Planos e interrogatórios

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- Estão liberados. Tudo por minha conta. Bebam, fodam, joguem cartas, encontrem uma cartomante, durmam com a cartomante, não importa. Façam da sua última noite em terra a melhor.

Ela dissera depois de aceitar a única condição do grupo: derrubar qualquer navio escravista que encontrassem.

Asmus a observava quando Shivani colocou aquele sorriso faminto no rosto. Foi uma troca tão fácil por um grupo tão valioso. Ela estava prestes a começar algo.

Ele se levantou, fez uma reverência sob o olhar dela.

- Com sua licença, Lindo Pesadelo. - Sussurrou.

Shivani sabia que ele não desapareceria como antes. Ele já não era mais responsabilidade dela e nem propriedade do Capitão.

Asmus desapareceu na multidão. Desviando de dançarinos e malucos. Sempre que ele passava, alguém escorregava ou levava um soco, os jogos de sorte eram perdidos e ganhos.

A nova tripulação havia se dispersado para sua última noite, mas os assuntos do monstro com eles tinham acabado de começar.

Asmus viu Lobo com alguns dos seus numa mesa afastada, sussurrando baixo e com algumas velas apagadas em volta. Eles eram estranhos. Pareciam ser os mais próximos do capitão entre a centena. Eram inocentes demais para o que haviam feito. Era muito incoerente.

Uma tripulação disposta a qualquer coisa sendo mortal?

Asmus de esgueirou para a mesa, rondando-os como um predador. As conversas cessaram no mesmo instante.

- Olá. - Ele disse com um sorriso a cada lado do rosto. - Eu sou Asmus. Seu imediato.

Eles mantinham uma distância proposital dele. Asmus decidiu brincar um pouco. Ele tirou uma moeda do bolso, amigável.

- Perdoem minha capitã. Vocês devem conhecer a fama que a precede. - Ele batucou a moeda na mesa, pegando algumas frituras do prato alheio. - Munida com magia ela pode ser um pouco... Incontrolável.

- Não precisa se desculpar. - Respondeu Lobo.

- Não, não preciso. - O silêncio se estendeu. Pouco. - O que vocês sabem sobre magia? - Asmus tentou diminuir a ameaça em seu sorriso, mas para alguns deuses era impossível, principalmente o tipo dele. - Acho que cada um tem uma visão diferente sobre ela. Mas... Sempre me pareceu incrível.

Os olhares se voltaram para Lobo, discretos nada discretos.

- Que tipo de imortal é você? - Perguntou ele sem cerimônia nenhuma. Asmus riu, vendo como o jovem era direto, e como era esperto em evitar a pergunta com uma falsa curiosidade. Ele girou a moeda nos dedos. Pensando na resposta.

- Sou o tipo que ninguém gosta, mas todo mundo finge gostar. - Ele abanou a mão. - E você?

- Não sou imortal, senhor Asmus, mas gostaria de ser. - Ele afirmou, os pequenos focos de conversa retornavam à mesa.

- Muitas pessoas gostariam. - Ele respondeu reticente. - Quem mais você pode imaginar assim? Sua tripulação?

Lobo riu, comendo despreocupado.

- Eles não se tornariam imortais nem para viverem como reis. Há muitos imortais vivendo como cães, pelos rumores. - Ele murmurou.

Asmus resistiu a vontade de virar a cabeça com o comentário ácido e certeiro. Não havia rumor algum sobre isso.

- Mas você se tornaria então? Mesmo para passar a eternidade como um cão? Tem tanto medo da morte assim?

- Não, senhor Asmus. Eu disse que gostaria e não que busco a imortalidade. - Lobo explicou gentil.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora