Velhas Memórias 2/5

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Trigger Warning: Violência, Mutilação, Linguagem.

Leiam com cuidado
Saber do que houve na época que a Shivani era mais nova não é necessário para a história, então quem quiser pular saiba q não perde mta coisa.

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Na mesma semana, Raquel descobriu as conexões de seu pai com as Pombas dos Prazeres, o bordel que sua mãe trabalhava e ficou enojada. Não apenas com o fato de ser filha de uma prostituta e de ter quase sido vendida para aquele lugar, mas também porque o Covil De Mercúrio, o principal ponto comercial dos Albatrozes, fornecia os produtos.

Sua mente voltava até lá constantemente. Para o assassinato que cometera, como ela estava entorpecida, como fora manipulada. Por todos esses anos ela vira sua mãe como uma boa mulher, talvez até vitimizada por estar longe, ela imaginou que aquele olhar no rosto dela era amor. Qual era a sua definição de amor, se por tanto tempo ela achou que aquele olhar de escárnio era um sorriso?

- Raquel? - O professor a chamou. Ela não estava conseguindo prestar atenção em nenhuma das lições. Seu quarto de estudos, mesmo arejado e luxuoso, agora mais se parecia com uma prisão.

- Desculpe. - Ela murmurou fechando o livro.

- Se quiser sair um pouco. - Ofereceu. - Pode voltar antes do almoço. Ponha a cabeça no lugar ou nem venha. E não saia da propriedade, esteja no quarto antes que a passeata do Distrito do Silício comece.

A menina assentiu e saiu, indo caminhar pela mansão até voltar a se concentrar. Passeatas em distritos eram algo que seu pai fazia para manter os moradores quietos. Ela nunca fora a uma. Mas sabia que era com elas que os Albatrozes mostravam que eram os únicos que podiam fazer o que faziam. Seu pai ajudava a controlar a criminalidade, ela sabia que puniam os menores infratores antes que piorassem as coisas.

Então lhe veio o pensamento que alguns desses infratores podiam ter sido vendidos para as Pombas. Raquel sentiu que vomitaria. Ela precisava ver, precisava saber se alguma das passeatas terminava no bordel. Estava em sua mente e em todo lugar.

A menina foi até as grades do portão, silenciosamente. Lá fora, o Distrito do Silício repousava como um gigante de ferro abaixo dos Albatrozes de Axel. As fábricas soltavam fumaça e vapor, tingindo o céu com um caminho para os navios.

Ela pulou as grades e aterrissou do lado de fora. Tinha nove anos e era a primeira vez que saiu sozinha. Raquel sentiu um frio de excitação na espinha.

Os tons de amarelo velho e cinza metálico tingiam a rua. O verde era escasso, apenas em algumas janelas, em mini jardins. Metais como ouro e prata só eram vistos nas construções do governo. A arquitetura não passava de uma remodelagem metálica das construções da Idade Média. Raquel não gostava de estudar história.

Era cedo e havia poucas pessoas que não estavam no centro ou no trabalho, as ruas pareciam desertas. Um navio voador passou por cima de sua cabeça, próximo à uma nuvem, fazendo um ressonar alto, o balão da vela tremulava.

A menina parou no centro da cidade. O Grande Relógio batia doze horas depois da longa caminhada.
O Centro era agitado, o céu estava repleto de navios e o horário de pico fazia a praça central encher.

De repente um dos navios começou a descer e uma grande multidão começou a se juntar. Os murmúrios atrairam sua atenção. Arquejos chocados aumentaram.

- A Passeata de novo. - Um murmúrio irritado. Raquel foi abrindo caminho pela multidão de casacas.

- Não olhem! - Uma mãe tapava os olhos de suas crianças.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora