Magia e Máquina

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Agnes na mídia.
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Ao olhar para ela, Shivani se lembrou do que as mocinhas dos livros infantis precisavam passar para se tornar princesas. Elas se tornavam sapos ou estátuas de gelo, engoliam maçãs enveneneadas, aguentavam irmãs do mal e eram espetadas por rocas amaldiçoadas.

- Quem deixou ela sair da cela? - Perguntou a pirata, indiferente.

- Eu deixei. - O Capitão respondeu, ele estava com as mãos no leme. Shivani fez uma careta.

- Ela não vai ser problema meu. - Shivani começa.

- Por que não?

- Eu já tenho um dos seus monstrinhos para cuidar, sua relíquia de navio perturbada. - Ela cruza os braços, seus olhos encontrando a fumaça ainda alaranjada com uma felicidade velada. O Capitão levantou uma sombrancelha com o novo insulto.

- Nunca te passou pela cabeça que você é um dos meus monstrinhos? - O Capitão deu uma gargalhada com o rosto azedo que Shivani lhe mostrou. Ele riu para Agnes. - Ela não é como vocês.

Shivani a observou, a menina enxugava os olhos depois de ter chorado por vários desconhecidos que não se importariam com a situação de vida dela. Ela parecia uma garotinha tola e sonhadora. E gentil, estupidamente gentil.

- Não vou cuidar de um bebê. - Rebateu Shivani sem dar aberturas.

- Foi você que a trouxe. - Lembrou ele.

- Você a deixaria definhar numa ilha em cinzas? - Shivani foi incisiva.

- Se ela contribuiu para que minha ilha ficasse em cinzas, sim.

- Bom, eu também. - A pirata se aproximou da garota. - Mas nossa doce Agnes sabe mais do que aparenta e ela vale mais do que uma ossada seca numa ilha abandonada.

- Nossa, depois dessa eu me senti desvalorizado. - Asmus apareceu nas escadas do porão. Shivani não recarregara sua paciência o bastante para lidar com ele. Ela havia lhe dado um aviso que estava muito bem visível e memorável, cicatrizando em sua pele. Santo Kraken, pelo visto, o monstro não se importara.

- Os dois são sua responsabilidade. Afogue-a ou cuide dela, mas não enquanto ela está no meu navio. Nossa próxima parada é na curva do cabo, vai ter uma frota inteira atrás de nós por causa do que fizemos na Sede deles. Se sobrevivermos - O Capitão girou seus anéis nos dedos com uma risada. - Iremos para o Oriente e você fará o que quiser por um tempo.

O rosto da Sereia se iluminou.

- Desde que carregue esses dois comigo. - Ela adivinhou, murchando.

- Não quero ir com ela. - A voz frágil de Agnes chamou a atenção de todos, até dos outros marujos que manejavam as velas. - Eu preciso voltar, consertar as coisas, se eu me casar com o Governador, ele pode fazer um contrato, não sei, deixar os piratas em paz, vocês não precisariam se vingar.

Shivani se agachou perto dela com os olhos brilhando numa curiosidade malvada. - Nos deixar em paz? Você abriria mão da sua liberdade por isso?

Agnes a encarou com determinação, uma força que alguém pequena como ela não parecia ter. Ainda assim, era ridículo.

- Quando eu fugi, eu rastreei o lugar mais difícil de se encontrar de todos. Eu queria me esconder, sumir. Eu não queria que os homens do Mestre me seguissem. - Ouvir chamarem seu pai de "Mestre" deu arrepios em Shivani. - Mas ele mandou também os homens do Ditador. Eles me seguiram até sua Ilha e encontraram os piratas. Foi minha culpa. - Ela estava prestes a chorar novamente. Agnes não era egoísta, ela realmente voltaria, ela havia destruído muitas vidas enquanto fugira procurando salvar a sua. Ela não imaginava as consequências. Por um segundo, Shivani viu uma garota de olhos cinza, cabelos castanhos e nariz aquiliano no lugar dela.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora