazia aos seus pés e uma coroa estava na sua cabeça.

- "Caro rei, temo que há traidores entre nós." - Sussurrou o jovem, mas não parecia ser para o rei a sua frente. - "Caro rei, estes homens de fora podem mentir, não acredite neles como acredita em mim seu súdito." - Sussurrou com mais raiva. - "Caro rei, não há ninguém em quem deve confiar mais do que em seu sacerdote!" Há! Há! - Ele se virou para chutar a água e fazer suas ondulações chegarem ao outro lado, divertido mas furioso. - "Caro rei, você deve morrer agora."

- Você serviu para um propósito maravilhoso, Aramis, ainda não consegue enxergar isso? - Respondeu o velho. - Seu coração imortal deveria estar alegre, porque busca mais do que o que sempre me pediu?

O jovem se levantou, usava apenas parte da túnica, seu corpo era como uma parede de músculos, esculpido como o deus que deveria ser.

- Me tornei uma marionete por um mundo que não mudou nada. Você me prometeu... Tudo. - Ele gesticulou para o homem do outro lado. - Mas seu reinado não mudou nada deste mundo, você aumentou a pobreza, as revoltas e as mortes. Sabe o que eu tenho feito para controlar o seu povo? - Ele bufou. - Não sabe não é mesmo? Porque não se importa com eles, não se importa com nada além de si mesmo e o trono que você não merece. - Ele caminhou para dentro da lagoa. - Estou cansado de ser o seu deus domesticado, Sanrrokah.

- Não sei onde errei com você. - Lamentou o velho num suspiro cansado. - Eu te criei para liderar o resto, por que está reclamando disso, criança? Acha pouco o poder que te dei? Eu te livrei de dormir sobre sacos para te colocar sobre fios de seda. Coloquei em seus dedos os meus anéis e lhe disse faça. E você nunca teve medo de fazer. - Ele balançou a cabeça desapontado.

- E jamais terei. Jamais serei como você, egoísta, vão e tolo. Eu te via como... - Ele tremeu, sua boca foi coberta pela água, ele nadou por alguns momentos até estar mais perto do outro lado. - É hora de você sair da minha cabeça. - Rosnou.

- Nunca estive na sua cabeça, Aramis. Somos iguais eu e você. Queríamos destruir esse sistema e destruímos, podemos refazer tudo como sempre quisemos. Mas eu te tomei como especial e agora você esqueceu tudo o que te ensinei. Isso não é você. - O velho colocou suas mais sobre os ombros do jovem. - Eu te criei, te moldei para ser exatamente o que é e fazer exatamente o que faz e agora você se vira contra mim?! - O velho, cara a cara com o seu pupilo, espumava, seus dentes como um animal de presas. - Você foi forjado à mão, Aramis. Foi feito para controlar. Feito para me seguir e nós faríamos um amanhã melhor. E nós mudamos o mundo. Nós construímos essa sala, esse trono e esse povo. O que mais você quer?

- Você esconde a verdade de si mesmo velho, isso é uma razão pra se envergonhar. Você sabe que não somos mais do mesmo tipo. - Ele tomou o rosto do idoso entre as mãos num gesto quase carinhoso. - Você me traiu, Sacerdote. Você esqueceu o que nós prometemos. Não vai existir um preço que eu não pague para moldar esse mundo como nós queríamos. - Ele encostou sua testa na do antigo sacerdote. - Como eu quero. - Ele deixou um beijo na testa dele. - Você me criou para controlar. Me criou para ser deus e no final, você é só um homem.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora