Irmãos

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Aqui vai mais um pedacinho do passado do Asmus.
Desculpem o sumiço, esse mês está sendo maluco. Mas estou sentindo falta de vocês meus anjos.

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Eles foram acolhidos no templo com outros acólitos após a procissão do Sanrrokah. Eles cavalgaram pela cidade pela primeira vez usando roupas limpas e brancas, com campainhas de ouro nos cabelos trançados e garanhões pretos como a noite. As pessoas nas ruas tentavam tocar nas suas sandálias e pedir bençãos.

Era mais do que Asmus podia ter sonhado receber. O olhar de Aramis era orgulhoso e satisfeito, pela primeira vez em muitos anos, um brilho faminto piscava em seus olhos.

Eles se dirigiram ao palácio e ao templo abaixo dele. Asmus ficou maravilhado ao ver a lagoa criadora, de onde havia nascido Atlantis e para onde Atlantis voltaria um dia. Era um buraco azul profundo, mais reluzente que mil safiras. Eles foram apresentados às sacerdotisas como os protegidos do Sanrrokah: seus sucessores.

Asmus ainda não entendia como tudo aquilo tinha acontecido, o que o sacerdote esperava dele era algo que ele não sabia se podia cumprir. Os quartos dos garotos eram enormes, paredes brancas com desenhos azuis contando todas as histórias sagradas, camas com dossel e colunas de ouro.

- Nada mal. - Aramis ergueu uma sobrancelha passando a mão pelos lençóis de cetim.

- Vamos ver. - Asmus se jogou na cama, mas ela era tão macia e elástica que o lançou para o outro lado. Ele caiu no chão com um baque seco e Aramis soltou uma gargalhada.

Asmus adorava quando ele ria.

Eles passearam pelo templo. Havia muitas crianças andando pelos corredores, ajudando na cozinha, brincando nos jardins, acolhidas pelo templo para serem futuros acólitos e sacrifícios.

Asmus se perguntou porque eles nunca haviam sido encontrados antes. As pessoas na rua preferiam chutá-los como cães abandonados. Talvez fosse a sorte dele que os manteve longe... ou o azar do irmão.

A Criadora esperava por eles. A cúpula vazia com nada além do lago sagrado e longas colunas de mármore creme impecável.

Aramis se sentou no chão, na beira da água imperturbavel. Asmus o seguiu. Asmus teve a ousadia, quando certificou que ninguém estava olhando, de mergulhar as mãos na lagoa. Era difícil de acreditar, ele pensava, fitando a água cristalina, nunca mais serem perseguidos ou ficarem sozinhos, sem mais noites com nada para comer além de leite de cabra coalhado. Ele e Aramis na criação do mundo, com os braços cobertos de ouro e as mãos cheias de vida...

Ele sentiu um puxão atrás da cabeça. Como um instinto. O mesmo que o fazia escolher os números certos nos dias de apostas grandes.

- Drazhan. - Ele murmurou, a deusa do amor e das maldições. Ela quase nunca se encontrava em Atlantis, mas as estátuas dela se erguiam por toda a cidade, brilhando vermelhas no pôr do Sol.

- Sim, - Asmus deu um salto. A voz surgiu de detrás de uma coluna. - É surpreendente que tenham sentido minha presença.

Ela era estonteante. Lábios enormes, pintados de vermelho. Grandes orelhas avermelhadas. Cabelos que desciam cheios de cachos até o quadril largo e mal coberto pela renda que a vestia, tomando os ombros e os seios. A água escorreu pelos dedos do pequeno Asmus.

- Qual seu nome, garotinho? - Ela se aproximou de Asmus, segurando o queixo dele e analisando seu rosto. Aramis se levantou, rígido.

- Não é algo que você deve saber. - O mais velho murmurou, a voz endurecida. Drazhan se virou, os olhos penetrantes fixos nele. Era difícil encará-los. Asmus não conseguia decidir se ela era uma deusa da justiça ou não.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora