O Estranho

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Shivani interceptou o ataque com sua espada e lançou a adaga do estranho no mar. O Capitão lhe deu um sorriso.

Mas eles não esperavam que o prisioneiro pulasse para se juntar a sua adaga. Shivani mal pôde acreditar no que aquele suícida acabara de fazer, eles já estavam longe demais da praia. Observou por alguns segundos enquanto ele não aparecia e deu de ombros até voltar seu olhar para o Capitão que, assim como toda a tripulação, olhava para ela.

- Vá buscá-lo, Shivani. - Ele pediu. - Não temos a noite toda.

Ela lhe lançou um olhar furioso.

- Não está achando mesmo que eu vou entrar na água gelada para buscar seu brinquedinho. - Ela passou os dedos pelo fio da lâmina.

- É melhor você não deixá-lo se afogar. Ou nosso acordo estará acabado. - Ele disse simplesmente como se todos os anos passados juntos pudessem ser jogados no relento com aquele maluco.

- Você não pode estar falando sério. - Ela retrucou desacreditada, lançando um olhar para as águas escuras.

- Seu contrato e o dele estão atrelados agora. - O Capitão abanou a mão desconsiderando, ele olhou para o mar com um falso olhar preocupado. - Eu acho que ele está morrendo.

- Você não pode fazer isso. - Ela recusou. - Eu não tenho nada a ver com ele, nem o conheço.

- Eu acho que vi algumas bolhas subindo. - O Capitão a ignorou.

Shivani olhou do mar para o Capitão algumas vezes antes de amaldiçoa-lo até a última geração e pular na água. Ela segurou o pergaminho com toda sua coragem, se tivesse sorte, não danificaria sequer as bordas.

A água era fria como as patas de um polvo polar e escura como o interior de uma caverna subaquática. Ela tateou e nadou na escuridão até por suas mãos em uma corrente gelada. Ela puxou com a força de sua indignação e passou os braços ao redor da cintura do seu infortúnio.

Ela bateu no casco do navio quando emergiu, gritando para os bastardos jogarem alguma corda se estavam esperando que ela criasse asas.

Quando subiu no navio, mostrou os dedos do meio para o Capitão e deu um chute no suicida desacordado. Ela estava encharcada e tremendo, nenhum dos marujos a ajudou a acordar Asmus depois que o Capitão virou as costas e foi para sua cabine. Shivani agora era babá de algum tipo de maluco importante e ela não sabia se isso era pura pirraça do Capitão para colocá-la em seu lugar ou se aquele cara realmente devia ser mantido vivo por outro motivo.

Ela sentou no convés cansada e congelando. Com os olhos em Asmus, percebeu com irritação que ele era muito bonito, estava encharcado pela segunda vez no dia e poderia pegar uma pneumonia. Então o arrastou até sua própria cabine, se perguntando se estaria em problemas se ele morresse, ela poderia dizer que foi um acidente. Ao lembrar do olhar decidido do Capitão, abandonou a ideia.

Ela havia atravessado um furacão por ele tanto quanto os outros marujos, e já que ele estava em suas mãos, ela arrancaria cada pedacinho de informação que pudesse para saber o que o Capitão planejava.

Shivani afastou os cabelos pretos do rosto dele, percebendo que desmaiado ele parecia muito mais tranquilo do que quando tentara enfiar uma lâmina no seu Capitão. Uma cicatriz cortava seu rosto logo abaixo do olho direito em formato de um círculo. Ela abriu a camiseta branca, e ficou surpresa ao encontrar um corsete muito bem amarrado.

- Nem eu uso essas coisas - Ela apalpou a própria cintura com desgosto. - Você deve ser um vaidoso nojento.

Ela retirou o corsete com dificuldade, revelando um torso cheio de cicatrizes. Shivani correu os olhos sobre as marcas e deu um assobio pesaroso.

- Alguém estava com muita raiva para ter te usado de amolador de faca. - Ela deu uma risada maléfica sozinha enquanto o trocava como uma boneca muito, muito grande. Pegou algumas roupas secas com Aulak apenas para descobrir que ficaram muito apertadas e desistiu depois de algum tempo. - Se morrer não será minha culpa.

Shivani o colocou para fora de sua cabine e foi se trocar. Penteando os cabelos castanhos com dificuldade, a água salgada os transformava em palha, mas ela nunca desistiria do mar por causa disso.

Se sentou em sua cadeira e tirou o pergaminho dos seios. Estava intacto, um milagre a julgar a sorte dos piratas. Shivani o abriu, um pedaço de papiro que não era maior do que sua palma mas que levava todo seu destino. Ela correu os dedos pela rima da dica, e traçou o pontilhado que levava ao tesouro, fez uma reza rápida para qualquer um que pudesse ouvir.

Quando se deitou na cama, olhou para o mapa do continente e dos mares em seu teto. A pirata abriu e fechou os dedos para o alto, fingindo agarrá-lo por inteiro. Tudo pertenceria a ela, e não seria um mascote do Capitão que a impediria.

🌙 🌙 🌙

A manhã seguinte começou com gritos novamente e Shivani já estava se cansando de acordar assim.

Quando ela abriu a porta, o convés estava lotado de marinheiros descontrolados. Alguns deles gritavam, outros torciam e todos se juntavam em um círculo no centro da confusão. A pirata revirou os olhos e desembainhou a espada.

O som fez os marujos se afastarem abrindo caminho. Quando ela chegou no meio da roda, viu uma cena que já esperava.

O cão suicida do Capitão estava lutando com um dos marujos, o homem tinha o dobro do seu tamanho e sua orelha direita estava no chão. Se era uma briga séria ou de entretenimento, Shivani não quis saber. Asmus sorriu para ela com os dentes cheios de sangue.

Ela levantou sua espada contra o peito dele e o fez recuar. Depois se virou para os marinheiros e cuspiu:

- Vão arranjar algo útil para fazer, imundos. E você aí, costure a orelha desse cara.

A risada do cão de briga a fez voltar os olhos para ele. Shivani se aproximou o bastante segurando o rosto dele entre os dedos em desafio.

- Vai tentar morrer de novo? - A pirata perguntou se lembrando das águas geladas da noite anterior. Asmus sorriu vazio e avançou os com dentes contra a mão dela. Shivani puxou rápido antes que perdesse um dedo, xingando-o baixo.

- Mudei meus planos. - Ele respondeu simplesmente. - É minha responsável certo? Vou matar você.

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Romântico.

Quero que vocês imaginem o continente num estilo bem steampunk e cyberpunk mas isso não é tão importante agora.

Tem um bom motivo para o Capitão ter trazido o Asmus para o navio, vão montando as teorias kkkkkk

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora