Vila Insanidade

75 17 2
                                    

Quando atracaram, eram o único navio marítimo do porto, os flutuantes estavam por toda a ilha, mal estacionados no ar e prestes a sair navegando com uma brisa qualquer.

Todos que o viram reconheceram o grande Navio Arcanjo, e a falta de tripulação.

Shivani mandou que Khrysaor ficasse no navio. Ela não podia arriscar perdê-lo. Colocou jóias nas cinturas, pescoços e mãos de todos até que eles parecessem os piratas mais ricos.

A Vila Insanidade era o lugar dos piores dos piores. Piratas baixos e sem classe que se vendiam até para os homens de Mangata, que traficavam ópio e raptavam crianças para escravidão. Ao contrário do Continente, em que mais jóias eram uma chance maior de ser roubado, ali tudo era prestígio. Havia pessoas de todos os lugares, piratas, comerciantes, meretrizes, damas, oficiais. Era todo o mar num único lugar.

O porto era um lugar sujo e mal iluminado, piratas bêbados caiam rindo ao som longinquo de música e risadas.

Asmus estava sorrindo, como se aquele fosse um lugar de boas memórias. Ele usava apenas um corsete cravejado de diamantes e calças largas. A cabeça de Ayumi estava em suas mãos, enrolada em nós como uma lamparina e maquiada como uma dama, Shivani preferiu não perguntar.

Agnes entrou em um dos poucos vestidos de Shivani, verde perolado como uma jóia. Ela parecia nervosa, mas ansiosa por estar com humanos como humana novamente.

Shivani atraiu a atenção de seu pequeno grupo. Ela usava suas melhores roupas de capitã, marrons e brancas, um chapéu largo de pontas amassadas e colares prateados, jóias de rosto que emolduravam suas feições e uma espada em sua cintura.

- Ouçam, bastardos. Não estamos aqui para jogos, nem para beber, cuidado com o que comem, e não quero ver nenhuma bunda levantada ou punho acertando a cara. - Ela cuspiu. - Vamos começar a buscar os novos marujos. Não quero almofadinhas e nem idiotas. Nem canibais.

- Então devia abandonar o navio. - Gargalhou Ayumi antes de ser chacoalhada por Asmus como uma bola numa rede.

- Respeito aos superiores, purpurina. - Ele estalou a língua. - Cabeça má, cabeça má.

Shivani abanou a mão, caminhando para o Tempestade Envenenada, o maior bar pirata que já existiu. Uma cova de ladrões e mentirosos, fanfarrões e brigões, e o melhor lugar para recrutar piratas. Ela esteve ali diversas vezes desde que entrou para o Arcanjo mas nunca sem o Capitão.

Ela virou para Agnes na entrada.

- Não desapareça, esses piratas não são como os meus. - Ela avisou entregando a cabeça da fada nas mãos dela e uma pistola. - Mantenha as mãos deles longe e isso aqui perto.

- Bom saber que sou o item de autodefesa dela. - Ayumi bufou.

- E eu o dela. - Asmus escorou em Shivani. - Bem vinda ao time.

- Hora de adotar alguns cães do mar. - Ela sorriu antes de abrir as portas do Tempestade como se fosse dona do lugar.

Diversas cabeças se voltaram em direção a eles, enquanto as outras estavam bêbadas demais para perceber. Os gritos eram altos e a música inundava o lugar com as vozes de marujos velhos. Uma moça curvilínea cantava no palco a música mais indecente já proferida. As várias garçonetes vestidas em saias bufantes passavam rápidamente pelos enormes corredores de mesas. Era um lugar com o burburinho de conversas e risadas, histórias inebriantes e convites promíscuos, mentiras e música e rum derramado.

Shivani desfilou reto até o palco, arrancando os aumentadores das mãos da cantora e projetando sua voz.

Asmus e Agnes com a cabeça de Ayumi se colocaram ao lado dela em meio aos sons de gritos e xingamentos.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora